Para desvendar as extraordinárias facetas do cérebro humano, centenas de cientistas se reúnem, nesta semana, na Suíça, para dar início ao que é considerado o projeto mais ambicioso na área de neurociência: o Human Brain Project (projeto cérebro humano, em português). Especialistas consideram o desafio ainda mais provocador e instigante que o Projeto Genoma Humano (PGH) devido à complexidade sem precedentes da empreitada.
Pesquisadores de 135 instituições europeias e de outros continentes buscam integrar todo o conhecimento sobre o cérebro em modelos computacionais e desenvolver métodos que permitirão uma compreensão profunda de como funciona o principal órgão humano. Depois de 10 anos de trabalho, eles pretendem ter um supercomputador capaz de simular todas as conexões de quase 100 bilhões de neurônios, que fazem do cérebro humano a máquina mais misteriosa já conhecida pelo homem.
Os modelos construídos pelo projeto deverão abranger todos os diferentes níveis de organização do cérebro — de neurônios individuais ao córtex completo. O time promete trazer uma revolução na neurociência e na medicina, usando esse conhecimento para testar drogas contra doenças neurológicas e derivar novas tecnologias da informação diretamente da arquitetura do cérebro.
Nesta semana, médicos, neurocientistas, cientistas de computação e de robótica vão acertar os últimos detalhes para colocar em andamento a iniciativa, selecionada pela União Europeia como um de seus principais projetos tecnológicos, recebendo um investimento de 1,2 bilhão de euros.
A missão inicial é lançar seis plataformas de investigação até 2016. Para isso, ao longo dos próximos 30 meses, cientistas criarão e testarão ferramentas tecnológicas e métodos, divididos nas áreas de neuroinformática, simulação cerebral, computação de alto desempenho, informática médica, computação neuromórfica e neurorobótica. Todas essas plataformas dependem uma das outras para o sucesso completo do projeto. A neuroinformática vai extrair o máximo possível de informações das fontes científicas, por exemplo, integrando e mapeando todos os níveis de organização do cérebro.
“Tentar modelar o funcionamento de neurônios, grupos de neurônios ou partes do cérebro é algo que já vem sendo feito há algum tempo. Eles podem ser cada vez mais próximas do funcionamento dos neurônios reais quanto mais dados sobre o funcionamento deles existem. Em outras palavras, quanto mais dados experimentais sobre neurônios específicos do cérebro, melhor nós conseguiremos modelar um computador. Teoricamente podemos imaginar uma situação em que, se for possível construir um modelo computacional completo do cérebro, seja possível prever um resultado para aquele sistema. Mas a limitação é que para fazer o modelo de experimentação computacional é necessário de toda forma os dados experimentais. A qualidade desse modelo é diretamente dependente dos dados experimentais que alimentam esse modelo. Ainda assim é uma iniciativa interessante porque reúne um grande número de cientistas e inevitavelmente vai criar uma rede multidisciplinar internacional de pesquisadores que vão disponibilizar seus dados experimentais para criar esse modelo.”
Marcos Romualdo Costa, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte