Esta reportagem foi atualizada no dia 26 de abril de 2022.
A eleição presidencial de 2022 tende a gerar grande polarização, com Jair Bolsonaro (PL) disputando a reeleição e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentando retornar à Presidência da República para um terceiro mandato.
Mas pré-candidatos de esquerda, centro e direita tentam se viabilizar como “terceira via”, entre eles Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB). O ex-juiz Sergio Moro havia sido anunciado como pré-candidato pelo Podemos em novembro passado, mas na quinta-feira (31/03) abriu mão da corrida após se filiar ao União Brasil.
Já o PSDB escolheu o governador de São Paulo, João Dória, como pré-candidato do partido à eleição. Mas ele terá a tarefa difícil de resgatar a relevância do partido na corrida presidencial. Em 2018, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, ficou em quarto lugar no primeiro turno, com pouco mais de 4% dos votos.
Após rumores de que abandonaria a corrida, Dória afirmou que seguirá na disputa pelo Planalto. O candidato confirmou a informação durante um evento com prefeitos e vereadores do estado de São Paulo no final de março.
Cabo Daciolo (PMB), por sua vez, anunciou em meados de março ter desistido de se candidatar novamente à Presidência e declarou voto em Ciro. Em 2018, Daciolo ficou em 6º lugar com 1,3 milhão de votos – 1,26% do total.
Até agora, existem três mulheres entre pré-candidatos à Presidência da República: Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB). A lista definitiva de candidatos só vai ser definida nas convenções partidárias que vão ocorrer entre 20 de julho e 5 de agosto de 2022.
A BBC News Brasil lista aqui as pessoas que, pouco menos de um ano antes da eleição, já foram lançadas como pré-candidatas — e os desafios que cada uma tem a enfrentar.
Jair Bolsonaro, pelo PL
O presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição pelo Partido Liberal, legenda de Valdemar Costa Neto, um dos condenados no escândalo do mensalão. Atualmente, um dos principais desafios de Bolsonaro é a baixa popularidade. baixa. em baixa. Segundo pesquisa divulgada em março pelo Datafolha, 46% dos brasileiros avaliam seu governo como ruim ou péssimo. Seu governo é aprovado por apenas 25% dos entrevistados.
Alguns elementos contribuíram para essa queda: a reação do governo à pandemia do coronavírus; os escândalos envolvendo filhos do presidente, especialmente o chamado caso das “rachadinhas”; e as acusações relacionadas à compra de vacinas contra a covid. Mais recentemente, seu governo foi atingido por suspeitas de irregularidades praticadas no Ministério da Educação. As suspeitas são de que pastores evangélicos estariam cobrando propina de prefeitos em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). O governo alega que determinou que o caso fosse investigado, mas o caso já levou à queda do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
A crise econômica, com alta contínua da inflação, e o aumento da pobreza também podem significar desafios para a reeleição de Bolsonaro. Por outro lado, o aumento do valor do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) pode ajudar a recuperar parte dos votos. Bolsonaro deu novo nome ao Bolsa Família, numa tentativa de imprimir marca própria na assistência social. O presidente também conta com uma base de eleitores fiéis dispostos a ir às ruas para defender suas posições, como ocorreu nos protestos de 7 de setembro.
“O principal desafio de Bolsonaro é a avaliação ruim do seu governo, conforme mostram pesquisas de opinião”, disse à BBC News Brasil o cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Tem bolsonaristas que não abandonam Bolsonaro, mas tem os bolsonaristas de ocasião, que podem abandonar Bolsonaro e ir para outros candidatos de direita, principalmente para Sérgio Moro”, avalia.
Para Couto, Bolsonaro tem dois desafios pela frente que não existiam na eleição de 2018. Primeiro, ele vai ter que centrar força na campanha em atacar dois candidatos: Sérgio Moro, seu principal adversário na disputa para chegar ao segundo turno; e Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.
“Em 2018, Bolsonaro só precisava atacar Lula. Ele era o candidato do antipetismo. Agora, tem Moro como alternativa e ele vai precisar centrar fogo em duas frentes no primeiro turno”, diz Couto.
