Quando criança, Tom Justice era um ciclista ávido. Ele se encantou com o esporte quando, aos 13 anos, viu os atletas treinando no velódromo de seu bairro, Libertyville, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos.
A partir desse momento, Tom se dedicou ao ciclismo e ficou bom o suficiente para treinar com a equipe olímpica de atletismo dos EUA.
Mas depois de se formar na faculdade, começou a achar que o processo de treinar para se tornar um atleta olímpico era muito trabalhoso. Tom desistiu e voltou para casa em Chicago.
Ele conta que ficou obcecado pelo filme Caindo na Real, de 1994. Tom foi cativado pelo personagem de Ethan Hawke, Troy Dyer, que, desiludido com a sociedade, nunca para em um emprego.
“Assistia repetidamente e acho que, infelizmente, me fez internalizar uma imagem”, diz Tom.
A vida não tinha saído do jeito que ele esperava. Ele ansiava por emoção e sucesso, mas rejeitou a abordagem lenta e constante de trabalhar em direção a um objetivo.
Em vez disso, ele procurou o que, na época, pareceu um caminho fácil. Inspirado pelo drama do filme policial Fogo contra Fogo, Tom transformou uma fantasia de cinema em realidade no crime.
Primeiro assalto a banco
Ele roubou um banco pela primeira vez em 23 de outubro de 1998, fugindo em sua bicicleta de corrida com a habilidade de um atleta olímpico.
Um ano depois, ele roubou outro, e depois outro, e outro – sempre desarmado. Ele simplesmente apresentava um cartão escrito: “Isso é um assalto. Coloque todo o dinheiro que tem na sacola.” Com medo do que pudesse acontecer caso se negasse, os caixas obedeciam. Depois Tom caminhava tranquilamente pela porta da frente, pegava sua bicicleta e começava a pedalar.
Temendo que o dinheiro fosse rastreado, Tom pegava uma ou duas notas de 20 dólares e jogava todo o resto em lixeiras. Quando ele roubou o banco LaSalle Bank, no ano 2000, por exemplo, a polícia encontrou todo o dinheiro (US$ 4 mil) em uma lixeira no parque Gillson, em Chicago. Outras vezes o ciclista deixava os maços de notas em sacos de papel pardo em bairros mais pobres.
Mas o FBI (agência federal de investigação dos EUA) estava começando a ligar os pontos entre uma série de assaltos a bancos não resolvidos.
Por causa da maneira como Tom pacientemente cruzava as mãos na frente do peito enquanto os caixas do banco enchiam bolsas com notas de dólar, o FBI lhe deu o apelido de “Choirboy” (garoto do coral, em tradução literal, mas que tem o sentido equivalente a chamar alguém de ‘coroinha’ em português).
Roubar bancos deu-lhe um alívio momentâneo de sua decepção e inseguranças, conta Tom.
“Eu tinha esse segredo: eu era especial, roubava bancos no meu tempo livre. E só isso era capaz de me consolar pelo fato de que eu não estava realmente me desenvolvendo profissionalmente”, diz.
Tom diz que não pensava no medo sentido pelos funcionários dos bancos ou no que poderia acontecer se fosse preso.
Cocaína e crack
A adrenalina de sua vida dupla logo deixou de ser suficiente. Nessa época, foi a uma festa e foi apresentado à cocaína. Mas mesmo essa droga acabou sendo insuficiente e Tom se viciou em crack. Ele começou então a usar o dinheiro dos roubos para gastar com drogas.
“O motivo pelo qual eu havia começado a fazer isso foi para a sarjeta. Ali eu era apenas uma pessoa comum e horrível que estava roubando bancos para conseguir drogas. Totalmente egoísta.”
Caindo na real
Em março de 2002 e no assalto ao 26º banco, Tom começou a ficar sem sorte.
Ele foi parado por um policial no trânsito, que pediu para olhar o conteúdo de sua bolsa.
