“A música de John Williams certamente tem uma marca bastante pessoal que permeia uma parte relevante de sua obra, mas — se nos anos 1970 e 1980 suas trilhas se confundem com o fenômeno do blockbuster — a música dele conseguiu ir além do mero entretenimento e da narrativa fantástica, e isso fica bem perceptível nas trilhas mais austeras dele”, observa Tomaz Alves Souza, autor da trilha sonora do premiado Bacurau. Focada em toda esta abrangência de tons, Sonora: John Williams, uma mostra no CCBB, chega à reta final, a ser encerrada em 4 de março, depois de apresentar, com entrada franca, 27 filmes relacionados ao talento de Willliams, o mais experiente indicado ao Oscar (até hoje, foram 52 delas).
Entre as novidades dos últimos dias de projeção, três sessões terão cópias dubladas, e serão apresentadas no teatro do CCBB, às 17h. A programação contempla Harry Poter e o prisioneiro de Azkaban (2004), neste sábado (26/2); Jurassic Park (1993), no domingo (27/2) e, na terça (1º/3), um dos filmes mais amados de todos os tempos — E.T., O extraterrestre (1982).
“A principal característica de John Williams são os temas musicais, o uso do Leitmotiv (motivo condutor), normalmente frase musicais curtas que se repetem constantemente e marcam um determinado personagem ou ação do filme, no qual Williams utiliza um mesmo tema de várias formas diferentes, no mesmo filme”, comenta o curador da mostra Rafael Bezerra. Pelo que explica, são temas que soam heroicos, grandiosos, e daí o compositor (hoje, aos 90 anos) utilizar muito o intervalo de notas musicais conhecido como quinta justa nas trilhas sonoras. “Outra característica curiosa é a utilização da técnica do ‘Mickey mousing’, onde a música acompanha e reflete os movimentos dos personagens, que é muito usada em desenhos animados, técnica desqualificada por muitos compositores de Hollywood”, como explica Bezerra.
Parceiros fortes
Antes das parcerias com diretores como Clint Eastwood, Steven Spielberg e Oliver Stone, Williams foi consagrado pianista e orquestrador (para filmes de Billy Wilder), e estudou em centros conhecidos pela excelência, caso de UCLA e da Juilliard School. A versatilidade dele fica patente, na mostra do CCBB. A trajetória de aventuras como Os cowboys (a ser mostrado no sábado, 26/2, às 16h) e Os caçadores da arca perdida (atração das 19h) confirmam a estatura do mestre. Em Os cowboys (1972), John Wayne e Bruce Dern dividem o estrelato, no filme em que um fazendeiro treina jovens para substituir experientes vaqueiros que, anteriormente, lidavam com o gado dele. Domingo (27/2), às 19h, o CCBB trará Star Wars: O império contra-ataca na programação.
“John Williams é um músico de formação tradicional à maneira dos compositores do século 19 e começo do século 20, e que também é muito producente e rápido, uma vez que também compôs para seriados de televisão, para além de sua extensa filmografia. Provavelmente, o que melhor explique sua longa carreira é o seu profissionalismo, uma grande capacidade de adaptação a diferentes projetos e muita facilidade para criar melodias memoráveis. As trilhas para grandes sucessos de bilheteria certamente são os pontos chave de sua carreira, pois além dele ter ajudado a criar alguns marcos culturais do entretenimento de massas, ele terminou por desenvolver um novo vocabulário para a música de cinema, principalmente o chamado cinema comercial”, conclui Tomaz Souza.
Fonte: Correio Braziliense