Uma quantia recorde de 33,5 milhões de dólares está em jogo, mas os jogadores profissionais de eSports que participam esta semana de um torneio internacional em Xangai enfrentam riscos para a saúde como perda de visão, problemas digestivos ou lesões nas mãos.
“Como é possível que alguém se lesione jogando videogame?”, questionava Evgenii “Blizzy” Ri, famoso jogador de 24 anos do Quirguistão.
Até o dia que um médico lhe aconselhou tirar seis meses de descanso para que sua visão se recuperasse.
“Blizzy” joga pela Natus Vincere (NAVI) e participa esta semana no The International, uma competição em nível mundial, apresentada como a mais bem dotada economicamente da história dos eSports.
Junto a seus colegas, ele disputará com 17 equipes no jogo Dota 2, diante de milhares de espectadores reunidos em um estádio coberto em Xangai. As partidas do torneio podem ser acompanhadas por centenas de milhares de outros apaixonados por eSports em plataformas de streaming na internet.
Se a NAVI ganhar no domingo, Evgenii e seus colegas ficarão milionários. Mas seria um triunfo pago com possíveis riscos para sua saúde.
Necessito jogar
“Antes não me preocupava com isso. Mas agora tenho a impressão de que (…) não consigo ver muito bem”, explica “Blizzy”, que joga há dez anos e treina mais de 12 horas por dia.
Foi aconselhado a usar óculos, mas ele achava desconfortável. E de todos os modos, aponta, sua visão deteriorada não afeta seu desempenho porque a tela fica muito perto dele.
“Meu médico me pediu para ficar longe do computador por seis meses, mas não posso fazer isso. Necessito jogar”, diz.
Segundo vários jogadores presentes no torneio de Xangai, a doença que mais se repete entre os profissionais é a síndrome do túnel do carpo. Esta síndrome ocorre devido aos gestos repetitivos da mão e do punho. A pessoa afetada pode sentir dormência, dor ou formigamento nos dedos. Nos casos mais graves pode ser necessária uma intervenção cirúrgica.
Para alguns jogadores esse problema implica inclusive em sua aposentadoria profissional. Outros apontam dores nas costas, produzidas por passarem quase o dia todo sentados.
“Após jogar me tornei treinador porque não suportava as dores”, explica Kurtis “Aui_2000” Ling, da equipe Newbee.
Dores no corpo
Outro risco dos eSports: a pressão nervosa às vezes extrema dos jogadores. Em particular quando estão em jogo quantias astronômicas que poderiam solucionar a vida financeira.
Os participantes são em geral jovens, em torno aos 20 anos, e se enfrentam em um meio ultracompetitivo. “Às vezes sinto o meu corpo muito dolorido”, conta Ryan “Raging Potato” Jay Qui, do time Mineski.
Embora os eSports atraiam há alguns anos fluxos de dinheiro significativos, existem outros aspectos que mantêm a categoria afastada das normas dos demais esportes profissionais.
“Aui_2000”, o treinador da Newbee, explica que cada vez mais equipes recorrem a cinesiólogos, preparadores físicos e psicólogos. Mas a maioria não faz isso por causa dos custos.
Roman Dvoryankin, diretor-geral do Virtus.pro, explica que muitos profissionais não têm consciência da importância de uma boa alimentação, de fazer exercícios ou de se sentar corretamente. “Constatamos em alguns jogadores que seu sistema imunológico não funciona corretamente e que têm problemas de estômago”, indica Dvoryankin.
“Todas as equipes tentam fazer seus jogadores entenderem que é necessário fazer pausas, exercícios, alongar-se bem (…), mas às vezes fica complicado mudar seus hábitos cotidianos”.