Após cinco anos sem enxergar, Carmem dos Santos, de 77 anos, pôde rever sua família nesta semana. A idosa conseguiu fazer a cirurgia para retirar uma catarata grave, e o momento em que abriu os olhos foi registrado pela oftalmologista Lorena Gouvêa, que trabalha como residente no Hospital Federal de Servidores do Estado (HFSE), no Rio de Janeiro, e trabalhou no caso.
A médica conta que Carmem já havia passado por outras unidades hospitalares menores antes de chegar ao HFSE, mas não conseguiu fazer a cirurgia, pois, por ser uma paciente com hipertensão, diabetes, déficit cognitivo e motor, tinha alto risco cirúrgico.
“Assim que eu soube do caso da dona Carmê, eu logo me interessei, logo fui atrás, combinei com a filha dela de operar”, conta Lorena. “Ela tem uma catarata que a gente classifica como catarata branca (um tipo avançado da doença) em ambos os olhos, então, de acordo com os filhos, há cinco anos ela já corria atrás dessa cirurgia. Há cinco anos ela não enxergava de ambos os olhos.”
A filha da idosa, a técnica de telecomunicações Mariangela dos Santos, conta que já haviam ido a cinco consultas no HFSE, mas só havia vaga para a cirurgia em 30 de maio. “Marcamos na terça-feira para maio, e fomos esperar. Só que na tardezinha de quarta-feira, a doutora ligou avisando que operar minha mãe na quinta!”, diz. “Ela foi um anjo na vida da minha mãe, deixou ela bem confiante e bem calma.”
A oftalmologista relata que se emocionou tanto com o caso que resolveu ir ao hospital em sua folga, na última sexta-feira (15/4), para acompanhar o pós-operatório de Carmem. “Eu sabia o quanto seria gratificante poder presenciar esse momento, então resolvi sair de casa e ir lá para que eu mesma pudesse avaliar o pós-operatório e ver a reação dessa família, né?”, diz.
“A gente precisa também às vezes desse estímulo. A gente vê também muitas muitos casos tristes, pessoas que às vezes a gente faz o máximo, mas não consegue ajudar, então, quando a gente tem estes momentos em que podemos ajudar, fazer a diferença na vida da pessoa, acho muito importante aproveitar, vivenciar, para dar um ânimo, dar um gás, para que a gente possa sempre estar fazendo o nosso melhor.”
Retirada do curativo
Ver o resultado da cirurgia era um momento muito aguardado tanto pela médica quanto pela família, mas principalmente por Carmem. Mariangela conta que a idosa não conseguiu conhecer os rostos dos três bisnetos, um de 3 anos, outro de 11 meses, e o mais novo, de 20 dias.
“Teve festas de 15 anos, casamentos, o nascimento dos binestos, e ela sempre chorava, perguntava por que iria se não conseguiria ver”, diz Mariangela. “Agora, vai poder ver os bisnetos.”
No momento em que o resultado da cirurgia seria revelado, então, a emoção foi tamanha que a oftalmologista chamou toda a família de Carmem para dentro da sala. “Eu deixei que todos os filhos dela, o cunhado, que todo mundo entrasse para poder viver essa emoção, porque era algo esperado e eu sabia que tinha dado tudo certo, que ia ser uma emoção muito grande”, conta.
Até mesmo os outros médicos e pacientes que estavam na unidade ficaram comovidos, e a data contou até com a distribuição de fatias de bolo, levado por Mariangela, para os presentes. “Nós até compramos um bolinho para todos que também operaram, cantamos parabéns, fizemos uma festinha”, diz a filha.
“Para a gente que é oftalmo, uma das maiores alegrias, se não a maior alegria, é devolver a visão. Poder inserir esse paciente de novo na vida social dele, devolver qualidade de vida é a maior satisfação que a gente pode ter”, finaliza Lorena.
Fonte: Metrópoles