São Paulo — O peronista de centro-esquerda Alberto Fernández deve enfrentar a partir desta segunda-feira a reação dos mercados a sua vitória na eleição presidencial da Argentina, em um cenário de recessão e turbulências financeiras.
“Os tempos que vêm não são fáceis”, declarou Fernández a seus seguidores, ao anunciar que se reunirá nesta segunda-feira com o atual presidente Mauricio Macri.
“Me reunirei com ele e começaremos a falar do tempo que resta. Certamente vamos colaborar em tudo que possamos porque o que nos interessa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez por todas”, afirmou Fernández, um grande crítico da política econômica de abertura de Macri.
Fernández, um advogado de 60 anos que tem como companheira de chapa a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), venceu com 48% dos votos a eleição presidencial de domingo (27), enquanto Macri recebeu 40,45% dos votos.
Seu triunfo acontece em um momento no qual a América Latina está em ebulição, com protestos no Chile, Bolívia e Equador.
O presidente eleito assumirá o poder em um cenário de recessão econômica, inflação alta (37,7% até setembro) e aumento da pobreza (35,4%).
A expectativa fica por conta da reação dos mercados, muito agitados nas últimas semanas, com o aumento expressivo do risco-país e a desvalorização do peso argentino.
Em meio ao nervosismo, na sexta-feira o peso registrou desvalorização de 5,86%, apesar do rígido controle cambial e da intervenção do Banco Central, que neste dia perdeu 1,755 bilhão de dólares de suas reservas internacionais.
Desde as eleições primárias de 11 de agosto, nas quais Fernández conseguiu 49% dos votos e Macri 33%, muitos saques em moeda americana foram registrados e superaram 12 bilhões de dólares.
As reservas internacionais da Argentina estão em 43,503 bilhões de dólares. A dívida alcança US$ 315 bilhões, quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo as agências de classificação de risco.
Em 2018 a Argentina recebeu um auxílio de 57 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um severo ajuste fiscal.
Até o momento o país recebeu 44 bilhões de dólares do empréstimo, mas o organismo aguardava os resultados eleitorais antes de liberar a próxima parcela de US$ 5,4 bilhões, que estava prevista para setembro.