Após 21 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Niterói absolveu Carlos Ubiraci Francisco da Silva , filho afetivo de Flordelis, pela morte do pastor Anderson do Carmo. Carlos respondia por homicídio triplamente qualificado. Apesar da absolvição por homicídio, ele foi condenado por associação criminosa.
Os outros três réus, Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico de Flordelis), Marcos Siqueira Costa (ex-policial militar) e Andrea Santos Maia (mulher de Marcos Siqueira) foram condenados por uso de documento falso duas vezes e por associação criminosa armada (veja as penas abaixo).
Esse documento falso foi uma carta forjada a fim de inocentar Flordelis. Segundo as investigações, Marcos teria auxiliado a esposa na mensagem falsa em que Lucas teria revelado que Mizael, outro filho adotivo de Flordelis, teria oferecido a ele um emprego e um carro em troca de um “susto” em Anderson do Carmo.
As penas:
- Adriano dos Santos Rodrigues: quatro anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto;
- Andrea Santos Maia: quatro anos, três meses e dez dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto;
- Carlos Ubiraci Francisco da Silva: dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto;
- Marcos Siqueira Costa: cinco anos e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado.
Ângelo Máximo, assistente de acusação e advogado de defesa da família de Anderson, vai recorrer. “Para reverter essa absolvição, anular a sentença em relação ao Carlos e trazer ele a um novo julgamento perante ao tribunal do júri de Niterói”.
Mais réus serão julgados
Cinco réus devem ser julgados no dia 9 de maio:
- Flordelis dos Santos Souza: denunciada como a mandante da execução, a ex-deputada e missionária responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada;
- André Luiz de Oliveira: filho adotivo de Flordelis, responde por uso de documento falso e associação criminosa armada;
- Marzy Teixeira da Silva: filha adotiva de Flordelis, responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada;
- Rayane dos Santos Oliveira: neta biológica de Flordelis, responde por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada;
- Simone dos Santos Rodrigues: filha biológica de Flordelis, responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.
O julgamento de André Luiz de Oliveira, outro filho de Flordelis, que também estava previsto, foi adiado pois o advogado passou mal.
Dois filhos condenados
No dia 24 de novembro de 2021, o Tribunal do Júri de Niterói condenou Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada.
Ele foi denunciado como autor dos disparos de arma de fogo que provocaram a morte do pastor Anderson do Carmo de Souza, marido da ex-parlamentar, morto a tiros no dia 16 de junho de 2019.
Na mesma sessão de julgamento, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.
O que disseram os réus
Adriano explicou para a acusação que, depois da morte de Anderson, a família se dividiu entre o lado de Misael e de Flordelis. De início ficou isento e depois se aproximou da mãe.
À defesa, disse que buscou uma carta na casa de Andrea, mas não sabia o conteúdo. Disse que teve conhecimento sobre quando viu na TV.
Essa carta, segundo os promotores, foi forjada a mando de Flordelis para que Luca confessasse o crime.
Andrea, mulher do ex-PM Marcos, negou ter trocado mensagens com Flordelis sobre copiar a carta.
Ela revelou ter medo de ser morta “porque tinha muita cobrança por parte de Flordelis”. Recebeu vários depósitos para fazer intermediações das cartas. Um deles foi de R$ 2 mil para compra de itens pessoais.
Marcos disse que não tinha muito contato com Lucas e Fábio, que só os via em banho de sol na prisão.
A defesa de Carlos alegou que a própria promotoria admitiu não ter provas contra o cliente e que há chance de absolvição. “Carlos foi omisso e conivente, mas não teve participação direta”, declarou a defesa.
A defesa de Adriano disse que o cliente não participou do crime, que não tinha arma e que não sabia do conteúdo da carta.
Testemunhas no primeiro dia
Doze pessoas foram ouvidas no primeiro dia. O g1 reuniu os principais momentos dos testemunhos da acusação. Confira abaixo.
1. Bárbara Lomba, primeira delegada a investigar o caso
Ex-titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), Bárbara Lomba foi a primeira delegada a investigar o crime.
