Essas são algumas soluções apresentadas por cientistas que buscam amenizar os impactos do material sintético ao ambiente. Pesquisadores brasileiros apostam em vegetais abundantes no país, como o milho e a mandioca
Um dos maiores entraves no combate ao acúmulo de plástico é a falta de substitutos à altura. De fácil manipulação e custo baixo, esse material acaba sendo usado em diversos tipos de produtos. Cientistas têm trabalhado em tecnologias que tenham essas mesmas características, mas também um descarte menos impactante ao meio ambiente. O uso de matérias-primas naturais é uma das estratégias exploradas. Outra alternativa que pode se tornar realidade em pouco tempo é um plástico sintético com degradação mais rápida e possibilidades amplas de reúso.
O plástico comum é um dos materiais mais difíceis de serem reciclados devido a dois pontos cruciais: não pode ser reutilizado diversas vezes e demora muito tempo — mais de um século — para se degradar naturalmente. Para resolver esses problemas, pesquisadores americanos desenvolveram um polímero sem químicos tóxicos, com as mesmas características do material tradicional — durabilidade, força e resistência ao calor — e a possibilidade de ser reutilizado quantas vezes for necessário.
“Em princípio, os polímeros podem ser quimicamente reciclados e reutilizados infinitamente. Ainda temos trabalho pela frente, mas é nosso sonho ver essa tecnologia de polímero quimicamente reciclável se materializar no mercado”, diz ao Correio Eugene Chen, um dos criadores do material, apresentado em abril na revista Science, e professor da Universidade do Colorado.
Especialistas acreditam que, se o plano de Chen e os colegas se concretizar, a forma como o plástico é usado poderá ser transformada. “Essa descoberta poderia levar a um mundo no qual plásticos no fim da vida não seriam considerados resíduos, mas matéria-prima para gerar produtos de alto valor e plásticos virgens. Isso incentivará a reciclagem e a sustentabilidade”, acredita Andrew Dove, químico e professor da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, ao comentar a pesquisa no periódico americano.
Megan L. Robertson, professora associada de engenharia química e biomolecular na Universidade de Houston, nos Estados Unidos, também trabalha buscando substitutos do plástico. Ela acredita que, no futuro, materiais mais eficientes serão capazes de exterminar os danos causados ao meio ambiente com o seu descarte. A curto prazo, porém, a cientista aposta no surgimento de tecnologias que permitam a melhor reciclagem do que temos disponível. “Novos materiais entram no mercado lentamente e, portanto, o maior impacto está no desenvolvimento de métodos mais eficientes para reciclar os plásticos que são produzidos em grandes quantidades hoje”, justifica.
A americana também ressalta que investimentos e avanços nessa área serão extremamente benéficos para as áreas econômica e industrial. “Melhorar a reciclagem de plásticos tem muitas vantagens sociais, como reduzir as emissões de gases de efeito estufa, evitar o acúmulo de resíduos no meio ambiente, diminuir a dependência de recursos petrolíferos finitos e recuperar o valor econômico dos resíduos sólidos plásticos”, lista.
Versão natural
No Brasil, Edla Maria Bezerra Lima, pesquisadora da Embrapa Alimentos, aposta em uma solução natural para o problema. Ela desenvolveu um plástico feito a partir de caroços de manga. “Escolhi essa fruta porque é uma das mais produzidas no Brasil. O seu uso industrial acaba gerando grande quantidade de resíduos, que ficam sem utilidade. Essa pesquisa buscou uma maneira de também sanar esse problema”, conta.
O projeto foi iniciado em 2014. Edla Lima e a equipe conseguiram desenvolver um plástico feito da amêndoa do caroço da manga que foi misturado ao biopolímero PHBV. Biodegradável, o material resultante da combinação poderá ser usado em embalagens e também na área médica, para a construção de próteses ósseas, por exemplo. Segundo a criadora, o novo plástico, que segue em desenvolvimento, é um exemplo de mudanças positivas ao meio ambiente. “Estamos caminhando para um mundo em que todos os rejeitos serão reutilizados, como a fibra da casca de banana, que hoje é usada na criação de roupas”, ilustra.
A economia também será contemplada, avisa a pesquisadora da Embrapa Alimentos. “É um caminho a que nos dedicamos para que as empresas possam adotar essas medidas. Elas também serão mais positivas do ponto de vista financeiro. Projetos dessa linha fazem parte da lista dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável”, explica, referindo-se às metas para 2030 firmadas em reunião da ONU em 2015.
Comestível
Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Ribeirão Preto têm se dedicado a desenvolver substitutos para o plástico com outras matérias-primas abundantes no Brasil: o milho e a mandioca. No primeiro caso, eles usam uma proteína presente no grão do cereal: zeína. “Ela não é muito boa para nossa alimentação porque é deficiente em dois aminoácidos, mas tem alta capacidade de polimerização. Por isso, a utilizamos na produção de plástico biodegradável. A mandioca também tem grande potencial”, explica José Francisco Lopes, um dos cientistas envolvidos na pesquisa e professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unesp.
As pesquisas estão em fase inicial, mas José Lopes adianta uma possível vantagem do novo material. “O plástico derivado do milho, além de substituir bem o atual, tem a vantagem de ser comestível. Isso faz com que ele possa, por exemplo, ser usado para empacotar grãos que poderão ser jogados direto na panela”, cogita.
O pesquisador acredita que, a médio prazo, será possível vencer os obstáculos que dificultam a reciclagem do material sintético, assim como aqueles que impedem o surgimento de materiais alternativos. “Vamos conseguir reverter esse cenário e, dessa forma, diminuir o acúmulo de plástico. Mas sabemos que muito precisa ser feito, até porque é uma briga de gente grande. É difícil competir com as petrolíferas, que tentam abafar essa disputa comercial. Porém, já começamos a ver substitutos com potencial sendo usados, assim como medidas políticas importantes. A França, por exemplo, tem uma legislação que proíbe o uso de sacolas plásticas. Eu tenho certeza de que essa mudança vai ocorrer”, aposta o pesquisador da Unesp.
“Vamos conseguir reverter esse cenário e, dessa forma, diminuir o acúmulo de plástico. Mas sabemos que muito precisa ser feito, até porque é uma briga de gente grande. É difícil competir com as petrolíferas”
José Francisco Lopes, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Fonte: Portal Correio Braziliense