Neste mês, o Cine Brasília, em parceria com a Secretaria de Cultura e a Embaixada da Itália , apresentou todas as segundas-feiras, o Festival Ópera na Tela, com releituras de clássicos italianos. O evento nasceu para oferecer ao público a oportunidade de assistir aos maiores cantores do mundo no gênero e com a diversidade da melhor programação de ópera italiana.
Humberto Mourão, 20 anos, morador de Taguatinga e estudante de história, alega que sempre há pouca divulgação para eventos do gênero. “Eu fiquei sabendo por acaso, minha amiga faz italiano, recebeu a notícia e me falou. Mas, de fato, a difusão do evento é escassa”, afirma. Nesse projeto, foi a primeira vez que o jovem teve contato com uma ópera. “Sou bem frequente da Orquestra Sinfônica, mas ópera, de fato, é a primeira vez”, comenta.
“Quando eu era pequena, me lembro que tinha no Gama, mas deixou de funcionar, acho que por falta de investimento. Seria de extrema importância retomar.Talvez, lá no Gama, não teria público para uma ópera, mas só por uma questão de não conhecer mesmo”, relembra a cuidadora Talita, 31 anos, que caiu “no evento de paraquedas” e estava ansiosa para a exibição. Ela acompanhava a chefe que sempre frequenta eventos de músicas clássicas.
Em Brasília, há mais de 15 anos, o projeto chamado Ópera Estúdio, tornou-se veículo de disseminação cultural por apresentar espetáculos gratuitos. Fundado pela professora Irene Bentley, o programa inicialmente pensado como um projeto de extensão da Universidade de Brasília, atualmente ultrapassa os muros acadêmicos, faz parte da vida cultural do DF e promove dois espetáculos por ano. “É um trabalho acadêmico, de nível profissional, executado por estudantes e profissionais da UnB e de outras instituições onde podem sentir a emoção e o profissionalismo de participar da encenação de uma ópera completa dentro de uma programação rica, abrangente e de alto nível.”, define a professora.
Tradição revivida
A ópera surgiu na Itália, mas nada impediu que ela se espalhasse pelo mundo. Passeando entre a encenação e a música, a ópera é um teatro cantado, composto de atuações, cantos, bailarinos, cantores, atores e figurantes. A fala é quase inexistente nessa modalidade, quando tudo que se quer transmitir vem do canto. Ainda com as cortinas fechadas, a orquestra executa a abertura, mostrando que logo a encenação começará. Dividida em atos ou em sequências de partes da história, a apresentação é embalada pelo enredo, formalmente chamado de libreto.
Agora, com belas melodias e uma emocionante história, os cantores dão vida a seus personagens. Entre o fantasioso e o real, eles podem ser o que quiserem. Na famosa ópera Flauta mágica, de Mozart e Emanuel Schikaneder, os personagens vão desde um pássaro falante até um príncipe enganado que distraem totalmente o público, até os que dizem não gostar. “Meu pai dizia que não gostava de ópera porque era um bando de malucos gritando no palco. Um dia, eu contei para ele toda a história da ópera Carmen, de Bizet. E, depois, o levei para assistir no Teatro Nacional uma montagem que havíamos produzido desta ópera. A partir desse momento, ele quis assistir a todas as outras montagens que realizamos”, revela a professora de canto da UnB, Irene Bentley.
Bicho de sete cabeças
Por ser de origem europeia e ser apresentado em casas de óperas ou em grandes teatros, demandavam grandes gastos que, geralmente, eram custeados nos ingressos. Por isso, essas apresentações levaram fama de “elitizadas” e se afastam um pouco de grande parte da população. No entanto, cada vez mais organizações estão tentando aproximar essas realizações da realidade da população.
Assim, a ópera não é o bicho de sete cabeças que aparenta ser. Talvez por serem grafadas em italiano ou em latim, elas se distanciem um pouco da realidade brasileira. O ato de sentir música é universal e está ao alcance de todos. Entretanto, deve existir o primeiro contato com o gênero, para cada um tirar suas próprias conclusões.