O segundo desafio é o fato de que Bolsonaro terá mais dificuldade para sustentar o discurso de combate à corrupção, especialmente após as denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a covid e as acusações de que tentou interferir em investigações da Polícia Federal.
Se antes de se eleger presidente Bolsonaro era um dos principais defensores da Lava Jato, foi durante seu governo que a força tarefa foi desmantelada e o ritmo das investigações se reduziu consideravelmente.
“Para Bolsonaro o discurso anticorrupção foi perdido e foi perdido por conta dos problemas na família, o envolvimento em compra de vacina, e o favorecimento de seus aliados do Centrão. Esse discurso, a não ser para quem acredita que o PT detém o monopólio da corrupção, não vai colar como em 2018”, diz Couto.
Bolsonaro está, atualmente, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás apenas de Luiz Inácio Lula da Silva. Num eventual segundo turno com Lula, ele poderá voltar a personificar o antipetismo que o ajudou a se eleger em 2018.
Luiz Inácio Lula da Silva, pelo PT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvia aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República, seguido por Bolsonaro e Sérgio Moro. Desde que teve sua condenação por corrupção anulada pelo Supremo Tribunal Federal, sua candidatura pelo PT à Presidência é tida como certa por políticos do partido.
Embora, não tenha confirmado que irá concorrer, o ex-presidente tem participado de eventos para discutir propostas para o Brasil, vem se reunindo com setores da sociedade, como lideranças evangélicas, e até rodou a Europa para dialogar com chefes de Estado e de governo.
O principal obstáculo do ex-presidente é o antipetismo, que ainda deve ter peso na próxima disputa presidencial, com eleitores buscando alternativas numa terceira via ou recorrendo a Moro ou Bolsonaro para evitar um retorno de Lula. Apesar disso, as últimas pesquisas de opinião mostram que a rejeição do ex-presidente é menor que a dos outros quatro candidatos mais competitivos na disputa. Uma das estratégias do PT para diminuir a resistência ao nome de Lula foi o anúncio de que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) será o seu candidato a vice, caso a candidatura seja confirmada.
Lula aprece com 43% de rejeição na pesquisa de intenção de voto da Quaest/Genial, divulgada no dia 8 de dezembro, enquanto 64% dizem que não votariam em Jair Bolsonaro (PL). Já Sergio Moro (Podemos) tem 61% de rejeição, Ciro Gomes (PDT), 55% e João Dória (PSDB), 59%.
“O Lula tem a dificuldade de vencer o antipetismo. Mas isso está mais fraco do que foi anteriormente. Uma parte dos problemas que originou o antipetismo, que é o escândalo de corrupção, se dissolveu pelo tempo que passou, são escândalos já precificados”, avalia Claudio Couto, da FGV..
Lula tem a vantagem de, ao menos por enquanto, só ter Ciro Gomes (PDT) como adversário de esquerda na disputa. Todos os demais pré-candidatos são associados à centro-direita ou direita. Isso garante a ele maior facilidade para chegar ao segundo turno.
“Lula, de todos os candidatos, é o que pode estar na posição mais confortável. Ele tem na esquerda um apoio consolidado. Ciro Gomes, ao bater forte em Lula e Dilma, como tem efeito, abdicou de parte do eleitorado da esquerda”, diz Couto.
Sergio Moro, pelo União Brasil
Em 10 de novembro, o ex-juiz Sergio Moro se filiou ao Podemos numa cerimônia na qual o partido o anunciou como “futuro presidente da República”. Quatro meses depois, no final de março, Moro anunciou que estava trocando de partido e se filiando ao União Brasil.
A possível candidatura de Moro, é uma das principais dúvidas na lista de presidenciáveis. Isso acontece porque a sua filiação ao União Brasil causou reações na cúpula do partido, que rechaçou as pretenções de Moro para se candidatar à Presidência. A legenda quer que ele seja candidato a deputado federal, mas Moro já disse que isso não faz parte dos seus planos.
Nos últimos dias, Moro modulou o discurso e diz que é um “soldado” do chamado campo democrático, um grupo de partidos que tenta construir uma candidatura viável para além das chapas de Lula e Bolsonaro.
Depois de deixar os processos da Operação Lava Jato, renunciar ao cargo de juiz, entrar para a política como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e pedir demissão, Moro seria o principal adversário do atual presidente na disputa para o segundo turno da eleição presidencial de 2022.
Nas primeiras pesquisas de intenção de voto realizadas após a filiação ao Podemos, o ex-juiz aparecia em terceiro lugar na disputa, atrás de Lula e Bolsonaro. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 16 de dezembro apontava Lula com 48% das intenções de voto no primeiro turno, Bolsonaro em segundo lugar, com 22%, e Moro em terceiro, com 9%.
“Ele tem chances de roubar votos de Bolsonaro, já que parte do eleitorado do presidente também é ‘morista’ ou ‘lavajatista'”, avalia Claudio Couto, da FGV.
Por outro lado, Moro terá o desafio de comprovar que suas capacidades vão além do discurso anticorrupção. Também terá de enfrentar as acusações de que agiu com parcialidade nos julgamentos da Lava Jato e de que cometeu abusos durante a investigação. Mas ele tem espaço para conquistar votos de antipetistas, e pode roubar parte do eleitorado do PSDB que desaprova Bolsonaro, mas também não quer o retorno de Lula.
“Ele vai ter que demonstrar que consegue dominar outros temas e fazer promessas críveis. Apostaria numa disputa entre Moro e Bolsonaro para chegar ao segundo turno. Os dois vão se vender como baluartes do antipetismo, mas Moro vai precisar comprovar que é mais que um ex-juiz”, diz Couto.
João Dória, pelo PSDB
O governador de São Paulo, João Dória, foi escolhido para ser candidato do PSDB após vencer o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, em prévias realizadas pelo partido.
Durante a pandemia do coronavírus, Dória se projetou ao adotar postura oposta à de Bolsonaro na reação à crise. Nos picos de infecção, ele defendeu lockdowns, fechamento de comércio e restaurantes e medidas de isolamento social, além de ter investido, por meio do Instituto Butantan, na produção da CoronaVac, a primeira vacina a ser disponibilizada no Brasil contra a covid-19.
Para se cacifar nacionalmente, a tendência é que ele se apresente como “o candidato da vacina” contra covid, ou seja, como alguém que reagiu à crise. Mas pesquisas de intenção de voto realizadas até agora o colocam na quarta ou quinta posição no primeiro turno.
O PSDB vem passando por um processo de desgaste interno e, na última eleição presidencial, candidato tucano Geraldo Alckmin só alcançou 4% dos votos no primeiro turno — resultado considerado desastroso para um partido que sempre figurava em primeiro ou segundo lugar na disputa presidencial desde 1994.
Além disso, Dória enfrenta resistências dentro do próprio partido e corre o risco de ser alvo de “fogo amigo” durante a campanha. “Há chance de integrantes do PSDB apoiarem outros candidatos de centro e direita, como Sérgio Moro”, diz Claudio Couto, da FGV.
Dória também vai enfrentar o desafio de convencer o eleitorado de outras regiões do país, especialmente do Nordeste, que não é um político centrado nos interesses e desafios de São Paulo e do Sudeste.
“Dória ainda tem uma imagem antipática fora de São Paulo, de alguém muito distante da realidade das regiões mais pobres do país. Ele precisa vencer essa resistência e terá a tarefa de comprovar que tem sensibilidade para questões de outros Estados”, avalia o professor de ciência política da FGV.
Ciro Gomes, pelo PDT
O PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes à Presidência no dia 21 de janeiro, em ato na sede do partido em Brasília. Esta será a quarta vez que Ciro Gomes concorre ao cargo. Em 2018, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 12,5% dos votos.
Ele também concorreu à Presidência em 2002 e 1998. Candidato associado à esquerda ou centro-esquerda, Ciro Gomes tenta novamente despontar como terceira via, ou seja, alternativa a Lula e Bolsonaro.
