Apenas 3 dos 24 parlamentares respondem por metade da riqueza. Ao todo, eles guardam até R$ 385 mil em dinheiro vivo.
Os 24 deputados distritais na Câmara Legislativa declararam à Receita Federal, no Imposto de Renda deste ano, um patrimônio total de R$ 30.648.208,69. O montante representa uma média de R$ 1,27 milhão para cada parlamentar.
A maior parte dos bens declarados se refere a imóveis, cotas de empresas, contas bancárias e investimentos. No entanto, alguns pontos chamam a atenção, como a quantidade de dinheiro vivo carregada pelos deputados.
Cristiano Araújo (PSD), considerado “falido” pela Justiça, afirmou à Receita que carrega cerca de R$ 385 mil em dinheiro vivo. O G1 aguarda resposta do deputado sobre o valor declarado.
Também do PSD, Robério Negreiros declarou que guarda o equivalente a R$ 18,7 mil em euros e R$ 9,9 mil em dólares. O dinheiro está com ele há pelo menos dois anos. O G1 tenta retorno do deputado sobre o assunto.
Herdeira política do ex-governador Joaquim Roriz, Liliane Roriz (Pros) disse ter à disposição R$ 262,6 mil também em “cash”. Ela explicou que “foi juntando”, e que sempre declarou o dinheiro.
Correligionária de Liliane, a distrital Telma Rufino declarou guardar R$ 225 mil em espécies. Segundo a assessoria, o dinheiro vem de um empréstimo no BRB e foi declarado de forma errada.
Em vez de ser inscrito como patrimônio, deveria ser considerado como dívida. “O contador da deputada irá fazer uma declaração retificadora”, disse a equipe dela após a reportagem.
‘Desigualdade’
Os três distritais mais ricos (veja lista abaixo) respondem, sozinhos, por praticamente a metade do patrimônio acumulado por todo o grupo. Agaciel Maia (PR), Liliane Roriz (Pros) e Wellington Luiz (MDB), juntos, têm R$ 15.128.245,64 declarados – 49,3% do total.
Na outra ponta da tabela, os três parlamentares de menor patrimônio reúnem pouco mais de R$ 168 mil. O “mais pobre” de todos é o Professor Israel Batista (PV). O único bem dele em 2016 era um carro, de R$ 72,9 mil. Como ele se separou, deixou o veículo para a ex-mulher. Isso faz com que ele apareça com tudo zerado, afirmou a assessoria do distrital.
Maior devedor
O evangélico Rodrigo Delmasso (PRB) se deu bem no ano passado, e lidera as estatísticas de “enriquecimento”. O patrimônio dele cresceu 823% entre 2016 e 2017: foi de R$ 1.265 para R$ 11.682.
Por outro lado, ele também é o maior devedor do grupo, com uma dívida acumulada (referente a um empréstimo no Banco do Brasil) em R$ 180 mil – que cresceu 50% entre um ano e outro.
O deputado disse que a variação de patrimônio ocorreu porque “mudou a data de vencimento do cartão de crédito”. Quanto à dívida, declarou que parte foi para financiar a campanha, e que já está quitando o valor.
Confira a tabela do patrimônio declarado pelos deputados distritais à Receita Federal:
Patrimônio dos deputados distritais
Deputado | Patrimônio em 2016 | Patrimônio em 2017 | Variação |
Agaciel Maia | R$ 7.604.054,72 | R$ 8.247.334,51 | 8,46% |
Liliane Roriz | R$ 4.025.532,03 | R$ 4.108.411,13 | 2,06% |
Wellington Luiz | R$ 2.136.500,00 | R$ 2.772.500,00 | 29,77% |
Rafael Prudente | R$ 2.701.745,32 | R$ 2.743.906,83 | 1,56% |
Chico Leite | R$ 1.660.192,58 | R$ 1.772.097,13 | 6,74% |
Robério Negreiros | R$ 1.655.339,85 | R$ 1.627.513,01 | -1,68% |
Telma Rufino | R$ 1.119.000,00 | R$ 1.299.000,00 | 16,09% |
Luzia de Paula | R$ 785.140,67 | R$ 968.657,84 | 23,37% |
Joe Valle | R$ 932.497,35 | R$ 956.855,38 | 2,61% |
Wasny | R$ 641.551,43 | R$ 789.212,69 | 23,02% |
Reginaldo Veras | R$ 708.000,00 | R$ 713.000,00 | 0,71% |
Juarezão | R$ 700.000,00 | R$ 700.000,00 | 0,00% |
Cristiano Araújo | R$ 600.229,00 | R$ 687.022,27 | 14,46% |
Celina Leão | R$ 649.993,23 | R$ 651.965,44 | 0,30% |
Ricardo Vale | R$ 570.004,08 | R$ 586.839,71 | 2,95% |
Bispo Renato | R$ 423.999,54 | R$ 477.487,98 | 12,62% |
Raimundo Ribeiro | R$ 397.006,55 | R$ 433.289,00 | 9,14% |
Júlio Cesar | R$ 419.440,25 | R$ 403.548,80 | -3,79% |
Chico Vigilante | R$ 193.023,48 | R$ 193.025,08 | 0,00% |
Sandra Faraj | R$ 265.215,06 | R$ 175.277,95 | -33,91% |
Claudio Abrantes | R$ 172.500,00 | R$ 172.500,00 | 0,00% |
Lira | R$ 28.500,00 | R$ 157.081,47 | 451,16% |
Rodrigo Delmasso | R$ 1.265,59 | R$ 11.682,47 | 823,08% |
Professor Israel | R$ 72.994,19 | R$ 0,00 | -100,00% |
Conferência
A declaração de bens é um dos documentos apresentados pelos candidatos no registro feito na Justiça Eleitoral. A aprovação das contas é um dos requisitos para a concessão do registro, ainda no início da campanha. Todo ano, a declaração dos deputados é publicada no Diário da Câmara Legislativa.
Em 2009, o então diretor-geral do Senado e hoje distrital reeleito, Agaciel Maia, foi acusado de esconder do Fisco uma mansão avaliada em R$ 5 milhões. A investigação iniciada a partir dessa denúncia levou ao escândalo dos “atos secretos” – boletins e decisões administrativas colocados em vigor sem a publicação em Diário Oficial.
À época, Agaciel afirmou que o imóvel foi comprado em 1996 e registrado em nome do irmão João Maia – então deputado federal pelo Rio Grande do Norte – porque seus bens estavam indisponíveis no momento da transação.
Em seguida, o político corrigiu a declaração dada à imprensa, e disse ter relacionado a mansão em seu imposto de Renda, mas “optado” por não transferir a escritura porque era um “negócio familiar”.
Nesta mais recente declaração, ele afirmou ter imóveis e propriedades rurais na Paraíba e no Rio Grande do Norte.