O número de golpes cometidos por meio de falsos leilões na internet saltou durante o período da pandemia, de acordo com dados da Aleosp (Associação dos Leiloeiros Oficiais do Estado de São Paulo). Centenas de páginas virtuais usam nomes de seguradoras de veículos, departamentos de trânsito nacional, estaduais e municipais, de bancos públicos e de leiloeiros oficiais, causando prejuízos significativos aos compradores.
Desde 2019, 2.000 sites falsos foram identificados. Somente em 2021, foram relatados 1.063 que forjavam leilões, número que é o dobro do que havia sido descoberto em 2020 (510). De 2016 a 2019, 420 endereços virtuais foram localizados. A tendência demonstra que esse tipo de crime vem se tornando mais frequente.
O próprio presidente da associação, leiloeiro Sérgio de Freitas, teve seu nome usado indevidamente para um leilão que não existia de fato. “Você derruba um, na manhã seguinte aparecem dois. O número cresceu muito durante a pandemia de Covid-19, mas, mesmo com a volta dos leilões presenciais, os golpistas continuam agindo”, disse. Como os lances representam grande parte do valor do bem, os prejuízos são altos. “Tem muitos casos em que a pessoa deposita toda sua economia, R$ 40 mil, R$ 50 mil, até mais, em um lance falso”, lamentou.
A associação põe à disposição para consulta, em seu site, relação de leilões falsos e também a lista de leiloeiros oficiais. Segundo Freitas, só o leiloeiro oficial inscrito na Junta Comercial tem autorização legal para realizar leilões e receber valores de arrematações.
O pedreiro Valter Silva Jacinto, de 45 anos, decidiu investir os R$ 30 mil que havia conseguido com a venda de um imóvel em sua terra, em Minas Gerais, em um leilão de veículos usados. Era o golpe do falso leilão. “Só descobri quando fui retirar os veículos e [vi que] o endereço era de uma empresa de aço. O vigia disse que eu não era o primeiro a cair no conto.”
Como Jacinto, milhares de pessoas vêm caindo nessa fraude. Os golpistas inserem sites falsos na internet com identificação e imagens parecidas com as dos verdadeiros e oferecem imóveis ou veículos a preços abaixo dos praticados pelo mercado.
Os falsários colocam fotos, documentos e informações sobre os bens e criam mecanismos para que a vítima ofereça um lance. Após vencer o leilão, a pessoa recebe a carta de arrematação com a ordem de pagamento via boleto ou por meio de depósito em contas registradas em nome de laranjas, como se fosse a conta do leiloeiro oficial. Após o pagamento, o dinheiro desaparece.
Os golpistas agem sempre com ousadia. Em dezembro do ano passado, depois de detectar páginas fraudulentas que tentavam simular o Sistema de Leilão Eletrônico oficial da instituição, a Receita Federal viu-se obrigada a publicar um alerta. A Receita esclarece que os leilões de mercadorias apreendidas pela instituição não são realizados em sites privados, apenas pelo Sistema de Leilão Eletrônico, acessado via site oficial da Receita Federal, sendo necessário possuir certificado digital para participar.
“O pagamento das mercadorias arrematadas em leilão é feito por meio de Darf (Documento de Arrecadação Federal) e nunca mediante depósitos ou transferências para contas de terceiros”, alerta.
Ao Estadão, a Receita informou que diversos sites que se fazem passar pelos seus leilões não estão hospedados em um servidor de domínios do Brasil, o que dificulta a sua retirada do ar. “Mas não impede que a Receita Federal busque todos os meios para tal”, disse.
No Paraná, fraudadores usaram um site da antiga companhia de trânsito de Cascavel, extinta em 2019, para aplicar golpes no início deste ano. Ao menos duas pessoas, vítimas da fraude, registraram boletins de ocorrência. Uma delas, um professor, pagou R$ 41 mil por um carro avaliado em R$ 60 mil. Quando se dirigiu ao pátio para retirar o veículo, ele foi informado do golpe.
De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Leiloeiros do Paraná, Hélcio Kronberg, as vítimas dos golpes são pessoas que não se informam sobre os leilões e acabam sendo levadas pelos anúncios em mídias sociais. “Os falsários continuam enganando essas pessoas, que, em sua maioria, participam de um leilão pela primeira vez ou veem uma oportunidade onde não existe. Em nossos leilões, tomamos o cuidado de dispor o endereço dos bens para que sejam visitados antes”, disse.
Uma mulher de São José dos Campos perdeu R$ 30 mil, em março, após “arrematar” uma moto oferecida em leilão por uma empresa de Marília. A vítima disse que, após ver fotos na internet e pesquisar sobre o leilão, foi contatada por telefone por uma pessoa da empresa que se dispôs a ajudá-la, já que seria um negócio vantajoso.
Fonte: R7