Crescimento do PSL, derrota de caciques e derrocada de legendas, como MDB e PSDB, pegou marqueteiros e cientistas políticos de surpresa. Avaliação é de que a crise econômica pesou no resultado das urnas
Os partidos tradicionais sobreviveram ao julgamento do mensalão, em 2012, às manifestações de rua, um ano depois, e às primeiras denúncias da Lava-Jato, ainda em 2014. Mas acabaram derrubados no último dia 7 por uma eleição sem precedentes na história política brasileira. Apesar de uma ou outra resistência em determinados estados, a mudança de votos abalou as legendas para além de uma simples troca de poder nos executivos e nos legislativos. A queda de figuras emblemáticas e o arrasto de votos no PSL, o partido do presidenciável Jair Bolsonaro, pegou de surpresa políticos, marqueteiros e cientistas políticos. Uma semana depois do vendaval, o Correio tentou buscar algumas respostas para explicar as quedas no primeiro turno.
“O discurso contra tudo e todos funcionou e atingiu diretamente o sistema político tradicional brasileiro”, afirma o professor Ivo Coser, coordenador do grupo de teoria política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A crise econômica, seguida do desemprego de 13 milhões de pessoas, é considerada um dos componentes para a implosão dos partidos. “Foi como jogar gasolina no fogo aceso pelo eleitor com as denúncias contra os políticos e as manifestações”, diz Coser. Tal qual um acidente de avião, há uma série de fatores combinados para a queda dos partidos políticos nas eleições de domingo. O problema é que nenhum político parece ter se preparado, mesmo com todos os sinais das mudanças.
Surpresa
Os números do déblâcle dos partidos desmentiram as análises de cientistas políticos, que insistiam na tese de baixa renovação no Congresso. O MDB, partido do presidente Michel Temer, por exemplo, acabou o primeiro turno com menos 32 deputados, restando apenas 34 políticos a partir do próximo ano. O PSDB, que quase venceu a disputa pelo Palácio do Planalto em 2014 e se elegeu agora com uma votação considerada baixa, perdeu 25 cadeiras, restando 29. A onda varreu ainda 15 do PTB, cinco do PSC e quatro do PV. O PT ficou com 13 a menos, mas, ainda assim, terminou o jogo com a maior bancada.
A surpresa veio com o crescimento robusto do PSL. O partido saiu de um deputado eleito em 2014 e foi a 52 no domingo passado. “Apenas com a eleição para a Câmara já seria possível notar o crescimento de um discurso contra tudo”, afirma José Almino de Alencar, doutor em sociologia pela Universidade de Chicago e presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa. “É como se tivesse havido um plebiscito sobre o autoritarismo, algo inédito, pois em 1964, no golpe, não houve consulta”, destaca ele, ao falar de Bolsonaro e do desempenho do PSL.
A eleição da bancada da segurança é um exemplo. Ao todo, 72 militares conseguiram vagas nas assembleias estaduais e na Câmara dos Deputados, além do Senado. “É importante notar que os dois principais partidos durante 22 anos no Brasil, o PT e o PSDB, perderam espaços, apesar de uma certa resiliência dos petistas”, afirma Almino. “Isso não deixa de ser uma extensão do discurso de Paulo Guedes (o guru econômico de Bolsonaro), que sempre acreditou que os dois partidos apresentam o mesmo conteúdo programático”, diz o sociólogo. Além da perda de quadros, os partidos viram nomes de peso serem derrotados nas urnas.
Entre os candidatos com eleições em tese garantida estavam Dilma Rousseff (PT), Bruno Araújo (PSDB) e Romero Jucá (MDB). “Tivemos conjuntura contra a política. O que o Ministério Público com o (Rodrigo) Janot fizeram com os outros órgãos foi uma condenação da política, de véspera. Foi um linchamento sem julgamento. Eu eventualmente fui atingido por isso, mas não foi o determinante para a eleição em Roraima. O determinante foi a conjuntura grave que o estado está passando e, portanto, essa situação de mau humor que estava toda a população”, afirma Jucá.