Quase 50 países aumentaram as taxas de juros nos últimos seis meses, enquanto bancos centrais nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Índia e em outras nações aumentam os custos de empréstimos na mais rápida tentativa de conter a inflação em décadas.
Na quarta-feira, o Federal Reserve elevou sua taxa de juros básica – é o terceiro aumento este ano e o maior desde 1994. Poucas horas após a declaração do Fed, Brasil, Arábia Saudita e outros países anunciaram mudanças nas taxas de juros. A Suíça e o Reino Unido seguiram o exemplo na manhã de quinta. Até agora, em 2022, pelo menos 45 países elevaram as taxas de juros, mostram dados da FactSet, e há mais mudanças a caminho.
Taxas mais altas são ferramentas poderosas para combater o aumento dos preços: tornam mais caro o empréstimo de dinheiro, o que pesa na demanda do consumidor e na expansão de negócios, por sua vez, acalmando o crescimento econômico e desacelerando as contratações. Isso pode se traduzir em um crescimento salarial mais fraco para as famílias e menor poder de precificação para as empresas, finalmente reduzindo a inflação.
Trata-se de um exercício de equilíbrio delicado, que coloca pressão sobre os formuladores de políticas para controlar a economia sem fazer o crescimento cair. Economistas e investidores veem isso como um desafio cada vez mais pavoroso. À medida que o Banco Mundial e outras instituições divulgam previsões desanimadoras, crescem as preocupações com uma iminente recessão.
“As persistentes pressões inflacionárias e a deterioração das expectativas estão obrigando os bancos centrais a se tornarem mais agressivos”, escreveram economistas do Barclays na semana passada. “Conforme as condições financeiras pioram e o sentimento cai, a economia real pode seguir.”
TENDÊNCIA
O Fed está preparado para continuar aumentando as taxas este ano, provavelmente em um ritmo rápido. O Banco Central Europeu sinalizou que aumentará as taxas de juros em julho pela primeira vez em 11 anos, e os investidores acreditam cada vez mais que o banco agirá rapidamente enquanto tenta desacelerar a economia. O Bank of Canada talvez também anuncie um grande aumento no próximo mês, depois de já ter aumentado as taxas de juros há duas semanas. Mudanças semelhantes foram anunciadas por muitas das maiores economias do mundo.
Um ponto fora da curva é a Rússia. Seu banco central elevou as taxas de juros acima de 20% logo após o país invadir a Ucrânia. Nos meses seguintes, a Rússia fez quatro reduções para levar as taxas ao que eram antes de o conflito começar – ainda que o curso da economia permaneça incerto.
O desfile de altas de juros pelo mundo é um grande abandono da estratégia política após a crise financeira, quando os banqueiros centrais frequentemente realizavam aumentos aos trancos e barrancos – quando era possível.
Antes da pandemia, os economistas pensavam que o mundo poderia estar preso em uma armadilha de baixa taxa de juros, baixa inflação e crescimento lento – e muitas das economias do mundo começaram a empurrar as taxas para baixo.
Mas após o início da pandemia, os pacotes de estímulo do governo americano destinados a amortecer as consequências econômicas da crise sanitária acabaram despertando a demanda. As cadeias de suprimentos foram abaladas por paralisações de fábricas, problemas de transporte de mercadorias e escassez de mão de obra. Combinadas, essas forças ressuscitaram as pressões de preços há muito adormecidas.
Os preços ao consumidor americano subiram novamente segundo um relatório da semana passada. A guerra na Ucrânia pode continuar a aumentar os preços das commodities, enquanto os esforços para conter a covid-19 na China e as greves de trabalhadores na Coreia do Sul ameaçam prejudicar ainda mais a fabricação de peças.
“A guerra na Ucrânia, os lockdowns na China, os transtornos na cadeia de suprimentos e o risco de estagflação estão atingindo com força o crescimento”, disse David Malpass, presidente do Banco Mundial, em um relatório este mês. “Para muitos países, será difícil evitar a recessão.” TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
Estadão Conteúdo