A sede do Banco de Brasília, no Setor Bancário Sul, foi um dos endereços onde os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão
(foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Investigação do Ministério Público Federal mostra que ex-dirigentes do Banco de Brasília e empresários receberam R$ 40 milhões em propina. Dinheiro ilícito servia para liberar investimentos em empreendimentos imobiliários
A Operação Circus Maximus, deflagrada ontem pela Polícia Federal, prendeu diretores do Banco de Brasília (BRB), ex-dirigentes da instituição e empresários. Os servidores da entidade financeira são acusados de receber R$ 40 milhões em propina para liberar investimentos em empreendimentos imobiliários. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as fraudes teriam ocorrido na construção de pelo menos duas empreitadas: o antigo Trump Hotel, no Rio de Janeiro, rebatizado de LSH Lifestyle, e o Praça Capital, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
Entre os presos está o diretor presidente do BRB, Vasco Cunha Gonçalves, atualmente licenciado, e os diretores das áreas de serviços e produtos, de recursos de terceiros e financeiro. Além de 14 prisões, os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão de documentos, aparelhos eletrônicos e telefones celulares no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Espírito Santo e em São Paulo.
As investigações contaram com a participação de procuradores da força-tarefa da Operação Greenfield e começaram a partir de delações premiadas de executivos da Odebrecht e do doleiro Lúcio Funaro. Os colaboradores relataram pagamentos de propina a agentes públicos do BRB em troca de aportes de recursos do BRB ou do BRB DTVM — uma distribuidora de títulos e valores mobiliários coligada ao banco. O dinheiro também saía de fundos de investimentos administrados pelo BRB. A Operação Circus Maximus contou com provas da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro.
Um dos fundos investigados foi constituído em 2012 para viabilizar a construção do Trump Hotel, no Rio de Janeiro. O negócio era encabeçado pelos empresários Ricardo Rodrigues, Arthur Soares Filhos e Paulo Figueiredo Filho — neto do ex-presidente João Figueiredo. A empreitada entrou na mira dos procuradores da Operação Greenfield em 2016, depois de receber aportes do fundo de pensão Serpros.
De acordo com o MPF, as irregularidades envolvendo o BRB começaram em 2014. No caso do fundo que financiou o projeto Praça Capital, no SIA, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, frisou que o empreendimento, “pelo seu insucesso, causou notável prejuízo aos investidores e beneficiários dos fundos de investimentos, tanto mais pela irresponsabilidade de dirigentes dos fundos de investimentos e gestores que investem milhões em negócios aparentemente fadados a dar prejuízo”.
“As provas indicam que se formou uma estruturada verdadeira organização criminosa ainda hoje em atuação no Banco de Brasília e nas Instituições de regime de previdência (RPPS), que, aliada a empresários que sobreprecificam e multiplicam seus investimentos, são deletérios ao sistema financeiro nacional e a ética nos negócios bancários, em especial bancos públicos”, acrescentou o magistrado, na decisão em que determinou a prisão de 14 acusados.
Campanha
As investigações do Ministério Público Federal citam a negociação de recursos para supostamente pagar dívidas de campanha do ex-governador Rodrigo Rollemberg. Segundo o MPF, Henrique Domingues Neto, sócio da Biam DTVM, teria procurado o empresário Ricardo Rodrigues, delator do esquema, em 2015. Nas negociações, Henrique teria prometido um aporte de R$ 3 milhões nos negócios de Rodrigues, provenientes do instituto de previdência de Santos. Em troca, o colaborador pagaria R$ 250 mil a Ricardo Leal — posteriormente, indicado como conselheiro no Conselho de Administração do BRB.
Desse montante, R$ 100 mil seriam pagos em espécie para a quitação de dívidas de campanha do ex-governador. Em nota, Rollemberg afirmou que, durante o período em que governou o DF, “o BRB teve autonomia administrativa e financeira, sem qualquer tipo de intervenção”. Ainda de acordo com ex-governador, Ricardo Leal nunca foi tesoureiro de suas campanhas. O PSB-DF, partido do ex-chefe do Buriti, divulgou nota em que reafirmou a autonomia do BRB durante a gestão de Rollemberg. “Não houve dívida na campanha eleitoral de 2014 para governador do DF. Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas”, assegura a sigla.
A decisão da 10ª Vara Federal de Brasília menciona a possibilidade de o grupo ter atuado em outras áreas do BRB, como cartões, seguros e financiamentos, e cita outros investimentos do BRB com características semelhantes, como a emissão de debêntures do Correio Braziliense, em que pode ter havido irregularidades. O Correio esclarece que a emissão de debêntures mencionada na decisão judicial foi uma operação estruturada, que seguiu todas as regras do mercado financeiro. Ressalta ainda que toda a operação foi balizada em garantias reais e que a empresa não foi alvo de nenhuma medida investigativa relativa à operação. O Correio vai procurar as autoridades para se colocar à disposição e esclarecer qualquer dúvida. Em seis décadas de atuação, o jornal sempre se pautou pela transparência e pela defesa dos interesses da sociedade.
Em nota, o BRB informou que “apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação”. A instituição garantiu ainda que “adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas”.
Mudanças
Ontem, após a deflagração da Operação Circus Maximus, o governador Ibaneis Rocha anunciou novidades para a gestão do BRB. “Eu aguardava que isso viesse a ocorrer, porque tinha notícias de que as coisas no BRB não andavam muito bem. Mas posso garantir que, na nossa gestão, os nomes que foram indicados são da mais extrema qualidade”, afirmou o chefe do Buriti. Paulo Henrique Costa, futuro presidente do banco, foi sabatinado pela Câmara Legislativa e aguarda o aval do Banco Central para tomar posse. “Dei liberdade total a ele na nomeação das diretorias. Espero que o BRB, agora, passe a servir a cidade. Essa é a nossa expectativa”, acrescentou Ibaneis.
Entre os novos projetos para o Banco de Brasília antecipados pelo governador estão a concessão de financiamento para lotes em áreas de regularização e projetos de liquidação de dívidas, especialmente de servidores. “São diversas iniciativas para reinserir o BRB na vida do brasiliense. Vamos dar outra característica para o banco. Estamos negociando, por exemplo, trazer a folha de pagamento de Mato Grosso para o BRB”, detalhou Ibaneis. Na Câmara Legislativa, deputados aliados do governo articulavam ontem a criação de uma CPI para investigar irregularidades no banco.
Troca no Banestes
Vasco Cunha Gonçalves, que havia se licenciado da Presidência do BRB para assumir o comando do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), deixou o cargo ontem. Em nota, o Banestes informou que designou o diretor de Tecnologia, Silvio Henrique Brunoro Grillo, para exercer cumulativamente o comando da instituição. “O Banestes aguarda o andamento das investigações pelos órgãos competentes, e maiores informações, assim que confirmadas, serão tempestivamente comunicadas ao mercado em geral”, declarou o banco.