Cientistas de todo o mundo se reuniram na última semana no NASA Ames Research Center, na Califórnia (EUA), para discutir os dados mais recentes do telescópio “Caçador de Planetas” Kepler. Ao todo, 833 novos candidatos a planeta foram desvelados pela equipe responsável pela missão. Desses, dez têm menos do que o dobro do tamanho da Terra e orbitam uma zona habitável, a qual se define por uma faixa de distância entre o planeta e sua estrela que poderia abrigar água líquida. O tamanho e a posição são dois dos fatores levados em conta na busca por um planeta o mais parecido possível com a Terra, uma espécie de “irmão-gêmeo” distante, fora do Sistema Solar, com capacidade de acolher vida.
Um estudo apresentado por pesquisadores da Universidade da Califórnia na conferência estima que, a cada cinco estrelas parecidas com o Sol analisadas pelo Kepler, uma delas possua um planeta com tamanho semelhante ao da Terra em uma zona habitável. Assim, de acordo com a pesquisa, pode haver 10 bilhões de planetas que preencham esses requisitos. Essa conclusão não significa, no entanto, que esses planetas possam abrigar vida – trata-se apenas de um passo adiante nessa busca.
A procura esquentou no fim de outubro, com a revelação das características do exoplaneta mais “parecido” com a Terra descoberto até hoje, o Kepler-78b. É o primeiro planeta do tamanho da Terra, com uma densidade semelhante. Ele é apenas 20% maior e pesa quase o dobro. Como resultado, tem uma densidade semelhante à da Terra, o que sugere uma composição física de ferro e rocha, como a da Terra. Há um detalhe, entretanto, que não colabora para a vida: o Kepler-78b situa-se tão próximo de sua estrela-mãe, que sua superfície, provavelmente coberta de lava, apresenta temperaturas superiores a 2 mil °C.
Dessa forma, “ainda não existe nenhum candidato a irmão-gêmeo da Terra”, sentencia Jorge Meléndez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP e um dos pesquisadores mais relevantes no estudo de exoplanetas. “O mais parecido é o Kepler-78b, por ter massa, raio e densidade similar à Terra, mas o Kepler-78b está muito próximo da sua estrela-mãe, não sendo, portanto, habitável”.
Por enquanto, a busca por um exoplaneta habitável continua. Entre as chamadas superterras – massa superior à da Terra e inferior à de gigantes gasosos -, há candidatos em potencial. “É hoje o principal objetivo da Nasa”, afirma o doutor em astrofísica e técnicas espaciais José Dias do Nascimento, cientista convidado da Smithsonian Center for Astrophysics (CfA), na Universidade de Harvard. “Esta questão de detectar vida tornou-se o principal objetivo em torno da descoberta de planetas extrasolares. É uma das principais questões que a humanidade tem hoje para responder: ‘Estamos sozinhos no Universo?’”.