A seu favor, ele conta experiência política, numa eleição que não dará o mesmo peso a “outsiders” ou figuras antipolíticas como a de 2018. Ciro foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal, governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco e Lula.
Ele passou por sete partidos e deve concorrer à eleição de 2022 pelo PDT. Para fazer frente à candidatura de Lula, Ciro tem adotado uma estratégia de ataque, criticando fortemente o ex-presidente petista.
“Lembre que o Brasil mudou muito e Lula não renovou as ideias. Será que ele se corrigiu e não vai repetir aqueles erros terríveis que você só descobriu depois? O pior é que você nunca viu ele pedir perdão pelos erros e está vendo ele se juntar de novo às mesmas pessoas”, escreveu Ciro nas redes sociais.
O ex-governador do Ceará também chegou a acusar Lula de conspirar para o impeachment de Dilma e, quando a petista saiu em defesa do padrinho político, Ciro reagiu dizendo que a ex-presidente foi uma das pessoas “mais inapetentes, incompetentes e presunçosas” a presidir o Brasil.
Se por um lado essa estratégia visa firmar Ciro Gomes como alternativa a Lula, por outro, pode eventualmente afastar eleitores que nutrem alguma simpatia pelo PT ou que defendem uma ampla aliança anti-Bolsonaro.
“Ao mesmo tempo em que essa estratégia pode custar votos de eleitores da esquerda, Ciro tem dificuldade em conquistar, de fato, eleitores da direita. Ele ainda é visto como alguém, no mínimo, de centro-esquerda”, diz o cientista político Claudio Couto.
Simone Tebet, pelo MDB
A pré-candidatura de Simone Tebet foi lançada em dezembro de 2021 pela direção nacional do MDB.
Ela foi a primeira mulher a disputar o comando do Senado, em 2021. Também foi a primeira parlamentar mulher a comandar a disputada Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a primeira vice-governadora de Mato Grosso do Sul e primeira prefeita de Três Lagoas (MS).
A possibilidade de candidatura à Presidência surgiu do destaque que Tebet teve na CPI da covid no Senado. Embora não fosse integrante fixa da comissão, ela participou dos principais depoimentos da CPI com uma postura contundente e crítica à gestão do governo Bolsonaro na pandemia.
O principal obstáculo que a senadora deverá enfrentar é se tornar nacionalmente conhecida. “Ela é desconhecida fora de seu estado, o Mato Grosso do Sul. A CPI fez com que ela se tornasse conhecida por uma parcela pequena dos eleitores, aqueles que leem jornal, mas isso não é ainda suficiente”, avalia Couto.
Para se consolidar como candidata, Simone Tebet também deverá enfrentar a resistência interna dentro do próprio MDB. Líderes do partido têm mantido encontros com o ex-presidente Lula e indicam que podem apoiá-lo no primeiro ou no segundo turno, o que enfraquece os planos da senadora. Nos últimos dias, Simone tem tentado reunir em torno de si os outros nomes da chamada terceira via, entre eles o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) e Sergio Moro.
Luciano Bivar, pelo União Brasil
O deputado federal e presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar (PE) teve seu nome escolhido pela bancada do partido na Câmara dos Deputados como o pré-candidato da legenda à Presidência da República. A decisão ainda precisará ser referendada pelas convenções partidárias, que deverão acontecer nos próximos meses. Ele tem 77 anos de idade.
Bivar é empresário e já foi dirigente do Sport Clube Recife, um dos mais tradicionais de Pernambuco. Ele foi um dos fundadores do PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu em 2018.
Após desentendimentos entre Bolsonaro e o comando da sigla, o presidente deixou o partido. Em fevereiro deste ano, o PSL se fundiu ao Democratas para criar o União Brasil.
Em seus discursos, Bivar defende o liberalismo econômico. Em 2006, ele chegou a disputar a Presidência da República, mas ficou em penúltimo lugar entre todos os candidatos, com apenas 0,1% dos votos válidos.
