Após oito temporadas, Game of thrones chegou ao fim com a exibição do sexto e último episódio no último domingo. A conclusão da série fantasiosa inspirada na saga As crônicas de gelo e fogo, de George R.R. Martin, e adaptada para a HBO pelos roteiristas David Benioff e D.B. Weiss entrou para história. Porém, pelo pior motivo possível.
Não dá para dizer que todos os fãs odiaram o desfecho. Mas o número de telespectadores revoltados com a conclusão é perceptível. A internet ficou repleta de reclamações. O encerramento foi comparado a outros fracassos da tevê, como o polêmico final da série Lost. Isso se deve ao fato de que o episódio intitulado In The Throne (No trono, em tradução livre) mostrou uma sequência de encerramentos incoerentes com as temporadas anteriores e a, até então, narrativa principal de Game of thrones, a disputa pelo Trono de Ferro.
Apesar dos erros terem sido cravados no último episódio, as falhas de GoT começaram bem antes. O sinal de alerta soou ainda na sétima temporada, quando a trama se desvincilhou de vez dos livros de Martin, e os roteiristas tomaram decisões vistas como duvidosas pelos fãs. A derrocada veio mesmo na oitava temporada, quando a série em dois episódios se mostrou irreconhecível, o terceiro e o quinto, que deveriam ser os grandes destaques da temporada e se tornaram nos capítulos mais criticados da produção.
O mau desenvolvimento, e a desconstrução de personagens e os enredos importantes sendo resolvidos de forma preguiçosa, fácil ou simplesmente sendo ignorados foram os principais problemas de Game of thrones. A perfeição das seis primeiras temporadas pesou. A busca pela surpresa, característica de outrora, foi utilizada sem seguir uma coerência com a narrativa. Personagens vistos e apresentados na trama como heróis, como Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), se mostraram sem força na narrativa. Tramas apontadas como principais, como a guerra contra os Caminhantes Brancos, foram resolvidas em minutos sem grandes explicações. Sem falar na constante irregularidade dos personagens, que ora diziam uma coisa, ora faziam outra.
Legado
Mesmo com uma conclusão polêmica, que agrada em alguns momentos, mas desagrada em sua grande maioria por ir contra o desenvolvimento da própria história, o legado que Game of thrones deixa é inegável. A série estreou em 2011 em meio ao avanço da internet conseguindo combater a pirataria com a ideia de simultaneidade, sendo exibida em mais de 100 países no mesmo horário, incluindo o Brasil, e fazendo com que milhares de pessoas no mundo se reunissem todo domingo às 22h em frente à tevê mesmo num mundo totalmente fascinado pelo sob demanda.
Sair do óbvio também foi o grande mérito de Game of thrones. Quando a série estreou, era impossível pensar numa produção que matasse um dos personagens principais, se não o que era visto como protagonista, Ned Stark (Sean Bean), logo na primeira temporada. O seriado quebrou paradigmas, quebrou a roda, como diria Daenerys, ao seguir uma narrativa surpreendente, em que ninguém estivesse a salvo.
As questões políticas foram outro ponto de destaque de GoT. Apesar de ser uma trama fantasiosa e épica, a série trouxe os conchavos do mundo político, que, depois do seriado, ficou conhecido como o jogo dos tronos, de forma inteligente e atual. Game of thrones viu o enredo bem construído ser estudo e aplicado em diferentes âmbitos, desde a universidade até o mundo dos negócios.
Nada disso se perde. É uma era que termina. Talvez, nunca mais as pessoas se reúnam com tanta paixão em frente aos televisores no mesmo dia e no mesmo horário para torcer por personagens apaixonantes e por um enredo bem construído. Será difícil alguma produção atingir esse patamar, até então impensável.