Inflação estruturalmente baixa e crescimento econômico fraco dão espaço para BC que pode ser ainda reforçado com aprovação da reforma da Previdência
O presidente indicado do Banco Central, Roberto Campos Neto, encontrará uma combinação única em favor de juros baixos ao ser sabatinado no Senado na próxima terça-feira.
O Brasil já teve inflação abaixo da meta e crescimento fraco em outros momentos, mas nunca os dois fenômenos ocorreram simultaneamente por tanto tempo.
Se a economia não acelerar este ano, como o mercado projeta, e o Congresso aprovar reforma da Previdência, mesmo parcialmente desidratada, o caminho poderá estar aberto para juros ainda mais baixos.
“A inflação mostra um quadro estrutural benigno que nunca vimos”, diz Thais Zara, economista-chefe da consultoria Rosenberg, que lidera o ranking de analistas da Bloomberg para estimativas sobre o IPCA-15.
A inflação fechou 2018 em 3,75%, mas poderia ter sido ainda menor se não fosse o efeito atípico da greve dos caminhoneiros, que fez o índice mensal subir 1,26% em junho passado.
Sem a repetição deste choque, o IPCA em 2019 poderia também ser muito menor do que o mercado projeta, mas os analistas esperam um número próximo ao do ano passado porque contam com um crescimento maior da economia este ano.
Thais Zara projeta +3,9% para o IPCA e +2,8% para o PIB em 2019, além de um desemprego ainda muito elevado, de 11,8%. Estes números, se confirmados, seriam condizentes com a manutenção da Selic nos atuais 6,5%.
Se os dados de atividade neste começo de ano continuarem decepcionando, como no final de 2018, porém, “cresce a chance de o BC rever o tamanho do estímulo”, diz a economista.
Com exceção do curto período de impacto da greve em 2018, a inflação 12 meses tem se mantido abaixo da meta desde abril de 2017. Entre 2006 e 2007, quando Henrique Meirelles presidia o BC, a inflação também passou um período considerável abaixo da meta. A diferença é que, na época, o Brasil crescia em ritmo superior a 4% ao ano, muito acima do atual.
Além da atividade fraca, a aprovação de uma reforma da Previdência que gere um ajuste fiscal expressivo também poderá motivar um novo corte dos juros, sobretudo se houver uma apreciação importante do real.
Fonte Exame