O anúncio da pré-candidatura de Bivar coloca mais um obstáculo nas pretensões de Sergio Moro a disputar a Presidência da República. Desde que se filiou à legenda, Moro enfrenta forte resistência de integrantes do partido em relação ao seu projeto presidencial.
Apesar de estar em um partido grande e que deverá ter acesso a R$ 770 milhões do fundo eleitoral, para se consolidar como candidato, Bivar deverá ampliar a faixa do eleitorado que o conhece. Além disso, ainda não está inteiramente claro se a pré-candidatura de Bivar à Presidência é uma posição firme do partido ou se ela irá mudar ao longo dos próximos meses.
Vera Lúcia, pelo PSTU
O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) lançou a candidatura de Vera Lúcia na sexta-feira (19/03). Esta será a segunda vez que ela disputa a presidência pela sigla. A primeira foi em 2018, quando obteve 55,7 mil votos, o equivalente a 0,05% dos votos válidos.
O PSTU foi fundado no início dos anos 1990 a partir de dissidências de outros partidos como o PT, partido ao qual Vera Lúcia chegou a ser filiada até 1992. O partido se auto-define como “socialista e revolucionário”.
Antes de ingressar na carreira política, Vera Lúcia foi faxineira e costureira em Sergipe, estado onde iniciou sua militância. Ela participou da fundação do sindicato dos profissionais de costura da indústria calçadista do estado.
Durante os governos petistas, o PSTU se colocou como oposição, fazendo críticas tanto às gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto de Dilma Rousseff.
Na avaliação da cientista política Carolina Botelho, o Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e de Opinião Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o principal obstáculo a ser enfrentado por ela e por outros candidatos pouco conhecidos é, justamente, a a alta taxa do eleitorado que afirma não saber quem eles são.
“Em geral, a principal barreira é o desconhecimento. Para fazer dessa candidatura algo nacional, é muito difícil nesse contexto”, afirma Botelho.
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha divulgada na quinta-feira (24/03) mostra que 69% dos eleitores entrevistados afirmam não conhecerem Vera Lúcia.
Sofia Manzano, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Em fevereiro, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) lançou a pré-candidatura da professora universitária Sofia Manzano. Ela tem 50 anos de idade começo sua militância política aos 18, em 1989.
Manzano é economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestra em desenvolvimento econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Desde 2013, ela vive em Vitória da Conquista, onde dá aulas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O foco das suas pesquisas são as relações de trabalho e a desigualdade social.
Em entrevista concedida no dia 6 de abril para o site Brasil de Fato RS, Manzano defendeu propostas como intensificar pesquisas universitárias para o setor agrícola para que elas tenham como foco a agricultura familiar e as pequenas propriedades e não o chamado agronegócio. Ela também fez uma defesa do comunismo.
“Porque o comunismo é a proposta mais generosa que a humanidade já produziu para ela própria. Mas como o comunismo sempre é o responsável pelo enfrentamento do que há de mais terrível no capitalismo, é muito demonizado”, disse Sofia.
Luiz Felipe D’Ávila, pelo Partido Novo
O cientista político Luiz Felipe D’Ávila foi anunciado no dia 3 de novembro como pré-candidato do Partido Novo à Presidência da República. Em 2018, o partido surpreendeu em desempenho quando seu então candidato à presidente, João Amoêdo, terminou o primeiro turno em quinto lugar, com 2,5% dos votos, à frente de candidatos como Henrique Meirelles e Marina Silva.
Amoêdo, que chegou a anunciar voto em Bolsonaro no segundo turno, passou a defender o impeachment do presidente durante a pandemia. Ele chegou a ser lançado novamente como pré-candidato pelo Novo no início do ano, mas sua candidatura sofreu oposição de parcela dos integrantes do partido, sobretudo entre os que apoiam Bolsonaro. O partido, então, decidiu lançar Luiz Felipe D’Ávila.
