Acordeon é um instrumento comum na música popular de vários países mas, vez ou outra, ele dá um salto para o lado da música erudita e encontra ali um nicho perfeito e um repertório imenso. Perfeito porque a sonoridade se adapta bem a diversas escolas e imenso porque é possível transcrever para o instrumento boa parte do repertório criado originalmente para piano e cordas. E é nisso que o acordeonista Laimonas Salijus aposta desde os 6 anos, quando começou a estudar acordeon. Nesta terça-feira (1/10), durante o Concerto ibero-americano em comemoração aos 70 anos da OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos), ele é um dos solistas convidados da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. “O acordeon é popular na Lituânia, especialmente na música clássica. Hoje temos academias inteiras dedicadas ao acordeon clássico”, avisa o músico.
Sob regência do maestro Claudio Cohen, o lituano apresenta duas peças. A primeira é uma composição brasileira, Strambotti, de André Mehmari, escrita para acordeon, clarineta e orquestra de cordas. “É uma música cheia de elementos de jazz. Claro, se você for analisar, vai achar muitos elementos da cultura brasileira, mas acho que é mais jazz. Mehmari é muito interessante porque ele transcreve também momentos de As quatro estações, de Vivaldi. A peça é uma colagem de várias coisas interessantes, do jazz ao clássico, e com um dueto muito incomum entre a clarineta e o acordeon”, explica Salijus, que terá a companhia, hoje, da clarinetista Paula Pires. Essa será a segunda vez que o instrumentista apresenta a peça de Mehmari, que ele classifica como “muito inteligente” porque o compositor entende e toca o instrumento. “Ele sabe como funciona”, brinca.
Em seguida, ele faz As quatro estações portenhas, composta pelo argentino Astor Piazzolla, originalmente, para violino. “É uma peça muito especial mas, dessa vez, será muito interessante o arranjo, fiz eu mesmo minha transcrição para o acordeon e vai ser muito especial porque ninguém ainda tocou assim, com esse arranjo”, garante o acordeonista.
Ele acredita que, nas últimas três décadas, o acordeon passou por um renascimento e foi recolocado no palco da música erudita. “Era um instrumento usado somente na música popular, mas estamos trabalhando duro para mudar a mentalidade e estamos tentando torná-lo um instrumento de prestígio como o piano e o violino”, avisa. “E acho que está funcionando porque as orquestras estão tocando com a gente, acompanhamos cantores, orquestras de cordas.”
O programa inclui ainda Huapango, do mexicano José Pablo Moncayo, El sombrero de tres picos, de Manuel de Falla, e o Concerto para violoncelo nº 1 em dó maior, de Joseph Haydn. Para este último, a orquestra convidou o violoncelista Matias de Oliveira Pinto.
Concerto ibero-americano
Em comemoração aos 70 anos da OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos). Com Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Hoje, às 20h, no Cine Brasília (Entrequadra Sul 106/107). Entrada franca, por ordem de chegada