A internet tornou-se uma tecnologia essencial nos últimos anos, sendo disponibilizada praticamente em todos os espaços que contam com grande fluxo de pessoas, como shoppings, hospitais e aeroportos. Mas o uso da rede mundial de informações ainda é pouco explorado no transporte aéreo. Para mudar esse cenário, cientistas buscam formas de oferecer um serviço virtual de maior qualidade durante os voos, usufruindo da diversidade de recursos oferecidos pela conectividade. A expectativa é de que as soluções tecnológicas auxiliem a navegação nos ares e deixem as viagens mais confortáveis.
As redes de conexão atuais são bem mais eficientes do que cinco anos atrás, mas essa área ainda tem muito a evoluir, segundo profissionais da área. Não à toa, empresas dedicadas a esse nicho têm investido na construção e no envio de dispositivos tecnológicos avançados para longe da Terra. Um desses grupos é a SpaceX, que pertence ao multimilionário Elon Musk. Neste ano, o magnata e sua equipe colocaram em órbita os satélites Starlink, projetados para fornecer conexões de banda larga à internet em locais remotos do mundo.
De olho nessa tecnologia, pesquisadores das universidades da Califórnia e Estadual de Ohio, ambas nos Estados Unidos, desenvolveram um método que consegue localizar objetos na Terra com mais precisão. Os cientistas usaram dados de seis desses dispositivos da SpaceX e criaram um algoritmo capaz de processar o material coletado. “Escutamos o sinal e, em seguida, projetamos fórmulas matemáticas sofisticadas, capazes de gerar uma localização refinada”, explica Zak Kassas, engenheiro eletrônico e pesquisador da Universidade Estadual de Ohio.
Uma antena foi instalada no campus da Universidade da Califórnia para os testes. Com a nova solução, a equipe conseguiu localizá-la sem transtornos e com mais eficiência, comparando com o sistema de navegação mais usado, o GPS. O projeto ainda precisa ser aprimorado, mas os especialistas acreditam que a nova tecnologia poderá ajudar a melhorar a orientação no espaço aéreo.”Embora os satélites Starlink não tenham sido projetados para fins de navegação, mostramos que é possível explorá-los nessa área, o que pode render bons frutos”, afirma Kassas.
O pesquisador acredita que empresas diversas poderão usar esses satélites como um sistema alternativo e mais seguro que o GPS, que, atualmente, alimenta quase todas as redes de navegação ao redor do mundo. “Esses dispositivos são atraentes porque estão mais próximos da Terra do que os satélites do GPS, tornando seus sinais muito mais fortes e menos suscetíveis a interferências”, explica. “Essa é uma tecnologia que pode servir, inicialmente, como alternativa a uma rede principal, mas, caso evolua, pode se tornar nosso novo sistema de navegação padrão”, aposta.
Outro ramo promissor na área é voltado para refinar a internet disponibilizada em aviões. Com esse objetivo, pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, desenvolveram um dispositivo de captação de sinais (rede wi-fi) a ser usado em locais de difícil conexão. “Para disponibilizar acesso à internet em locais mais complicados, como aeronaves, muitos especialistas apostam no uso de pequenos microchips. Mas isso não é prático, não é barato, não é confiável e não é escalável em um nível de sistemas sem fio”, afirma Naveen Verma, autor do estudo e professor de engenharia elétrica e de computação da instituição de ensino americana.
O material criado por Verma e colegas é composto por três antenas feitas de filmes finos de óxido de zinco, com 30 centímetros de comprimento. Devido à sensibilidade do material e ao design de três pontas, semelhante a um ramo de folhas, o dispositivo consegue captar e repetir sinais de redes sem fio com facilidade, gerando acesso a redes de internet de alta velocidade, como 5G e 6G, em qualquer região, o que pode permitir uma comunicação rápida, segura e com baixo consumo de energia.
De acordo com os especialistas, o dispositivo, que é montado em bases simples, como plástico e papel, pode ser instalado na asa de aeronaves que sofrem com problemas de conexão devido a longas distâncias percorridas. “Em um avião, que é uma estrutura grande e faz longos trajetos, você perde muito da potência do sinal. As asas são uma área bastante grande. Então, se você tiver nelas um dos nossos receptores, não ajuda muito. Mas quando expandimos para o uso de vários deles e nos dois lados da aeronave, aumenta muito essa sensibilidade”, explica Verma. “Sempre buscamos uma tecnologia que pudesse ser dimensionada para essas grandes estruturas. Agora, conseguimos”, comemora.
Jéferson Nobre, membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), chama a atenção para a pouca oferta de soluções que melhorem a conectividade nos voos. “A vontade de melhorar o acesso às redes durante as viagens aéreas é algo latente, muitas empresas já se mexem nesse objetivo, buscando parcerias com empresas de celulares, por exemplo. Mas tudo isso ainda está meio que no papel. Porém, como o interesse é grande, não deve demorar para termos uma evolução nesse nicho, com novas tecnologias, como esse receptor americano”, avalia.
O especialista brasileiro lembra, ainda, que tecnologias desenvolvidas com foco no turismo espacial podem impactar positivamente o sistema aéreo. “Além da SpaceX, temos muitos outros empresários que estão investindo milhões em recursos que aprimoram a viagem ao espaço, porque é um mercado que todos querem explorar nos próximos anos. Nessa busca, tudo pode ser aproveitado em aviões comerciais, não só em termos de velocidade, mas de qualidade do voo”, afirma. “Em pouco tempo, teremos viagens mais rápidas, menos transtorno durante os trajetos e um maior conhecimento do perfil dos passageiros. Tudo isso com o auxílio da internet.”
Fonte: Correio Braziliense