Ex-PSDB, D’Ávila coordenou o programa de governo do candidato tucano à Presidência Geraldo Alckmin em 2018, mas depois deixou o partido e recentemente se filiou ao Novo. Ele é crítico de Bolsonaro e Lula, e diz que os dois formaram governos “populistas de direita e esquerda”. Ao ser lançado pré-candidato pelo Novo em cerimônia no dia 3 de novembro, ele defendeu privatizações e outras reformas para reduzir o papel do Estado na economia.
“O populismo apenas perpetua a miséria, a pobreza, a corrupção e o mau funcionamento das instituições democráticas”, disse.
A dificuldade do partido Novo será tornar D’Ávila conhecido nacionalmente. Além disso, enquanto em 2018 o partido se beneficiou de um forte movimento de rejeição da política e de busca por quadros novos, a eleição de 2022 tende a ser menos focada na busca pelos chamados “outsiders”.
Na avaliação de Carolina Botelho, um dos principais obstáculos a serem enfrentados por D’Ávila é o desgaste do Partido Novo decorrente da aproximação da legenda com posições bolsonaristas.
“Acho que o principal problema a ser enfrentado é a rejeição que o Novo ganhou nos últimos anos. Eles foram responsáveis pelo ingresso do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na vida pública e estão com uma imagem muito associada ao bolsonarismo”, afirmou.
Leonardo Péricles, pela Unidade Popular pelo Socialismo (UP)
Leonardo Péricles é técnico em eletrônica e presidente nacional do Unidade Popular pelo Socialismo (UP), um partido de esquerda fundado em 2019. Ele mora em uma ocupação em Belo Horizonte e sua pré-candidatura foi anunciada em novembro de 2021.
O pré-candidato defende pautas como a realização de uma nova assembleia constituinte e um plebiscito para consultar a população sobre refinanciamento da dívida pública do país e a reforma urbana por meio da destinação de imóveis ociosos para moradia popular.
Assim como Vera Lúcia, Leonardo também enfrenta uma alta taxa de desconhecimento por parte do eleitorado.
Segundo o Datafolha, 80% dos eleitores entrevistados em março afirmaram não conhecerem o pré-candidato.
“Acho que essa barreira (baixa taxa de reconhecimento) é muito grande. Até por isso, não acredito que algumas dessas candidaturas tenham, de fato, o objetivo de chegar à presidência. É comum que alguns usem esse momento para levantar suas bandeiras e fazerem seus partidos ficarem mais conhecidos”, afirma Carolina Botelho.
André Janones, pelo Avante
O partido Avante oficializou a candidatura do deputado federal André Janones (MG) no dia 29 de janeiro. Em discurso, ele defendeu a criação de um programa de renda mínima para pessoas na faixa da pobreza no Brasil.
“Vamos encampar essa campanha de um programa de renda mínima para aqueles que mais precisam. E quando eu falo sobre isso, a primeira coisa que sempre me perguntam em qualquer entrevista ou debate é ‘vai tirar dinheiro de onde?’. Ninguém nunca perguntou de onde vai tirar dinheiro para pagar o juro a banqueiro, para pagar amortização de dívida, para pagar privilégio de político”, disse.
Janones também tenta se consolidar como a “verdadeira” opção da “terceira via”. No lançamento de sua candidatura, ele chamou Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) de “puxadinhos” de Lula e Bolsonaro, respectivamente.
“As pessoas não migraram para a terceira via porque perceberam que era mais do mesmo. O eleitor que vota em Bolsonaro não vê muita diferença se for para Moro e os eleitores de Lula não veem muita diferença em mudar para Ciro. É trocar seis por meia dúzia”, declarou.
André Janones tem 37 anos, nasceu em Ituiutaba, no triângulo mineiro, é advogado e exerce seu primeiro mandato como deputado federal.
Em 2016, ele se candidatou à prefeitura da cidade em que nasceu, mas foi derrotado. Dois anos depois, foi um dos principais apoiadores da greve dos caminhoneiros em MG, o que fez bombar a sua popularidade das redes sociais.
