Projetada para possibilitar vistorias na hidrelétrica, a pista recebe cerca de 26 mil veículos diariamente, devido à ocupação desordenada na região
(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Após tragédia em Brumadinho (MG), o Governo do Distrito Federal anuncia uma série de medidas para preservar a represa do Lago Paranoá. Proibição do tráfego de veículos de carga e redução de velocidade na pista são algumas delas
Em meio à comoção de mais uma tragédia com barragem de rejeitos em Minas Gerais, o Governo do Distrito Federal anunciou a proibição do tráfego de caminhões na pista sobre a Barragem do Lago Paranoá. Essa é uma das medidas que serão adotadas nos próximos 30 dias para preservar a estrutura sexagenária, construída para formar o lago artificial que serve para amenizar a seca e produzir energia elétrica.
Um relatório da Companhia Energética de Brasília (CEB), apresentado ontem ao governador Ibaneis Rocha (MDB), mostra que a circulação dos veículos pesados pode comprometer as condições da barragem. A via de asfalto foi projetada para possibilitar vistorias na Usina Hidrelétrica do Paranoá. No entanto, cerca de 26 mil veículos passam por ela diariamente. A pista liga o Paranoá, Itapoã e dezenas de condomínios habitacionais irregulares ao Plano Piloto, passando pelo Lago Sul.
“A necessidade de expansão do Distrito Federal fez com que a barragem se transformasse em uma pista de rodagem, mas essa não é a função do local. Se olharmos no Brasil, nenhuma outra barragem de grande porte conta com uma rodovia. Portanto, precisamos adotar algumas medidas de mitigação de risco. Como há um declive grande para se acessar a cabeceira da barragem, existe a possibilidade de um caminhão muito pesado perder o freio ou causar um impacto forte que comprometa a segurança da barragem”, ponderou o presidente da CEB, Edson Garcia.
Hoje, técnicos do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) vão iniciar um estudo para apontar rotas alternativas aos caminhoneiros. “É preciso fazer um levantamento de fluxo, e não apenas comunicar os usuários. De qualquer forma, o objetivo é dar início à proibição o mais rápido possível”, comentou o presidente da CEB, sem cravar uma data para a interdição da via aos caminhões.
Fissuras
O documento feito pela companhia mostra danos no asfalto da pista. Há fissuras e buracos que passarão por reparos. A intenção do GDF é de impermeabilizar a via e revitalizar o sistema de drenagem de água da estrutura. As margens da pista serão reforçadas.
Os defeitos, segundo Edson Garcia, podem ter sido causados pela circulação de caminhões. “É um dos fatores que contribui para o deterioramento do asfalto. Devido a isso, esses veículos mais pesados precisam de uma rota única para eles, de modo que evitem passar pela barragem do Paranoá”, detalhou.
Outra medida a ser adotada será a redução da velocidade máxima na via, que hoje é de 50km/h. A ideia é de que o novo limite seja de 40km/h. “Acreditamos que seja uma velocidade segura visto a largura da pista, que é bem estreita. Poderia contribuir, principalmente, para evitar acidentes”, afirmou Edson Garcia.
Risco baixo
Uma avaliação feita pelo corpo técnico da CEB mostrou que a barragem do Paranoá não apresenta problemas que comprometam a segurança da estrutura. A barragem foi classificada com o nível B, categoria de risco médio — nos parâmetros da companhia, o nível A significa risco alto, e o nível C, risco baixo.
“O laudo diz que a barragem está normal. Ela é controlada e monitorada rotineiramente. Além das manutenções preventivas, a barragem também pode passar por manutenções corretivas, realizadas tanto a título de melhorias quanto a título de ajustes necessários para seu melhor funcionamento”, garantiu o presidente da companhia.
Apesar disso, a classificação da CEB alertou que o dano potencial associado à barragem é alto. Dessa forma, entre as metas do governo também está a adoção de medidas para educar a comunidade que vive nas proximidades da barragem. “Quando analisamos as condições da estrutura, também avaliamos questões ambientais e de preservação da vida humana. Portanto, queremos incrementar as ações de orientação em caso de um desastre. Vamos produzir cartilhas para explicar quais devem ser as rotas de fuga e ampliar o sistema de sirenes de alerta”, frisou Edson Garcia.
Atenção especial
Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea/DF), Fátima Có diz que, pela importância estratégica e urbanística para a cidade, a barragem do Paranoá merece atenção especial. “Toda obra de engenharia tem uma vida útil e necessita de inspeções. As ações devem ser preventivas com a adequada manutenção e uma constante atualização”, observou.
Desde o fim do ano passado, o Crea/DF conta com uma comissão especial para estudar as condições da barragem. Para o conselho, a solução mais viável seria a construção de uma ponte para ligar a DF-001 à Estrada Parque Dom Bosco (EPDB). “Uma hora, o trânsito de carros pode gerar algum problema. Toda obra de engenharia tem um coeficiente de segurança, e o da barragem não está sendo respeitado”, comentou Fátima Có.
Em 2015, na gestão de Rodrigo Rollemberg, o projeto para uma nova ponte foi anunciado, mas não saiu do papel. O novo governo não garante seguimento à ideia. “É algo que precisa ser estudado”, afirmou o presidente da CEB.