A primeira temporada eleitoral, a de filiação partidária e desincompatibilização de autoridades, termina com a perspectiva de uma terceira via à Presidência da República menos pulverizada do que estava em janeiro. Embora todos ainda se apresentem como pré-candidatos, a conversa não é mais a de ser postulante a qualquer preço, como era João Doria, ou personalistas, como era o ex-juiz Sergio Moro dentro do Podemos. A “piscada” que Doria deu esta semana, quando cogitou permanecer no governo de São Paulo, e a de Moro, mudando de partido, mostram que essas candidaturas, à primeira vista, se enfraqueceram.
João Doria jogou com a ameaça de implodir o PSDB de São Paulo e quase lançou ao espaço o acordo para o vice-governador Rodrigo Garcia concorrer como candidato à reeleição ao governo estadual. Agora, fecha esse período com uma carta do presidente do partido, Bruno Araújo, dando-lhe a garantia de que representará o PSDB na corrida pelo Planalto. Mas daí até a convenção, em julho, será outra novela. Os apelos para que Doria saísse do cargo foram mais no sentido de fazê-lo cumprir o acordo com Garcia do que propriamente disputar o Planalto. Daqui para a frente, o ex-gestor paulista terá de, com muita humildade, tentar convencer os próprios tucanos e as demais legendas de que é a melhor opção para representar esse bloco do centro, o que, até aqui, não se confirmou, nem de acordo com as pesquisas eleitorais nem no sentimento dos próprios partidários dele.
Os tucanos estão para lá de divididos. O grupo que deseja a candidatura de Eduardo Leite — que ontem deixou o governo do Rio Grande do Sul — à Presidência da República vai balançar o palanque de Doria até as convenções partidárias, que podem ser feitas de 20 de julho a 5 de agosto. Ou seja, ainda há muito tempo pela frente, e o PSDB não encontrou, nessa primeira fase, um caminho para unificar o partido. Para completar, a solenidade em que Doria anunciou a sua saída não teve a presença dos grandes líderes do PSDB, embora contasse com Bruno Araújo, que deu a mão ao ex-governador com um sorriso que denunciava falta de espontaneidade. Os prefeitos tucanos do interior de São Paulo, porém, fizeram as honras da casa e carregaram Doria nos ombros, quando ele deixou o auditório, em sinal de gratidão pelo trabalho do gestor.
Ao mesmo tempo em que Doria saía carregado do auditório, Moro entrou praticamente sozinho no União Brasil. A filiação foi anunciada de forma “intimista”, quase escondida, quando comparada à festa feita pelo Podemos, em novembro do ano passado, quando Moro anunciou seu ingresso na política. Nenhum grande líder da legenda estava presente no anúncio. Essa chegada sem muita pompa é um sinal de que o partido resultante da fusão do DEM com o PSL recebe o ex-juiz num patamar diferente daquele em que ele estava dentro do Podemos. Ali, o ex-ministro da Justiça fazia o que queria. No União Brasil, a conversa é outra.
A sigla que recebe Moro é hoje tão dividida quanto o PSDB de Doria e Aécio Neves (MG). No “UB”, nem sequer o lançamento de uma candidatura presidencial é consenso. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto, por exemplo, um dos quadros mais importantes do partido, está focado na eleição para governador da Bahia. Os integrantes da agremiação no estado garantem que Neto não deseja candidato a presidente da República. Com a preferência do eleitorado baiano por Lula, aliados de Neto ensaiam desde já o “Luneto”, Lula-Neto, repetindo o “Lulécio” (Lula-Aécio), de Minas Gerais, em 2006, ou o “Bolsodoria”, (Bolsonaro-Doria), de 2018, em São Paulo.
Dificuldades
Os cenários e conjunturas, tanto da saída de Doria do governo do estado de São Paulo quanto do ingresso de Moro no União Brasil, indicam que ambos terão muito trabalho para emplacar como o candidato capaz de quebrar a polarização. Doria continuará enfrentando Eduardo Leite, que permaneceu no PSDB, mas jogará por fora do partido, tentando criar um movimento em torno de seu nome. Moro, por sua vez, depende das conversas de Luciano Bivar, o presidente do União Brasil. Não está descartado, inclusive, que seja candidato a deputado federal por São Paulo, para ajudar na construção de uma bancada forte.
As demais opções interessadas em angariar apoios para concorrer ao Planalto são, hoje, a senadora Simone Tebet (MDB), que segue com sua pré-campanha; Ciro Gomes, pelo PDT, que será candidato e não participa das conversas dos grupos que desejam construir uma candidatura única; e, ainda, André Janones, de Minas Gerais, outro que corre por fora e está longe das conversas entre PSDB, União Brasil e MDB. E quem representará esses três partidos é o tema da segunda temporada desta série sobre as eleições de 2022. De novembro do ano passado, quando Moro se filiou ao Podemos e Doria venceu as prévias, o cenário mudou totalmente. Agora, serão mais quatro meses até as convenções e, pelo que se desenha no horizonte, outras mudanças virão.
Fonte: Correio Braziliense