O sucesso da cirurgia de separação das gêmeas siamesas Mel e Lis, em 27 de abril, injetou otimismo nos demais pacientes do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB), como afirmam o neurocirurgião Benício Oton e o anestesiologista Luciano Fares, dois dos 50 profissionais envolvidos no procedimento. “Há uma confiança muito grande dos pacientes e familiares. Eles falam: olha, aconteceu isso, fizeram uma coisa complicada, então, uma mais simples vai ser tranquila. Eles estão mais confiantes de que o acompanhamento vai dar certo”, declarou o Benício.
Ambos concederam entrevista ao CB. Poder na tarde desta segunda-feira (6/5) e falaram sobre todo o trabalho feito com a equipe multidisciplinar. As meninas ainda estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde se recuperam, mas já mostram os traços da personalidade de cada uma. “A Mel sempre foi considerada a terrorista das duas. Brincava mais e eu tinha essa percepção. A Camilla fala que alterna, mas comigo era assim”, ri Luciano. “A Mel é mais ativa e a Lis mais tranquila, mais serena. A Mel arranca sonda, mas a Lis também está sapeca, responsiva, e isso é muito bom. São crianças de 9kg, nenenzinhos”, comenta.
A previsão é de que elas continuem por mais uma semana na unidade. O procedimento cirúrgico que separou as craniópagas, isto é, gêmeas siamesas unidas pela cabeça, levou 20 horas. Para realizá-la os especialistas treinaram por meses com moldes tridimensionais e uma série de exames. “Foram muitos riscos, mas, se não fosse assim, não teríamos conseguido, porque foi isso o que deu o caminho que poderíamos seguir. Baseado em cada problema, fizemos a linha de solução, e isso nos levou ao sucesso”, acredita o anestesiologista.
Além da operação do dia 27, as meninas foram anestesiadas cinco vezes, para uma série de procedimentos, que incluíram tomografias e a inserção de expansores de pele. “Elas foram operadas no melhor momento delas e disso a gente teve certeza”, avalia Luciano. Os médicos esperam que, apesar da intervenção no cérebro das pequenas, seja possível que não haver consequências neurológicas para elas.
No entanto, o risco existe. “É cedo para saber. Nossa expectativa é de que fique tudo certo, mas claro que pode acontecer algo do ponto de vista motor, mas há a vantagem de que elas são muito jovens. A capacidade de recuperação é grande nessa idade”, declara Benício.
Outro aspecto que ainda será avaliado é do ponto de vista estético. “O enxerto é grande, pode acontecer uma falha, ficar pelo na testa, por exemplo, mas é algo que vamos ver no futuro. O que a gente quer é a recuperação da cirurgia e, em um segundo momento, veremos a necessidade de retoques plásticos”, conclui o neurocirurgião.