Quase duas semanas após o Ministério Público Federal apresentar três denúncias contra 12 pessoas no âmbito da Operação Panatenaico, o meio político no Distrito Federal aguarda com ansiedade o teor dos documentos e a decisão da Justiça, que pode acatar ou rejeitar os argumentos do MPF. A expectativa é de que o Judiciário se manifeste nos próximos dias. Até lá, os ex-governadores Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), além do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB), permanecem em estado de alerta.
Há pouco menos de um ano, os três foram presos sob a acusação de desvios de recursos públicos nas obras do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Hoje, mesmo antes de a Justiça definir o futuro da Panateneico, os denunciados admitem que colhem frutos negativos devido ao envolvimento no escândalo. Segundo avaliam especialistas e os próprios políticos, a situação já impacta a movimentação que antecede as eleições de outubro no DF.
Tadeu Filippelli foi um dos primeiros a sofrer as consequências políticas da Panatenaico. Ao ser preso, perdeu o cargo de assessor especial do presidente Michel Temer (MDB) e o prestígio perante o governo federal.
Filippelli ainda era cotado como postulante para concorrer ao GDF, mas as suspeitas o fizeram recuar e divulgar a disputa para uma vaga na Câmara dos Deputados. Porém, nos bastidores, enquanto presidente do MDB-DF, continuou a articular fortemente um nome para disputar o posto de chefe do Executivo local.
Agora, em uma aliança com Jofran Frejat (PR), ele é o responsável por definir o pré-candidato a vice-governador. No entanto, já teve de rever a indicação do deputado federal Roney Nemer (PP), que enfrenta processos na Justiça. Uma sinalização de que problemas judiciais podem ser uma linha de corte, pelo menos na participação direta nas urnas.
Munição para rivais
A Panatenaico passa a ser arma forte na mão de opositores e até de aliados na barganha política. José Roberto Arruda, já envolvido no escândalo do Mensalão do DEM, se vê, mais uma vez, nas páginas policiais. Mesmo inelegível, não deixou de atuar nos bastidores. Aliado histórico de Frejat, ele participa da formação de uma das principais chapas para a disputa do Buriti.
Arruda trabalha para ver a mulher, Flávia Peres Arruda, na chapa de Frejat. Ela deve disputar o cargo de deputada federal, mas não está descartada a possibilidade de ser pré-candidata a vice-governadora, repetindo a dobradinha de 2014.
No caso de Agnelo, embora não admita candidatura em 2018, ele é lembrado por seus pares petistas como um quadro na nominata de deputado federal. Dois obstáculos, no entanto, tendem a afastá-lo das urnas.
Condenado em Corte colegiada por uso da máquina pública com o propósito de favorecê-lo na campanha para a reeleição, ele tenta, hoje, reverter sua condição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A depender da decisão da Justiça sobre a denúncia da Panatenaico, a situação de Agnelo se tornará ainda mais frágil.
“Desconforto”
Procurado pelo Metrópoles, Filippelli afirmou que é evidente o desgaste provocado. “Esse desconforto torna-se mais profundo ainda quando é causado por uma denúncia, cujo processo você nem teve acesso, vazada para a imprensa como se fosse uma condenação da Justiça. Acredito, portanto, que a população, com sua sabedoria na hora de julgar, não vai repetir essa injustiça”, disse.
Já Agnelo acredita que o objetivo da Operação Panatenaico é atingi-lo politicamente. “Primeiro, ocorreu um ato de absurda ilegalidade. Não se prende uma pessoa sem nenhum pendência com a Justiça, que está trabalhando e tem endereço fixo. Isso sem nenhuma prova”, afirmou.
Para o petista, a denúncia em ano eleitoral ocorre para provocar desgaste. “Nem nas delações há um relato sequer de favorecimento contra minha pessoa. Não há nada que prove ou me responsabilize por alguma ilegalidade. Vou me defender quando chegar na Justiça e tivermos acesso à denúncia”, afirmou.
A reportagem tentou entrar em contato com o ex-governador do DF José Roberto Arruda, mas não obteve resposta até a última atualização deste texto.
Especialista vê impacto negativo
O desgaste na imagem dos políticos, segundo acredita o cientista político e professor universitário Aurélio Maduro, será ainda mais sentida com a proximidade das campanhas. Realidade aferida em pesquisa de opinião encomendada pelo Metrópoles ao Instituto Dados em dezembro do ano passado. Na ocasião, a sondagem apontou que 82,7% dos entrevistados não votariam no trio preso na Panatenaico.
“A primeira consequência de denúncias como essa é a desistência de candidaturas. Essas questões serão usadas agora e durante a campanha, principalmente nas redes sociais. A tendência é que rivais façam e divulguem ‘memórias” dos esquemas de corrupção”, afirma.
A denúncia
De acordo com o MPF, os três políticos teriam recebido R$ 16,6 milhões em propina na obra do Mané Garrincha. Os documentos, baseados nas delações premiadas de ex-executivos das empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht, apontam que Agnelo teria embolsado R$ 6,495 milhões; Arruda, R$ 3,92 milhões; e Filippelli (MDB), R$ 6,185 milhões.
O dinheiro, conforme as diligências, foi repassado de diversas formas: doações partidárias para igrejas, compra de bebidas e ingressos da Copa do Mundo de 2014, em espécie; e camisas de time de futebol.
Confira a lista dos 12 denunciados pelo MPF:
Agnelo Queiroz: ex-governador do DF
Tadeu Filippelli: ex-vice-governador do DF
José Roberto Arruda: ex-governador do DF
Maruska Lima de Sousa Holanda: ex-diretora de Edificações da Novacap e ex-presidente da Terracap
Nilson Martorelli: ex-presidente da Novacap
Fernando Queiroz: proprietário da Via Engenharia
Jorge Luiz Salomão: operador de Agnelo
Sérgio Lúcio Silva de Andrade: operador de Arruda
Afrânio Roberto de Souza Filho: operador de Filippelli
Luiz Carlos Alcoforado: ex-advogado de Agnelo, teria recebido propina destinada ao petista
Wellington Medeiros: ex-desembargador e advogado, teria recebido propina para Arruda
Rogério Nora de Sá: ex-presidente de Construção Brasil da Andrade Gutierrez e ex-presidente da AG América Latina