O rastreamento do autismo deve começar a partir do 16º mês de vida, dizem especialistas. A doença, também chamada de transtorno do espectro autista(TEA), apresenta graus variáveis, podendo ter forma leve, como a síndrome de Aspeger, ou grave, quando há maior comprometimento cognitivo. O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado nos sintomas e comportamento da criança.
Nesta avaliação, os profissionais identificam se há prejuízos na interação social, na linguagem, comunicação e padrões repetitivos de comportamento – sintomas comuns ao TEA. “O autismo pode ser diagnosticado em crianças de 2 anos, mas a idade média de diagnóstico é de 5 anos”, alertou Lisa Goring, do Autism Speaks, organização americana de defesa do autismo, à CBS News.
O autismo não tem cura, portanto, o rastreamento precoce é fundamental para garantir o início do tratamento, que ajuda a reduzir os sintomas e oferecer maior apoio ao desenvolvimento e à aprendizagem do paciente. Entretanto, o diagnóstico precoce só é possível se pais e pediatras estiverem atentos aos sintomas da doença.
Sinais de alerta
Os profissionais da Apae São Paulo – organização que atua no tratamento de deficiências intelectuais – chamam atenção para dez sinais de alerta que podem ser indícios do transtorno do espectro autista. Segundo eles, uma única característica não é sinônimo de autismo: a presença do TEA é determinada por um conjunto de comportamentos. Veja abaixo os sintomas mais comuns:
1. Pouco contato visual: a criança não olha quando é chamada pelo nome ou não sustenta o olhar;
2. Não interagir com outras pessoas: essa é uma das principais características do autismo. Sorrisos, gestos ou conversas são de pouco interesse de pessoas com essa condição;
3. Bebês que não fazem jogo de imitação: os bebês começam a imitar atitudes e comportamentos por volta dos seis a oito meses de vida. Portanto, deve-se ficar atento quanto à ausência desse comportamento;
4. Não atender quando chamado pelo nome: a criança pode parecer desatenta, sem demonstrar interesse pelo que se passa ao redor;
5. Dificuldade em atenção compartilhada: não demonstra interesse em brincadeiras coletivas e parece não entender as brincadeiras;
6. Atraso na fala: criança acima de dois anos que não fala palavras ou frases deve receber maior atenção;
7. Não usar a comunicação não verbal: a criança, geralmente, não usa as mãos para indicar algo que quer;
8. Comportamentos sensoriais incomuns: a pessoa se incomoda com barulhos altos, por vezes colocando as mãos nos ouvidos diante de tais estímulos, não gosta do toque de outras pessoas e pode se irritar com abraços e carinho;
9. Não brincar de ‘faz de conta’: a criança não costuma criar suas próprias histórias, não participa das brincadeiras dos colegas nem utiliza brinquedos para simbolizar personagens. Suas brincadeiras costumam ser solitárias e com partes de brinquedos, como a roda de um carrinho ou algum botão;
10. Movimentos estereotipados: apresenta movimentos incomuns, como chacoalhar as mãos, balançar-se para frente e para trás, correr de um lado para outro, pular ou girar sem motivos aparentes. Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza ou ansiedade.
O atraso na fala do pequeno Tanner Troy foi um dos sintomas que preocupou sua mãe, Tianna Canady. “Ele estava balbuciando. Não havia palavras”, contou à CBS News. O menino foi diagnosticado com autismo aos 2 anos e meio de idade, o que permitiu o início precoce do tratamento. Apesar disso, ele é a exceção à regra. Em diversas partes do mundo, o reconhecimento da doença leva muito mais tempo.
Por causa disso, a Autism Speaks inova nas campanhas de conscientização para mudar esta realidade nos Estados Unidos. Este ano, por exemplo, a campanha apresentou a Julia, nova personagem autista da Vila Sésamo. “Queremos ter certeza de que os pais estejam capacitados com as informações de que precisam, de modo que todas as crianças sejam examinadas e, se necessário, recebam o diagnóstico e os apoios de que possam precisar”, comentou Lisa.
Conscientização no Brasil
No Dia Mundial do Autismo, realizado nesta terça-feira, 2 de abril, organizações de saúde de todo o mundo tentam conscientizar a população a respeito da doença que atinge uma em cada 160 crianças em todo mundo e é mais comum em meninos.
E não é a Vila Sésamo que introduziu um personagem autista. o personagem André foi incluído nas páginas dos gibis da Turma da Mônica e em vídeos divulgados pelo Instituto Mauricio de Sousa especialmente para falar sobre o assunto. Ele participa de seis animações curtas que estarão disponíveis nos canais oficiais do instituto ou no canal do YouTube da Mauricio de Sousa Produções.
Toda esta mobilização tem como objetivo apresentar alguns sinais do autismo em crianças e mostrar a importância de procurar orientação profissional o quanto antes para fazer o diagnóstico. “Quando criamos o personagem André ouvimos vários especialistas no assunto, além de conhecer crianças dentro do espectro. O TEA não é fácil de ser identificado e, por isso, o tratamento pode vir tarde. Então, é preciso passar para os pais, professores e pessoas próximas a essas criancinhas a informação sobre os cuidados e busca de orientação para ajudá-las a desenvolverem todo seu potencial”, afirma Mauricio de Sousa, que criou o personagem em 2001.
Autismo em meninas
Apesar de ser uma doença mais comum em crianças do sexo masculino, as meninas também podem apresentar o transtorno do espectro autista. No entanto, o diagnóstico delas é ainda mais difícil. Isso porque, segundo a BBC, os sinais de autismo em meninas e mulheres não são os mesmos. Por esse motivo, a doença pode passar despercebida, principalmente em casos de autismo considerados de alto funcionamento, ou seja, o indivíduo tem habilidades cognitivas acima da média em comparação com outros autistas. Estas características peculiares dificultam o diagnóstico, que muitas vezes só acontece na vida adulta da mulher – às vezes, elas passam a vida inteira sem saber que têm TEA.
Para pesquisadores, a principal dificuldade pra identificar o autismo em meninas é o fato de que elas se comportam de modo “adequado” para o seu gênero – o que não acontece com os meninos dentro o espectro. Ou seja, elas são passivas, retraídas, dependentes dos outros, não se envolvem nas situações que vivenciam ou parecem deprimidas. Outro comportamento comum à meninas autistas é a obsessão por temas muito específicos – da mesma forma que em meninos autistas –, mas no caso delas, nem sempre as temáticas estão relacionadas à tecnologia ou matemática.
“Muitas meninas e mulheres autistas parecem ser apenas pessoas tímidas e introvertidas. Essas garotas quietas – e seus problemas – podem ser ‘invisíveis’ para outras pessoas”, disse Alis Rowe, empresária britânica que escreve sobre o TEA, à BBC.
Uma vez diagnosticado, o autismo precisa de tratamento para garantir qualidade de vida ao paciente. Não há medicação específica para o TEA, mas há casos em que são necessárias medicações para controlar quadros associados à doença, como insônia, hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, atitudes agressivas, falta de atenção, ansiedade, depressão, sintomas obsessivos, raiva e comportamentos repetitivos. Em alguns casos, o indivíduo desenvolve problemas psiquiátricos.
Além disso, outras abordagens podem ser utilizadas, como análise aplicada do comportamento (mais conhecida como terapia ABA) e psicoterapia. Como a família é quem mais interage e estimula o comportamento das crianças, é importante que esta também seja educada para lidar com a situação e auxiliar no tratamento.