Um acordo de US$ 255 milhões para converter açúcar em produtos químicos de cannabis está abrindo as portas para uma era de maconha sem plantas
A Amyris já trabalha com leveduras geneticamente modificadas que excretam moléculas projetadas para fabricar adoçantes e produtos de cuidados com a pele. Agora, a empresa planeja usar essa tecnologia de fermentação para converter o xarope de cana-de-açúcar em ingredientes ativos encontrados na maconha, informou a empresa com sede na Califórnia em um comunicado divulgado na terça-feira. Esses ingredientes podem ser usados em bens de consumo como bebidas, cremes para a pele e desodorantes.
O foco inicial do projeto é produzir canabidiol (CBD), a molécula usada para tratar condições médicas como ansiedade e insônia. Mas a Amyris e suas parceiras, que não foram reveladas, buscam diversas moléculas de canabidiol que têm usos médicos e terapêuticos sem serem psicoativas, disse a porta-voz Beth Bannerman por telefone. O THC, a molécula alucinógena que causa barato nas pessoas, não é um dos focos, disse ela.
A Amyris chegou a subir 50 por cento com a notícia, a maior alta desde que as ações começaram a ser negociadas em 2010.
“Assim como nossas parceiras, temos a missão de nos tornar líder em produtos CBD de fontes sustentáveis no curto prazo, e nosso foco é viabilizar os mercados globais de bebidas e cuidados com a pele”, disse o CEO da Amyris, John Melo, em comunicado.
Projetos rivais
O empreendimento da Amyris soma-se a dois acordos menores anunciados em setembro que também pretendem fermentar canabinoide. A produtora de maconha Cronos Group fez uma parceria de US$ 122 milhões com a Ginkgo Bioworks, e a Organigram Holdings anunciou um investimento estratégico de 10 milhões de dólares canadenses (US$ 7,6 milhões) na Hyasynth Biologicals.
Ao produzir CBD e outros canabinoides em um processo de fermentação, as fabricantes podem controlar a qualidade e a dosagem, informou a Amyris. Retirar as plantas desse processo garante que as moléculas estarão completamente isentas de pesticidas.
As moléculas de maconha produzidas pela Amyris poderiam ser usadas na oferta atual de produtos da empresa, disse Bannerman. A Amyris fabrica Biossance, uma linha de produtos para a pele vendida nas lojas de cosméticos Sephora, e lançou recentemente um adoçante sem caloria para bebidas.
Bebidas com infusão
O interesse em bebidas com infusão de maconha está aumentando agora que a cannabis está legalizada no Canadá e que o CBD derivado de cânhamo está legalizado nos EUA. A empresa canadense Canopy Growth está gastando US$ 150 milhões em uma instalação em Nova York para extrair CBD do cânhamo.
A Constellation Brands, fabricante da cerveja Corona, investiu US$ 3,8 bilhões na Canopy Growth, e a Molson Coors Brewing iniciou uma joint venture com a Hexo, que tem sede em Quebec, para vender bebidas não-alcoólicas com cannabis. Até mesmo a Coca-Cola afirmou que está interessada em bebidas com infusão de CBD, embora não tenha planos imediatos para entrar nesse mercado.
O CBD de origem vegetal também pode ser encontrado em produtos de cuidados pessoais, como cremes hidratantes, desodorantes e sabonetes, feitos principalmente por pequenos fabricantes.
A Amyris informou que seu acordo inclui pagamentos ao longo de três anos, após a assinatura de um acordo definitivo, que poderiam totalizar US$ 255 milhões em dinheiro se o empreendimento for comercialmente viável. Royalties dos produtos comercializados seriam um adicional, informou a empresa. Mais detalhes sobre a parceria serão fornecidos em março, disse Bannerman. Fonte: Exame