Apesar das campanhas e do trabalho educativo promovido por diferentes setores, o número de multas aplicadas e, principalmente, de prisões registradas por embriaguez ao volante ainda preocupa no Distrito Federal. De janeiro a maio, 857 pessoas foram detidas por dirigir sob efeito de álcool. Os números devem aumentar, uma vez que a Polícia Civil ainda não repassou o balanço completo de maio ao Departamento de Trânsito (Detran/DF).
Dois casos recentes tiveram destaque pela gravidade das sequelas provocadas. Na semana passada, Rayane Neves da Silva, 28 anos, morreu quando o carro em que ela estava capotou, na área rural de Planaltina conhecida como Rio Preto. Ela havia pedido uma carona a um conhecido. No entanto, o condutor estava alcoolizado. O teste do bafômetro acusou a presença de 0,54 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Encaminhado a 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), ele foi preso em flagrante, mas responderá ao processo em liberdade.
No início de maio, Pedro Pereira, 44, quase perdeu o filho Iago, 16, em uma situação parecida. O adolescente estava em frente de casa com outros dois amigos quando o trio foi atingido por um carro. O motorista do veículo, um homem de 62 anos, estava embriagado e foi preso na hora. Ele responderá ao processo detido.
Os jovens precisaram de atendimento médico. Dois receberam alta, já Iago teve a perna esquerda amputada, mas se recupera e passa por tratamento no Hospital de Base. Na quinta-feira, ele será submetido à nova cirurgia, para a colocação de uma haste na perna. Pouco mais de dois meses depois do acidente, o momento em que quase perdeu o filho não se apagou da memória do pai. “Eu estava em casa na hora e escutei o barulho. Foi um desespero. Como se meu maior medo estivesse acontecendo. A sensação foi muito ruim. Ainda mais porque o socorri e vi a perninha dele naquela situação”, recorda-se Pedro.
Para o morador de Ceilândia Norte, as ações de fiscalização ainda não atendem às expectativas. Ele cobra medidas mais efetivas por parte das autoridades. “Vemos mais campanhas e, às vezes, há fiscalização nas ruas. Às vezes, não. Não sinto que as campanhas possam inibir e mexer com a pessoa que bebe. Não vejo um método eficaz que faça com que a pessoa beba e não dirija. Parece que os acidentes aumentam a cada vez mais”, lamenta Pedro.
Soluções
Responsável pelo Comando de Patrulhamento de Trânsito da Polícia Militar do DF (CPTran/PMDF), o coronel Alexandre de Souza acredita que o problema persiste por questões culturais. “Também envolve educação e falta de respeito à legislação. Sentir e achar que aquilo que não tem problema ou não acontece”, avalia. Ele acrescenta que não tem havido queda no número de flagrantes registrados pela corporação porque as pessoas ainda preferem arriscar na combinação de álcool e direção.
Diretor de policiamento e fiscalização de trânsito do Detran/DF, Francisco Joaquim Saraiva vê a necessidade de investimento em educação, prevenção e monitoramento. Ele afirma que a autarquia promoveu mais operações nesse sentido, mas reconhece que há um deficit na quantidade de efetivo para fiscalização. “Quando o cidadão vê mais patrulha, ele evita cair nessa infração. Se ele chega a um show ou bar e vê que há operações, ele reconhece que, se vacilar, vai se envolver em uma ocorrência”, pontua Francisco.