Em tramitação na Câmara Legislativa, plano de preservação de Brasília prevê a criação de lotes nos gramados entre a Praça do Cruzeiro e a Epia
A simples menção a alterações significativas no canteiro central do Eixo Monumental provoca ecos de revolta em arquitetos e urbanistas. O que dizer, então, quando as modificações vêm em forma de lei e, segundo os especialistas, aparecem de maneira obscura? O resultado são críticas abertas e vindas de vários cantos à proposta do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCUB), enviada pelo Governo do DF (GDF) à Câmara Legislativa do DF (CLDF) em setembro. Segundo os críticos, a criação de lotes centrais na porção oeste da via, entre a Praça do Cruzeiro e a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), é um dos pontos mais preocupantes do projeto de lei, pois abre brecha para desvio de uso. O governo admite que pode ter ocorrido erro na redação e que isso deverá ser corrigido antes da votação.
A arquiteta e urbanista Vera Ramos, diretora de Patrimônio Cultural e presidente do Conselho de Preservação de Brasília do Instituto Histórico e Geográfico do DF (IHG-DF), encabeça um movimento para dar publicidade ao que ela considera imperfeições e pontos polêmicos do PPCUB. “O projeto do Executivo permite a criação de lotes no canteiro central do Eixo Monumental e define utilização para equipamentos públicos culturais e atividades educacionais, comerciais e de prestação de serviços, como restaurantes e similares. No entanto, não estabelece se os usos comercial e de serviços são complementares. Isso nos causa muita estranheza”, argumenta.
No entendimento dela, a área central do Eixo deveria estar entre as mais protegidas pelo PPCUB. “No entanto, prevê a criação de lotes de 10 mil a 20 mil metros quadrados, mas não define a quantidade nem deixa claro quais serão os usos permitidos. Toda a sociedade precisa estar atenta a isso”, conclama a urbanista.