Na versão brasiliense da obra Clôture de l’amour, de Pascal Rambert, a peça Encerramento do amor, do diretor Diego Bresani, foi a única estreia local do festival Cena Contemporânea, em setembro. A ideia da adaptação local veio da atriz Ada Luana, do grupo Setor de Áreas Isoladas, que contou com o apoio de Bresani e do ator João Campos.
Em outubro, para a comemoração dos 15 anos da Cia. Nós no Bambu, o espetáculo brasiliense O vazio é cheio de coisa teve como principal característica deixar o público livre para dar várias interpretações ao que é apresentado no palco, assim como em várias peças da companhia.
Um dos mais antigos grupos de circo teatro contemporâneo do Brasil, fundado em Brasília em 1982, o Circo Teatro Udi Grudi promoveu em dezembro o espetáculo cômico familiar O Cano. Inspirado no tradicional número circense Excêntricos musicais, três palhaços viveram em cena situações absurdas e inusitadas, brincando com a relação entre a música, feita de maneira não convencional, e o clown, um ser cômico e poético.
Muitas risadas
O humor invadiu a capital com peças que, além de trazer boas gargalhadas, também foram marcados por trazerem questões reflexivas. Um dos destaques foi o espetáculo O Rei do Mundo — Uma comédia sobrenatural, estrelado pelo ator Eduardo Sterblitch, que contracenou com com a esposa, a atriz Louise D’Tuani, e com os atores Diego Becker, Claudinei Brandão e Thiago Brianti. Com tons de acidez e dramaticidade, contou a história do mentiroso, egoísta e irresponsável Pedro Peregrino, que tenta de tudo para ser rico e poderoso.
Em fevereiro, um dos mais importantes textos de Timochenko Wehbi, Palhaços recebeu uma montagem estrelada pelo eterno trapalhão Dedé Santana, acompanhado do ator Fioravante de Almeida, sob a direção de Alexandre Borges. A tragicomédia contou a história de um palhaço que tem a sua rotina alterada ao se deparar com um espectador no camarim e faz com que ambos questionem a vida e a própria existência.
E, para compor o time de estrelas do humor, Nany People chegou em Brasília com o espetáculo Minhas verdades, provocando risos e reflexões ao soltar o verbo e revelar de maneira irreverente as situações que vivenciou ao longo de sua trajetória — bem como o primeiro beijo, a primeira transa e a transição de gênero.
Cena inclusiva
Um dos maiores movimentadores do teatro da capital foi a 19ª edição do Cena Contemporânea, que ocorreu em setembro. O festival trouxe um total de 30 espetáculos aos teatros do Distrito Federal, nos quais questões contemporâneas invadiram a dramaturgia. Como o próprio nome do festival indica, o Cena Contemporânea teve como característica representar a atualidade. Dos espetáculos, nacionais e internacionais, pelo menos sete representaram assuntos, como imigração, intolerância e os diferentes tipos de relações humanas.
Uma destas questões foi tratada na peça do Coletivo Errática. Ramal 340: Sobre migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora nasceu de uma pesquisa de linguagem com dramaturgia autoral e processos colaborativos sobre os movimentos humanos no mundo: imigrações e emigrações.
Já o espetáculo Ícaro contou a história da vida do ator Luciano Mallmann, que sofreu uma lesão medular e o deixou de cadeira de rodas, e que foi a inspiração para que ele escrevesse e protagonizasse o monólogo, em cartaz desde 2017. Mallamann, sozinho no palco, interpretou seis cenas, cada uma com um personagem diferente sob direção de Liane Venturella.