Candidatos a vagas nos legislativos local e federal, esposas, filhos, netos e até uma nora pretendem substituir antigos nomes da política candanga, impedidos de concorrer por causa de doença e, em sua maioria, problemas com a Justiça
Eles integram clãs que mantiveram o domínio político do Distrito Federal por décadas e, à luz do espólio eleitoral dos parentes, querem ganhar nas urnas neste ano. Na linha de sucessão, pretendem substituir pais, avós, tios e maridos que se afastaram do alto escalão por problemas judiciais, imbróglios no Legislativo ou quadros delicados de saúde. A promoção das pré-candidaturas está a todo vapor há meses nas ruas e em redes sociais. Com o negócio de família, os herdeiros visam garantir, de geração em geração, a permanência dos sobrenomes no poder.
Cinco postulantes podem representar a família Roriz nas urnas para manter o legado do patriarca. Diagnosticado com Alzheimer, o ex-governador está afastado da política por conta de complicações na saúde. O neto, que carrega o mesmo nome e é filiado ao Pros, concorrerá a deputado federal pela segunda vez — em 2014, em uma campanha curta, garantiu 29.481 votos.
Desta vez, a divulgação das pretensões começou mais cedo. Em uma publicação no Instagram, ontem, por exemplo, Joaquim Roriz Neto fez menção ao número de desempregados no DF e usou o tom eleitoral. “Na época do meu avô, Brasília era o maior canteiro de obras da América Latina. A economia pulsava. Portanto, quero dizer essa mensagem de esperança: dias melhores virão”, profetizou, em uma inserção de 42 segundos. Na urna, como em 2014, deve exibir o nome idêntico ao do avô, sem registrar que se trata de outro Roriz, o neto.
Mulher do ex-chefe do Palácio do Buriti, Weslian Roriz (PMN) é cotada para disputar o Senado na chapa encabeçada por Eliana Pedrosa (Pros). Ela testou o eleitorado em 2010 como candidata ao Executivo local. À época, o marido, que havia renunciado o mandato de senador em 2007 para escapar de um processo de cassação, abriu mão do pleito devido à incerteza jurídica. A filha dela, a distrital Liliane (Pros), pode ficar com a vaga ou pleitear a suplência. Para isso, porém, precisa reverter a inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Fora do núcleo, devem disputar cadeiras na Câmara Legislativa dois sobrinhos do ex-governador, Paulo e Dedé Roriz.
No período estipulado pela lei eleitoral, os dois filhos do empresário e ex-vice-governador Paulo Octávio (PP) assinaram a ficha de filiação à sigla do pai. Bisnetos do ex-presidente Juscelino Kubitschek e empresários, André e Felipe são vistos como potenciais sucessores da família, cujas raízes vêm da política. O patriarca Paulo Octávio postula uma vaga ao Senado na chapa do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR). Há, contudo, incertezas sobre a viabilidade da candidatura. O empresário ficou por quase duas semanas à frente do GDF em 2010, quando o ex-governador José Roberto Arruda (PR) deixou o posto devido à Operação Caixa de Pandora. Pressionado pelos indícios de irregularidades que chegavam ao seu nome e pelo próprio partido, à época o DEM, ele renunciou para evitar um eventual processo de cassação. Portanto, corre o risco de ter o registro negado às vésperas das eleições.
Sucessores de réus
Réus na Justiça Federal pelo superfaturamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, o ex-governador Arruda e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB) também pretendem alavancar familiares no poder. O primeiro está inelegível e constrói a candidatura a deputada federal da esposa, Flávia Arruda (PR). A ex-primeira-dama, porém, garante que o cenário ainda está em aberto. “Ainda não tomei uma decisão, porque avalio questões pessoais e familiares. Penso nas minhas filhas. Não há um prazo estipulado para emitir o posicionamento. Mas sempre fui muito atuante e, sem dúvidas, o nome do Arruda tem peso”, apontou.
Flávia se submeteu às urnas pela primeira vez em 2014. Naquele ano, ela assumiu o posto de vice de Jofran Frejat, porque Arruda deixou o pleito depois de ter o registro cassado pelo TSE. Flagrado em uma gravação feita pelo delator da Pandora, Durval Barbosa, o ex-governador havia sido condenado por improbidade administrativa.
Postulante a uma cadeira na Câmara dos Deputados, Filippelli aposta na pré-candidatura a distrital da nora, Ericka. A presidente do MDB Mulher costuma acompanhar o ex-vice-governador em eventos de cunho político e aparece constantemente nas publicações dele em redes sociais. A mais recente delas mostra uma foto dos dois em um encontro na Fercal com lideranças comunitárias. Ericka é diretora de Articulação e Fortalecimento Institucional na Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres.
Filho do ex-senador Gim Argello, preso desde abril de 2016 por vender facilidades na CPI da Petrobras a empresas investigadas na Operação Lava-Jato, o empresário Jorginho Argello filiou-se ao PRB para entrar no páreo por uma vaga no Legislativo local. Ele participará das eleições pela primeira vez.
Herdeira do ex-distrital Benedito Domingos, a pré-candidata a distrital Bena Domingos (PTC) representará a família nas urnas. Em 2014, ela tentou chegar à Câmara dos Deputados, mas, com 8.027 votos, não foi eleita. “Será uma campanha pela renovação. Temos de cobrar do Executivo local ações para melhorias no setor prioritário”, disse o presidente regional do partido, Divino Omar.
Benedito está afastado da política e cumpre prisão domiciliar devido a condenações por fraude à licitação e corrupção passiva. Segundo a denúncia, o ex-parlamentar fechou um acordo com o Palácio do Buriti para a compra de enfeites para a decoração do Natal da empresa do filho.
A prole do ex-senador Luiz Estevão, preso na Papuda há dois anos pelos desvios milionários nas obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, por outro lado, controla o PRTB-DF. Fernanda Meireles, filha do empresário, preside a sigla, que tem candidatos ao GDF, ao Senado e às câmaras Legislativa e dos Deputados. São os braços de Estevão, proprietário do portal Metrópoles.
Câmara Legislativa
Dois distritais conseguiram, em 2014, vagas na Câmara Legislativa com o apoio das bases eleitorais de familiares: Ricardo Vale (PT) e Rafael Prudente (MDB). Eles pretendem repetir a dose neste ano. O petista herdou o espólio depois de o irmão, Paulo Tadeu, deixar a política para assumir uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do DF (TCDF). Ricardo elegeu-se com 14.223 votos e aposta em bandeiras de minorias para crescer na política. Rafael, por sua vez, é filho de Leonardo Prudente, conhecido pelo vídeo em que aparece guardando dinheiro nas meias, descoberto na Caixa de Pandora. Ele conquistou o apoio de 17.581 eleitores no último pleito.
Filho do ex-distrital Raad Massouh, o pré-candidato Raad Massouh Júnior (PSDB) pretende conquistar uma vaga no Legislativo local. Em 2013, o pai teve o mandato cassado pelo suposto desvio de emenda parlamentar no valor de R$ 47 mil para a realização de show em Sobradinho. Neste ano, contudo, o patriarca foi absolvido das acusações na Justiça. “No dia em que tomei posse na Câmara, ele, com roupa e gravata iguais às minhas, disse que, em 2018, seria distrital como eu. Foi uma profecia. Com a prova de que sou inocente, ele tem ganhado ainda mais apoio”, disse o ex-parlamentar.