Em 2018, foi o terceiro deputado federal mais votado de Minas Gerais, com 178.660 votos. Assim como os demais pré-candidatos à presidência que são parlamentares, Janones terá a dificuldade de se tornar realmente conhecido em âmbito nacional.
José Maria Eymael, pelo Democracia Cristã
O fundador e atual presidente do Democracia Cristã, é apresentado como pré-candidato pelo partido desde 2020, mas a informação foi formalizada na quarta-feira (30/03).
Empresário e advogado, com especialização em Direito Tributário, Eymael já disputou a Presidência outras cinco vezes no passado. Foi deputado federal constituinte em 1988 e ficou conhecido pelo jingle “Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão”, lançado em 1985, quando se candidatou a prefeito de São Paulo pela primeira vez.
No discurso em que formalizou sua participação na corrida de 2022, o candidato disse que é a favor de “valores da família” e que defende a adoção de programas de emprego e moradia para o país.
“Nossos valores são os valores da família, as necessidades da família. E na campanha para a Presidência da República vamos defender alguns princípios. Um deles é o emprego. E, para ter emprego, precisamos ter desenvolvimento no país”, declarou.
O convite para o evento do Democracia Cristã em Brasília na quarta o apresentou como pré-candidato e informou que o ato foi destinado a filiações à legenda.
Eymael, de 82 anos, concorreu à Presidência nas eleições de 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018. Nunca foi para o segundo turno e, nas últimas eleições, recebeu 41,7 mil votos (0,04%).
General Santos Cruz, pelo Podemos
Após a saída de Sérgio Moro do Podemos, a legenda passou a cogitar lançar como candidato à Presidência o general da reserva Carlos Alberto do Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria-Geral de Governo de Jair Bolsonaro. No dia 24 de abril, Santos Cruz disse, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que colocou seu nome “à disposição” do partido para ser candidato.
Ele afirmou, porém, que se os partidos de centro entrarem em consenso para apoiar uma única candidatura, ele fará o mesmo, para fazer frente à disputa entre Lula e Bolsonaro.
“A Renata Abreu (presidente do Podemos) tem, por enquanto, a ideia de uma candidatura própria. Eu coloco meu nome à disposição do partido. Mas o partido tem que estar disposto a se unir ao centro, para quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro”, disse ao jornal.
Após integrar o governo Bolsonaro, Santos Cruz rompeu com o presidente ao ser demitido em junho de 2019. Na ocasião, ele sofreu uma onda de ataques nas redes sociais que teria sido orquestrada por um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). A campanha de difamação incluiu uma imagem, falsa segundo o general, de uma conversa dele com ataques ao governo. Após a demissão, Santos Cruz passou a fazer, em entrevistas, duras críticas a Bolsonaro.
“Eu não entraria em um partido hoje do presidente Bolsonaro de jeito nenhum. Ele tem valores que não coincidem com os meus; ele tem atitudes que eu acho que não têm cabimento”, disse ele em entrevista à BBC News Brasil, em janeiro de 2020.
Santos Cruz já tinha tido passagens pelo governo federal antes de integrar a equipe de Bolsonaro. Durante o mandato de Dilma Rousseff, ocupou brevemente uma assessoria na Secretaria de Assuntos Estratégicos, à época nas mãos de Moreira Franco. No governo Temer, chefiou a Secretaria Nacional Segurança Pública (Senasp), entre abril de 2017 e junho de 2018.
Após a demissão do governo Bolsonaro, o general retomou uma intensa agenda de viagens pelo Brasil e o exterior. Prestigiado internacionalmente após ter comandado a maior missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), chefiando mais de 23 mil capacetes azuis na República Democrática do Congo entre 2013 e 2015, ele voltou a atuar com a instituição que hoje é tachada de “globalista” pelo governo brasileiro.
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, Santos Cruz disse que, como candidato à Presidência, assumirá o compromisso de propor o fim da reeleição e a ampliação do mandato de presidente para cinco anos, além de acabar com o foro privilegiado, mantendo-o, “no máximo”, para os chefes dos três Poderes.
Fonte: Correio Braziliense