A taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal segue em queda e, ontem, atingiu o menor índice registrado desde o início da medição para a pandemia na capital do país: 0,64 — quando 100 infectados passam o novo coronavírus para 64 pessoas. Reflexo dessa diminuição que vem sendo observado há semanas, é o número de mortes diretamente ligado à doença. Nos dois primeiros meses deste ano, a crise sanitária tirou a vida de 414 brasilienses, e a principal causa de óbitos, no mesmo período, no DF, passou a ser a pneumonia, com 504 vítimas.
Embora a infecção pulmonar tenha matado mais brasilienses em 2022 do que a covid-19, a doença causada pelo SARS-CoV-2 está ligada ao aumento da incidência de pneumonia entre os óbitos. É o que explica Werciley Junior, coordenador da Infectologia do Hospital Santa Lúcia. Segundo o infectologista, quando a covid-19 não causa morte imediata, as chances de o paciente desenvolver pneumonia são grandes. “O óbito pode ser relacionado diretamente à covid-19, quando o paciente tem falência pulmonar, por exemplo. Mas a infecção pelo novo coronavírus que não leva ao óbito imediato pode propiciar chances de a pessoa ter pneumonia e, com isso, morrer em decorrência dela, como reação secundária à covid-19”, detalha o médico.
Em janeiro e fevereiro de 2021, 489 pessoas perderam a vida por complicações do novo coronavírus, enquanto 309 indivíduos morreram após contrair pneumonia. No primeiro bimestre de 2020, quando o DF não havia registrado nenhuma morte em decorrência da pandemia, a pneumonia já era a doença mais letal na capital federal, quando fez 447 vítimas, seguida por septicemia (infecção generalizada), que matou 330 cidadãos.
Luto
Foi assim que o advogado Vinícius Marchi Reis, 23 anos, perdeu a mãe. Delia Motta Marchi Reis, 48, faleceu em decorrência de uma pneumonia causada por complicações da covid-19. Ela ficou 19 dias internada em um hospital particular de Taguatinga, dos quais 16 foram na unidade de terapia intensiva (UTI) e nove, intubada. O advogado relata que, apesar do sintoma inicial da covid-19, a mãe não estava infectada quando faleceu. “Na certidão de óbito, a médica que assinou explicou que ela poderia ter velório, porque não estava mais com a infecção ativa. A causa foi por pneumonia, mesmo”, conta.
Além da covid-19, o infectologista Werciley Júnior destaca que o aumento das mortes por pneumonia pode estar ligado à queda na imunização contra a doença. “A pneumonia é sazonal e bimodal, ou seja, se manifesta, principalmente, em dois períodos da vida, atingindo muitas crianças, ainda com baixa maturidade, e idosos. Houve aumento da internação de pessoas idosas, no fim do ano passado e começo deste ano, e diminuição da taxa de imunização com a pneumocócica, a vacina contra a pneumonia”, explica.
De acordo com o médico, dentre as causas respiratórias de mortes, a infecção pulmonar sempre figurou, em todas as séries históricas, como a maior e a mais prevalente em todas as faixas etárias, principalmente entre os idosos. A septicemia (infecção generalizada) foi a terceira maior causa de óbitos no DF nos dois primeiros meses deste ano, com 391 vítimas. Assim como a pneumonia, a infecção generalizada também pode estar ligada à covid-19.
Adele Vasconcelos, médica intensivista e coordenadora do Pronto-Socorro do Hospital Santa Marta, em Taguatinga, relata que o atendimento em janeiro deste ano foi atípico em relação aos demais anos. “No histórico do Hospital Santa Marta (Taguatinga) e do Hospital Santa Marta Asa Norte, nunca tínhamos vivenciado, neste período, um aumento tão expressivo de casos respiratórios e no número de pacientes internados por outras causas”, observa.
Cardiologista do Hospital Brasília/Dasa, Vitor Barzilai frisa que as pessoas internadas por complicações da covid-19 costumam ficar muito tempo nas unidades de saúde, o que as deixa mais expostas a eventos vasculares, como o AVC. “Boa parte delas acaba evoluindo para pneumonia secundária. A própria pneumonia por covid-19 não é causa base, mas pode ser causa imediata do óbito. Com a septicemia, é a mesma coisa, por ser uma infecção secundária sistematizada com qualquer foco infeccioso — na maioria das vezes pulmonar ou relacionado a dispositivos invasivos em terapia intensiva”, afirma.
Mortes no DF
Confira os principais motivos que levaram os brasilienses a óbito em janeiro e fevereiro dos últimos anos
2019
Pneumonia: 415
Septicemia: 320
AVC: 190
Causas cardiovasculares inespecíficas: 171
Infarto: 145
Total: 2.120
2020
Pneumonia: 447
Septicemia: 330
AVC: 190
Causas cardiovasculares inespecíficas: 191
Infarto: 154
Total: 2.212
2021
Covid-19: 489
Septicemia: 316
Pneumonia: 309
Causas cardiovasculares inespecíficas: 212
AVC: 157
Infarto: 150
Total: 2.796
2022
Pneumonia: 504
Covid-19: 414
Septicemia: 394
AVC: 229
Causas cardiovasculares inespecíficas: 230
Infarto: 161
Total: 2.995
Fonte: Portal da Transparência – Registro Civil
Pneumocócica
O Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde disponibiliza via Sistema Único de Saúde (SUS) três tipos de vacinas pneumocócicas — para crianças até 5 anos, para idosos acamados e/ou institucionalizados e para pacientes com condições especiais, como aids, câncer e transplantados. As vacinas estão disponíveis em todas as salas de vacina do DF, para os indivíduos citados, e podem ser recebidas a qualquer momento por essas pessoas, respeitados os esquemas e intervalos de aplicação.
Fonte: Correio Braziliense