A esquerda ficou fora do segundo turno das eleições presidenciais de abril na França, mas agora busca sua “virada” frente ao presidente liberal Emmanuel Macron nas legislativas de junho com uma frente unida, algo inédito nos últimos 25 anos.
“Nada foi decidido [na presidencia]!”, disse o líder da Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), Jean-Luc Mélenchon, para centenas de simpatizantes em Sainte-Geneviève-des-Bois, 80 quilômetros ao sul de Paris.
Seu principal argumento é o contexto da reeleição de Macron em 24 de abril. Para a esquerda, os eleitores votaram no liberal para impedir a vitória de sua rival de extrema direita Marine Le Pen, e não por suas ideias.
Agora, buscam transformar as legislativas em um “terceiro turno” para conquistar a maioria no Parlamento, que está com a aliança de centro Juntos!, de Macron, e impedir que o presidente consiga aplicar seu programa, que inclui o aumento da idade mínima de aposentadoria de 62 para 65 anos.
Embora as pesquisas indiquem um empate entre o governismo e a esquerda no primeiro turno das legislativas, que acontece neste domingo, as forças centristas obteriam muito mais deputados após o segundo turno em 19 de junho, mas poderiam perder a maioria absoluta.
‘Ele fala com o coração’
O departamento de Essonne, onde aconteceu o comício desta terça, é um exemplo dessa batalha pela “mudança” que trava a aliança de comunistas, ambientalistas, socialistas e a esquerda radical, liderada pelo veterano político de 70 anos.
Ao se apresentarem separadamente em 2017, não venceram em nenhuma de seus 10 distritos. Cinco anos depois, esperam repetir o desempenho da eleição presidencial, na qual Mélenchon foi o mais votado no primeiro turno, para recuperar cadeiras que estão nas mãos do centro e da direita.
Durante o comício, centenas de pessoas ouviram as propostas dos candidatos a deputado, mas a multidão reunida esperava, sobretudo, a chegada de Mélenchon.
“Ele fala com o coração, diz as coisas sem rodeios”, contou Ali à AFP, um morador de 52 anos do bairro que se define como “um imigrante, mas também francês”. Seu amigo Mohamed, de 39, espera que o político se torne o “primeiro-ministro”.
A abstenção será crucial
Assim como Mélenchon, Macron tem multiplicado suas viagens pelo país na reta final de campanha, como nesta quarta-feira (8), quando comparece a um dos redutos da esquerda ao nordeste de Paris para falar sobre a juventude.
Além disso, a abstenção se anuncia como chave, ainda mais quando menos da metade dos eleitores pretende votar, em um contexto de “campanha de baixa intensidade”, segundo o cientista político Vincent Tiberj, de instituto Sciences Po Burdeaux.
“Isso [a abstenção] afeta os eleitores intermitentes, os menos ricos, os menos diplomados, as classes populares, os mais jovens e, portanto, mais o eleitorado do Reagrupamento Nacional [extrema-direita] e da Nupes”, acrescentou.