O dólar comercial manteve a sequência de altas e atingiu, nesta quarta-feira (6/7), a maior cotação desde 27 de janeiro, fechando a R$ 5,422, com valorização de 0,60%, depois de ter atingido o pico de R$ 5,46 ao longo do dia. No mês, a moeda norte-americana já acumula alta de 3,75% e analistas vislumbram a divisa cada vez mais valorizada até o fim do ano.
O medo de um maior aperto monetário dos Estados Unidos e de uma recessão global tem contribuído para a desvalorização do real frente ao dólar. Por outro lado, no cenário doméstico, os investidores estão apreensivos em relação ao aumento dos riscos fiscais, em consequência das últimas medidas de aumento de gastos públicos em tramitação no Congresso. Ambos os fatores, empurram os investidores para mercados mais seguros e pressionam o real para baixo.
A insegurança também tem impactado negativamente as ações na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) que perdeu o patamar de 100 mil pontos. Entretanto, após duas sessões consecutivas em queda, terminou o dia com valorização de 0,43%, aos 98.719 pontos.
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) divulgou, pouco antes do fechamento dos mercados daqui, a ata da última reunião, em que decidiu aumentar os juros básicos em 0,75 ponto percentual. O documento afirma que a inflação continua pressionada, o que pode exigir novos ajustes dos juros, com impactos na atividade econômica global.
“Em relação à Bolsa, isso prejudica bastante a precificação dos ativos, uma vez que os temores de recessão vão exigir do país uma estrutura financeira muito maior do que o disponível hoje, para que a gente tenha um conforto fiscal. Esse temor de recessão não é exclusividade do Brasil, mas de todo o mundo, devido ao cenário inflacionário. Então os investidores ficam mesmo mais avessos ao risco”, disse Heitor Martins, especialista em Renda Variável na Nexgen Capital.
No âmbito doméstico, a situação fiscal é atualmente a maior fonte de preocupação, principalmente após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 1/22, apelidada de PEC das Bondades ou PEC Kamikaze, que cria despesa de R$ 41,2 bilhões apenas neste segundo semestre. O cenário, de acordo com a economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira, aumenta o prêmio de risco dos ativos brasileiros. “Se antes dessa movimentação fiscal a gente já via necessidade de um aumento da receita tributária para um ambiente de dívida equilibrada, hoje a gente tem um desafio ainda maior. Estamos em uma situação pior quando a gente pensa na sustentabilidade da dívida pública brasileira”, avaliou.
A tendência é de que a desvalorização de papéis e o câmbio pressionado se mantenham até o fim do ano, como observou o analista da Top Gain, Sidney Lima. “A liberação de incentivos em ano eleitoral traz uma série de incertezas aos investidores sobre a perpetuidade dos negócios aqui no Brasil. Sendo assim, é natural que ocorra uma migração por parte dos grandes investidores, saindo dos ativos de renda variável. Os investidores tendem a comprar dólar, seja para alocação no ativo de maior estabilidade ou para realocar seus investimentos no mercado norte americano. Isso faz com que a moeda norte-americana suba fortemente”, afirmou.
Por Correio Braziliense