Ela disse que um dos principais motivos do descontentamento de Flordelis e outros filhos com o pastor Anderson era o enorme poder adquirido por ele depois que a pastora foi eleita deputada federal, em 2018.
“Embora não tenha assumido nenhuma função formal, ele era praticamente o deputado. Ele fazia a articulação política dentro do parlamento, para eleições municipais. Ele tinha objetivos: conseguir tantas prefeituras, quantos municípios”
Segundo ela, havia mensagens de Anderson direcionando as atitudes da ex-deputada:
“Você tem que olhar para tal pessoa, sentar do lado dele”.
2. Allan Duarte, delegado que indiciou Flordelis como mandante do crime
Duarte foi categórico ao afirmar que a ex-deputada Flordelis foi a mentora da morte do pastor.
“A iniciativa foi da Flordelis, ela foi a mentora. Os demais indiciados agiram de acordo com ela, mas ela foi a mentora”.
Ele também negou que tenha ficado comprovado a tese de que Anderson do Carmo agredia a ex-deputada federal.
“Não ficou comprovado que Anderson promovia violência doméstica contra Flordelis. Há notícia que dele que promovia agressão contra crianças da casa, mas nada foi comprovado”, disse.
3. Luana Rangel Pimenta, nora de Flordelis
Luana descreveu o pastor Anderson do Carmo como “enérgico, controlador e extremamente apaixonado”.
“Ele cuidava de tudo. Era 24 horas trabalhando. Era uma máquina, cuidava do que ela ia falar, cantar. Para qualquer coisa acontecer, precisava da ideia do pastor, do aval dele”, lembrou.
Ex-mulher de Misael, Luana disse que havia uma divisão na família entre os filhos prediletos de Flordelis e os outros, e que o pastor ficava com a maior parte do dinheiro, o que gerava insatisfação.
“Os filhos preferidos não entendiam por que o pastor ficava com a maior parte do dinheiro, e a Flor também ficava insatisfeita, mas nunca falou em separação. Falava que separar ia pegar mal para a igreja. Ela falava que Deus ia levar ele. Que até o final do ano ele iria morrer”, disse.
Disse ainda que após a morte do pastor, a ex-deputada pediu aos filhos para deixarem a tristeza de lado e seguirem no planejamento de um congresso.
“Pega o luto de vocês e deixa para depois de setembro. Depois do congresso”, contou.
4. Wagner Pimenta – “Misael”, filho adotivo e Flordelis
Basicamente corroborou tudo que a mulher disse momentos antes em seu depoimento.
5. Aleksander Matos Mendes, conhecido como Luan Santos, filho adotivo de Flordelis
“Quando vi no noticiário, achei que era tipo uma cúpula”, disse sobre os familiares envolvidos no crime.
Falou ainda que após o crime conversou com Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho afetivo do casal e um dos réus do caso.
“Luan, já pensou se foi a mãe que mandou matar o pai? Se ela mandou matar ele, ela pode mandar matar a gente”.
Ele disse que foi “tido como ovelha negra” e só teve contato com a família até o enterro.
9. Raquel dos Passos Silva, filha biológica de Carlos
Outra filha de Carlos Ubiraci também descreveu um pai completamente dependente e contou que a situação da casa de Flordelis piorou muito depois da morte de Anderson do Carmo.
“Meu pai só ficava coordenando a casa e cumpria o que Flordelis determinava”, contou.
“Depois da morte do pastor, a alimentação na casa piorou. Teve um episódio em que as crianças estavam brigando por causa de ovo. Em outra situação era arroz com arroz mesmo. Isso é claro entre os não favoritos. Já teve dia de a gente estar comendo arroz com salsicha e a Lorraine comendo salmão”, contou.
10. Paulo Alexandre Freires, filho afetivo de Flordelis (testemunha de defesa)
Testemunha não agregou muito julgamento, pois disse que trabalhava muito na rua e não sabia o que se passava na casa dos pais pastores.
Fonte: G1