Caravanas organizadas por apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, se preparam para começar o trajeto até a capital federal. Eles estarão entre os 500 mil esperados na posse, em 1º janeiro, evento que colabora com a alta taxa de ocupação nos hotéis
A capital federal ganhará o centro das atenções nos próximos dias devido à cerimônia de posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) aguarda 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, em 1º de janeiro, para a solenidade — caso a estimativa se confirme, o capitão da reserva ultrapassará o recorde de Luiz Inácio Lula da Silva, registrado em 2003, quando 200 mil se reuniram em frente ao Palácio do Planalto para vê-lo receber a faixa presidencial pela primeira vez.
Como parte dos simpatizantes mora em outras unidades da Federação e chegará ao Planalto Central em caravanas ou voos comerciais, a movimentação impulsionará o segmento hoteleiro. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (ABIH-DF), a taxa de ocupação nos estabelecimentos já supera o índice de 70%.
Há registros de saídas de caravanas programadas pelos quatro cantos do Brasil. De Porto Alegre, o relações públicas de casas noturnas Sílvio Melo, 42 anos, organiza a viagem de entusiastas de oito cidades distintas — a própria capital do Rio Grande do Sul, Florianópolis, Balneário Camboriú (SC), Maringá (PR), Ponta Grossa (PR), Campinas (SP), São Paulo e Rio de Janeiro.
Ao todo, cerca de 4,8 mil pessoas enfrentarão até 2 mil quilômetros de distância, entre 28 e 30 de dezembro, para prestigiar a cerimônia. “São grupos dos mais diversos. Fizemos pacotes simples que vão de R$ 300 até luxuosos, que saem por R$ 1,5 mil. Nós, da organização, não recebemos dinheiro algum para fazer as caravanas, tampouco apoio político”, frisa Melo.
Consultor dos apoiadores de diversos estados, Shil Luiz, como é conhecido nos grupos, tem a atribuição de reservar os ônibus e fechar a estadia dos viajantes em hotéis. A maior incerteza quanto à logística da viagem está relacionada ao local de estacionamento dos ônibus que transportarão os apoiadores de Bolsonaro, dadas as recorrentes tentativas, sem sucesso, de contato com o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF).
Ao Correio, o diretor-geral do órgão, Silvain Fonseca, informou que o departamento não programou, na operação especial para a posse, a reserva de espaço para a parada de veículos, mas destacou que há espaço para os coletivos na capital, como o Estádio Mané Garrincha e a Granja do Torto. “Tem lugar, sim, para estacionar os veículos sem dificuldade”, destaca.
Militante na campanha do capitão da reserva, apesar de não ser filiada ao PSL, a moradora de Recife Nayane Silva, 27, decidiu prestigiá-lo, também, na data da posse. A representante comercial reuniu 50 pessoas que chegarão à capital em 31 de dezembro — o ônibus ainda fará uma parada em Maceió. “Estão todos muito ansiosos e com um sentimento de dever cumprido”, ressaltou.
Movimentação
Entusiasta do presidente eleito na capital paulista, André Luiz Magri, 52, iniciará, em 28 de dezembro, viagem para acompanhar a posse. Os 1.010 km de estrada serão rodados em dois dias. “Somos um grupo de campistas que se reúnem em vários lugares, viajando pelo país. Vamos em quase 20 pessoas para Brasília, uma adesão baixa para os 500 integrantes do grupo no país todo”, destaca o coronel da Polícia Militar de São Paulo.
A ideia inicial era estacionar os carros-casas no Parque da Cidade, mas a falta de infraestrutura para receber os automóveis dificultava a estadia no local. O melhor local encontrado foi o Brasília Hostel, que improvisa um espaço para a prática de camping. “Como muitos trailers são autossuficientes apenas por um tempo, com caixas d’água e placas solares, a gente precisa se estabelecer em lugares que nos atendam no abastecimento de água e energia, se a gente ficar mais tempo. O camping nos atende, de certa forma”, indica.
Para garantir a segurança nas estradas e reforçar as abordagens a ônibus interestaduais com destino ao evento, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) inicia, no sábado, a Operação Potissumum. “O objetivo é intensificar as ações de repressão e prevenção ao crime em geral e aos crimes de trânsito”, informou a assessoria da corporação, em nota.
O Consórcio Novo Terminal — administrador da Rodoviária Interestadual de Brasília — prevê que 80 mil passageiros passem pela unidade de 27 de dezembro a 2 de janeiro, entre chegadas e partidas. A estimativa é 10% maior que a quantidade de passageiros transportados no mesmo período do ano passado. Para atender a demanda, foram necessários 100 carros extras
Houve alta, ainda, no número de bilhetes aéreos comprados para o Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitscheck. Conforme a Inframerica, que administra a unidade, ao fim de dezembro, a expectativa é de que 4% a mais de passageiros tenham passado pelo local, em comparação ao mesmo período do ano passado.
De 30 de dezembro a 2 de janeiro, faturaremos algo em torno de R$ 100 mil. Nos outros anos, fazíamos R$ 8 mil por dia, em média”, Fernando Kanbara, gerente de hotel (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press) Alta de preços
Justamente pela chegada de muitos moradores de outras unidades federativas, a procura por estadia na capital federal cresceu significativamente, e o preço do aluguel dos 145 hotéis do DF aumentou. Segundo o site de reserva Booking.com, o valor médio da diária para o Natal deste ano era de R$ 192; no réveillon, o preço salta para R$ 358. A cidade também é o quarto destino mais procurado de acordo com a página, atrás dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Apenas de 30 de dezembro a 2 de janeiro, faturaremos algo em torno de R$ 100 mil. Nos outros anos, fazíamos R$ 8 mil por dia, em média”, relata Fernando Kanbara, gerente do hotel Mercure Brasília Líder.
A expectativa também é alta para os funcionários do hotel Kubitschek Plaza, que conta com mais de 50% dos 390 quartos reservados para 31 de dezembro. Um funcionário relatou que, nos dias após a vitória de Bolsonaro nas eleições, o telefone não parava de tocar com pedidos de reserva.
O setor espera que os números positivos do fim de ano extrapolem os limites do ramo hoteleiro e afetem a economia de outras áreas ligadas ao turismo, segundo a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Adriana Pinto. “Com este cenário, sabemos que toda a cadeia produtiva ganha: restaurantes, bares, shopping”, avalia.
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana afirmou que, com a lotação de hotéis, o ramo comercial terá alta na arrecadação. “A mudança de governo sempre atrai visitantes para a cidade. Não há como dimensionar o impacto exato, mas, automaticamente, o potencial de vendas cresce”, explica.
Histórico
Número de pessoas presentes nas cerimônias de posse presidencial