Mulheres podem chegar à metade do público de pilotos do Brasília Capital Moto Week, mas ainda lutam para serem respeitadas nas ruas e na própria comunidade. Hoje, o evento promove o Dia do Protagonismo Feminino
O universo do motociclismo está mudando. O número de mulheres que pilotam cresce a cada ano, e isso fica claro no Brasília Capital Moto Week. Os motoclubes tradicionais, que só aceitam homens, permanecem, mas dividem espaço com outros, só delas, e com grupos mistos. A presença feminina influenciou diretamente a programação do evento, que abre, hoje, o Dia do Protagonismo Feminino.
A história da motociclista Bruna Mendes Lopes, 20 anos, ilustra essa transformação. Ela anda sobre duas rodas desde os 18, integra o Let’s Go Riders Motoclube, composto por seis homens e seis mulheres, e conduz uma Intruder que pesa cerca de 200kg. Aprendeu tudo sobre a cultura com a mãe, Inês Mendes, 43, que preside a pequena irmandade.
Bruna frequenta o evento com a mãe desde os 8 anos e transita com naturalidade em um universo que, até pouco tempo, era predominantemente masculino. No colete, ostenta o nome e o emblema de uma das bandas prediletas: o Led Zeppelin.
Ela se irrita quando perguntam se quer vender a moto. “É um universo que também é meu. Cresci nele. Andava de bicicleta no meio dos clubes quando era pequena. Àquela época, o Medusas era o motoclube de mulheres que mais se destacava. Acho que não tem mais espaço para ter preconceito com as motociclistas. O mundo está mudando”, afirma.
A jovem diz ter sofrido mais preconceito no dia a dia que entre motociclistas. Inês também coleciona algumas histórias de desrespeito, mas é da opinião de que a mudança não tem mais volta. Elas conquistaram um espaço próprio. Era casada com um motociclista, mas só andava na garupa, prática comum entre os grupos mais tradicionais. Mas tudo mudou com o divórcio. “O casamento acabou, mas o amor pelo motociclismo permaneceu. Foi uma libertação. A moto foi uma forma de enfrentar aquela situação”, recorda.
Ela explica que situações de preconceito com a mulher motociclista são mais comuns no dia a dia, mas as sofridas entre os pares são as mais marcantes. “Quando acontece no nosso meio, é pior. Na mais marcante, estava com dificuldade de empurrar minha moto e um amigo veio ajudar. Como eu já ajudei outras pessoas. Homens e mulheres. Mas uma terceira pessoa olhou feio. Disse que se eu tinha inventado de andar de moto, tinha que me virar. Retruquei e, hoje, quando essa pessoa me vê, atravessa a rua”, sorri. “Há 30 anos, era preciso ser combativa para conquistar espaço. Hoje, é mais simples”, pondera.
O número de motociclistas do sexo feminino no Brasília Capital Moto Week aumentou expressivamente com o passar dos anos. Para se ter uma ideia, até 2016, a proporção era de 70% de homens e 30% de mulheres. No ano passado, os pilotos do sexo masculino ainda eram maioria, mas com 56%, contra 44%. A expectativa é de que, na 15ª edição, as mulheres sobre duas rodas se equiparem aos homens, comprovando o valor do maior símbolo desse estilo de vida, a caveira, cujo significado é igualdade.
Uma das organizadoras do evento, Juliana Jacinto celebra a conquista. “Montamos um grupo grande de mulheres para debater as necessidades. Daí nasceu, por exemplo, o espaço Lady Bikers. Um local de troca de histórias e experiências, mas que também tem lojas e um salão. Porque também não temos problema de falar de vaidade. Somos vaidosas. Só que não somos frágeis. Para comemorar os 15 anos de Brasília Moto Week, decidimos falar de pessoas, fortalecer a ideia de igualdade. Isso é promover a liberdade, o respeito”, destaca.
O motoclube Mulher e Moto congrega 230 motociclistas do sexo feminino do Distrito federal e Entorno. Algumas integrantes do grupo participavam, vestidas de super-heroínas, de um dia de atividades com crianças carentes que visitaram o Brasília Capital Moto Week. A presidente e fundadora da organização, Tabata Lobo, 30, explica que é um grupo diverso, com membros de idades entre 18 e 60 anos. “Eu quis criar um grupo de motociclistas para quebrar esse tabu, que mulher tem que andar na garupa ou que não pode ter moto. Eu me via em um universo que eu gostava, me identificava, mas não tinha espaço”, explica.
Ela e outras integrantes já sofreram discriminação de motociclistas, mas não se deixam abalar. As amigas Rosilene Barbosa, 35, e Pâmela Vasconcelos, 29, têm respostas para os inconformados na ponta da língua. A primeira, mãe de quatro filhos, conta que, há três dias, um homem se aproximou das motos do grupo e insinuou que seriam de plástico, por não serem personalizadas. A segunda, com 1,56m, vez por outra ouve uma piada com o seu tamanho em comparação ao da moto, uma Kawazaki Ninja 300. “Me perguntam se eu aguento carregar. Respondo que não carrego, piloto.”
Destaque na América Latina
O Brasília Capital Moto Week ocorre na Granja do Torto e está na 15ª edição. O evento é considerado o maior encontro de motociclistas da América Latina, e ocupa uma área de 250 mil metros quadrados. A expectativa é de que 680 mil pessoas compareçam aos 10 dias de festa, entre 19 e 28 de julho.
Anote
Confira a programação do Dia do Protagonismo Feminino no Brasília Capital Moto Week:
Palco principal
Batalá e Beatriz Sousa — 19h20Kid Cegonha 20hWomen in rock — 21h45Diamond Rock — 23h45
Rock Saloon
Audio Hitz — 23hSol Leles — 1h30Barbearia — das 16h à 1hSinuca — das 16h às 3hBar — das 16h às 3h
Outras atrações
Vila do Agricultor Familiar e Artesãos — das 9h às 16hMoto Bar — das 10h às 4hBSB Mix — das 16h às 22hPrimeiro Bar — das 16h às 3h
Globo da Morte — às 21h30
Fonte: Correio Braziliense