Tom deu uma forte arrancada com a bicicleta para fugir. O policial pediu reforços pelo rádio e deu início à perseguição.
Tom conseguiu passar pelos bloqueios na estrada e notou um rio no fundo de uma encosta íngreme. Jogou a bicicleta para um lado e foi para o outro, caindo na água e depois indo se esconder em um matagal denso.
Escondido em arbustos, Tom esperou. Helicópteros passavam, sirenes da polícia soavam, ele podia até ouvir o tilintar das coleiras dos cães policiais farejando-o.
Tom ficou lá por horas. Em meio ao pânico e ao barulho, ele teve tempo para refletir.
“Acho que estava começando a entender que isso tudo era uma roubada, que a polícia viria atrás de mim”, diz ele.
“A coisa não deveria ter ido por esse caminho, mas é o que acontece quando você começa usar drogas. E é um alerta quando a polícia está tentando atirar em você”, diz ele.
“Então foi a primeira vez que percebi que eu não estava bem. E não sabia como melhorar.”
Depois de cerca de seis horas, os sons foram se tornando distantes.
Tom saiu cautelosamente de seu esconderijo, mergulhou de volta no rio e saiu, encharcado e desgrenhado, mas livre – até agora.
Bicicleta personalizada
Uma bicicleta de corrida personalizada e laranja brilhante não é exatamente um veículo de fuga discreto.
Agora que a polícia estava com a bicicleta dele, Tom sabia que era apenas uma questão de tempo até que batessem em sua porta.
Alguns meses depois, Tom estava voltando da casa dos pais para casa quando viu um carro de polícia sem identificação pelo espelho retrovisor.
Ele deu de ombros e continuou dirigindo. Então ele notou um segundo, e depois um terceiro, e percebeu que ele estava sendo seguido.
Tom parou, saiu do carro e deu de cara com diversos policiais com as armas apontadas para ele.
Foi só quando ele estava deitado de bruços no chão e algemado que a ficha começou a cair.
Tom foi levado a uma delegacia de polícia e foi interrogado.
Ele confessou tudo, mas o mais difícil, diz, foi pegar o telefone para contar aos pais que os boatos eram verdadeiros: ele foi preso por assalto a banco.
“Foi horrível saber que seriam eles que teriam que encarar nossos vizinhos e amigos. Eu estava incrivelmente envergonhado. E ainda sinto isso até hoje.”
Sentença de prisão
Tom foi condenado a 11 anos de prisão por roubar 26 bancos em três estados dos EUA. A quantidade total de dinheiro roubado ao longo de quatro anos de crimes foi de US$ 129.338 (ou mais de R$ 600 mil)
Tom ainda tinha a mentalidade de que a vida seria como um filme e achou que a prisão federal na qual iria cumprir sua pena não seria tão ruim.
“Isso vai ser ótimo”, eu pensei. “Eu finalmente vou estar com a minha turma. Pessoas com a mesma mentalidade. Mas chegando lá, a realidade foi bem diferente.”
Tom logo descobriu que ele não era tão único quanto pensava – muitos ladrões de banco doam o que roubam. “Eu percebi que não era tão especial.”
Foi depois de sua prisão que Tom finalmente entendeu o efeito prejudicial de seu comportamento sobre os outros. Lendo as declarações das vítimas, descobriu que as pessoas ficaram muito traumatizadas pelos roubos que ele cometeu. Os caixas dos bancos temiam por suas vidas.
“Eu me senti muito envergonhado com isso, me senti culpado porque nunca havia parado para pensar do ponto de vista deles.”
“Acho que comecei a roubar bancos para ter uma emoção. Era para ser divertido e acabou sendo terrível.”
Após sua libertação da prisão em 2011, Tom voltou com sua namorada, Bari, e começou a trabalhar como cuidador de idosos e doentes.
Tom acredita que a prisão mudou sua vida.
“Eu cresci como pessoa na prisão. Então, apesar de tudo, funcionou. E sou grato por isso.”
Fonte: Correio Braziliense