Ao contrário da previsão inicial, não deve terminar nesta sexta-feira (27/9) o julgamento de Adriana Villela, acusada de ser a mandante do triplo homicídio praticado na 113 Sul. Em agosto de 2009, os pais dela, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além da empregada da família, Francisca Nascimento Silva, foram mortos a facadas no apartamento do casal. Até esta quinta-feira (26/9), houve o depoimento de sete testemunhas de acusação e oito de defesa. Restam 13 pessoas; por isso, é possível que a sessão no Tribunal do Júri de Brasília termine no fim de semana, provavelmente no sábado, segundo a assessoria do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT).
Nesta sexta-feira, será ouvida uma peça-chave do caso: o papiloscopista que participou da elaboração do laudo que, segundo o Ministério Público, confirma que Adriana esteve no imóvel dos pais no dia do crime. O depoimento estava previsto para quarta-feira, mas, como a testemunha levou ao plenário slides e fotos que não estavam anexadas aos autos, a defesa pediu adiamento. O documento traz a análise temporal de um palmar (impressão da palma da mão) encontrada em um armário do local onde morreu Maria Villela.
Nesta quinta-feira (26/9), uma das testemunhas foi o advogado Geraldo Flávio de Macedo Soares. Ele mora em Minas Gerais e atua na cidade de Montalvânia, onde fez a defesa de Leonardo Campos Alves, um dos condenados pelo crime da 113 Sul. Na cidade, ele conheceu outro envolvido: Paulo Cardoso Santana, que deu a ele informações a respeito do caso. “Paulinho me disse que roubou e matou os três com Leonardo, mas que não tinha mandante”, alegou.
A comerciante Regina Batista Lopes de Luna, outra testemunha ouvida no dia, criticou as investigações da Corvida. Ao júri, ela disse conhecer Adriana de um grupo de terapia. Após o crime, ela alugou uma loja da ré e passou a ser investigada. Em 2010, agentes cumpriram mandado de busca e apreensão na casa dela e a levaram à delegacia. “Ele (o agente) virou para mim agressivo no tom de voz. Bateu com as mãos em cima da mesa e disse que a casa caiu. Tive de provar a minha inocência”, reforçou. Para a acusação, esse depoimento serve para desacreditar as investigações.
No quarto dia, também prestou esclarecimentos Elimar Pinheiro do Nascimento, professor do mestrado feito por Adriana na UnB. “Ela não tem nenhum traço de quem pudesse conceber ou planejar uma atitude dessa natureza. É de rompante? Personalidade forte? Sem dúvida, mas isso é, inclusive, positivo”, elogiou.
Um primo da ré também prestou depoimento. Marcos Menezes Barberino Mendes comentou a relação da família Villela. “Adriana é uma mulher intensa, cheia de opinião. Não aceitava lugar-comum, e a mãe também era assim. Uma relação muito afetuosa, mas com opiniões fortes“, descreveu.
Outra familiar de Adriana, Célia Barberino Mendes Sena, irmã de Maria Villela, descreveu a relação entre mãe e filha. “Sempre foram muito amorosas entre elas. Nunca soube de nenhuma discussão sobre dinheiro“, frisou. Ela também acredita na inocência da sobrinha. “Uma pessoa do bem. Jamais cometeria um mal assim.”
Filho pródigo
Cartas e e-mails trocados entre Adriana e a mãe voltaram à pauta. Em 2006, Maria Villela escreveu à filha dizendo que ela e o marido estavam cansados dos “destemperos” da filha. Para o advogado de defesa Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o MP agiu de forma desleal ao ler os escritos. “Não dá para simplesmente desprezar mais de 80 demonstrações carinhosas que deixavam claro o amor de Adriana pelos pais”, argumentou. Com base nisso, ele leu outra carta enviada pela mãe, de julho de 2007. Nela, Maria sugere: “Leia a parábola do filho pródigo”.
Para Maurício Miranda, procurador do MP, isso diz muito sobre a arquiteta. Durante o depoimento de Enio Esteves Perche, irmão de ex-namorado da acusada, o representante da acusação questionou: “O senhor lembra dessa parábola? Nela, o filho pega metade da herança e gasta tudo. Ele se afasta por causa de dinheiro. Depois, volta arrependido e é recebido com carinho. O ponto-chave é que os pais sempre acabam perdoando”, avaliou. O depoimento de Enio levou Adriana às lágrimas.