São Paulo – Com a ascensão do universo de jogos eletrônicos, diversas plataformas – como a Twitch e a Cube TV – surgiram, enquanto outras se modificavam para atender a nova geração de jogadores. Entre as que se transformaram, está o Facebook, rede social que criou uma divisão interna chamada Facebook Gaming, destinada para abrigar conteúdos relacionados com a comunidade de games mundialmente, com um dos focos principais sendo o Brasil. Não à toa o país está na mira da empresa. Ele é o terceiro com maior número de jogadores, 60 milhões; tem 375 estúdios de jogos; e um faturamento anual de 1,3 bilhão de dólares, de acordo com dados do relatório Brazil Digital Report, criado pela consultoria americana McKinsey. Apenas em 2018, foram produzidos 1.700 jogos no Brasil.
Seguindo a febre dos vídeos de videogames gerada pelo YouTube no início da década, outros serviços também começaram a investir no mercado e atrair para si consumidores esse mercado. Hoje, com mais de 700 milhões de usuários que participam ativamente da comunidade, além de profissionais já conhecidos no meio, o Facebook Gaming se tornou uma das plataformas mais utilizadas pelos produtores de conteúdo – chamados de streamers.
O que diferencia o Facebook de plataformas mais populares – como o YouTube e a Twitch que tiveram, respectivamente, 22.000 e 63.700 mil pessoas transmitindo conteúdo apenas em janeiro de 2019 -, de acordo com criadores de conteúdo é o sentimento de comunidade. Em entrevista para a EXAME, a youtuber e gamer Mandy Candy disse que a aposta em diversidade do Facebook faz com que o ambiente seja mais acolhedor: “Na minha época, há 6 anos atrás, não existia alguma mulher transexual que fosse gamer, não tinha ninguém para me espelhar. Hoje em dia, eu vejo que as pessoas que me acompanham estão conseguindo se aceitar mais”.
O que faz do Facebook Gaming um local que, de acordo com Mandy, seja respeitoso e pacífico, é a possibilidade do próprio criador moderar o bate-papo. O produtor de conteúdo consegue ocultar palavras ou expressões que considere ofensivas, além de poder escolher os fãs mais engajados para também moderar o conteúdo que é exibido no bate-papo. O YouTube tem um recurso parecido, apesar de pago: o fã de um determinado canal pode adquirir o Super Chat, que garante que seus comentários estejam sempre na parte superior do bate-papo e em destaque.
Além disso, para incentivar os recém-chegados, o Facebook também está investindo em um programa de criadores, que visa beneficiar tanto os que já possuem experiência no ramo quanto os iniciantes. Durante a Brasil Game Show (BGS), evento de jogos digitais realizado em São Paulo em outubro, William Pimenta, gerente de parcerias do Facebook Gaming no Brasil, afirmou que a plataforma possui duas divisões do programa; a primeira, chamada Level Up, permite que novos produtores de conteúdo tenham acesso a conteúdos exclusivos para aprimorarem sua página, que necessita de 100 seguidores e 30 dias, ao menos, de atividade para ser elegível ao programa.
O segundo programa é voltado para os profissionais que já possuem experiência no meio, de forma que o Facebook os considera como parceiros. Gamers como Samira Close “Wenner Pereira”, Malena “Malena Nunes” e Patriota “Kim Nigro”, podem utilizar o programa para diversos fins: entre eles, a possibilidade de se conectar mais com seus fãs. Por exemplo, os fãs podem adquirir o pacote de estrelas, que é um exemplo de monetização utilizado na plataforma, e doar ao longo de um mês uma quantidade de dinheiro – ou estrelas – para o streamer, em troca de benefícios exclusivos, como conversas exclusivas com o criador e receber insígnias, como “membro mais engajado”. Essas funções fazem com que os apoiadores se sintam próximos do criador, e ajuda a aumentar o sentimento de comunidade para ambos os lados.
Ainda que exista a possibilidade do Facebook se tornar um forte nome para os produtores de conteúdo ligados a games no Brasil e no mundo, a Twitch ainda é o principal meio para isso: em relatório publicado em fevereiro, a consultora de dados Newzoo informou que cerca de 12 mil streamers haviam produzido 1,9 milhão de horas de conteúdo na plataforma – apenas em janeiro deste ano. De olho nessa tendência de mercado, a americana Amazon comprou o Twitch em 2014 por 970 milhões de dólares. O Facebook, porém, é otimista sobre o crescimento da plataforma, que já conta com cerca de 200 criadores brasileiros realizando transmissões ao vivo todos os dias – número que o Facebook espera aumentar ao longo do próximo ano.