A cada dois segundos, uma pessoa com menos de 70 anos morre em decorrência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como cardiovasculares, pulmonares, cânceres e diabetes. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde divulgado ontem, essas enfermidades são responsáveis por 74% dos óbitos em todo o mundo. Na divulgação do documento, em Genebra, representantes do órgão das Nações Unidas afirmaram que milhões de vidas podem ser salvas com estratégias preventivas.
De acordo com a OMS, as DCNTs, muitas vezes evitáveis e causadas por estilos de vida pouco saudáveis, matam 41 milhões de pessoas a cada ano, incluindo 17 milhões abaixo dos 70 anos — destas, 86% vivem em países de baixa e média renda. “Doenças não transmissíveis são as maiores causas de morte silenciosa do mundo, mas, muitas vezes, podem ser prevenidas com investimento em intervenções comprovadas e econômicas”, disse Michael R. Bloomberg, fundador da Bloomberg Philanthropies e embaixador Global de Doenças e Lesões não Transmissíveis da OMS.
“Esse relatório é um lembrete da verdadeira escala da ameaça representada pelas DNTs e seus fatores de risco”, disse o diretor-geral da agência, Tedros Ghebreyesus. “Existem intervenções de DNTs com boa relação custo-benefício e aplicáveis globalmente. Intervenções que todos os países, independentemente do seu nível de renda, podem e devem usar e se beneficiar, salvando vidas e economizando dinheiro.”
Porém, segundo o relatório, “uma quantidade mínima de financiamento local e internacional destina-se às DCNTs”. “Isso é realmente uma tragédia”, destacou Bloomberg. O documento também ressalta que as doenças crônicas não são somente as maiores causas das mortes, mas também impactam como as pessoas reagem às doenças infecciosas, como comprovado pela pandemia de covid-19. Aquelas com obesidade ou diabetes enfrentam um risco maior de adoecer gravemente e morrer em decorrência da infecção pelo vírus Sars-CoV-2.
Fora de controle
Ao contrário da crença popular, esses males não são um problema particular dos países ricos. O estudo revela que 86% das mortes prematuras por DCNTs acontecem em países de baixa ou média renda. Isso faz com que enfrentar o problema não seja apenas uma questão de saúde, mas de equidade, disse Bente Mikkelsen, diretor de DCNTs da OMS, observando que muitas pessoas em nações pobres não têm acesso a prevenção, tratamento e cuidados de que precisam. Segundo a agência, um investimento relativamente pequeno, de US$ 18 bilhões anuais, faria uma grande diferença na prevenção e no tratamento das DCNTs.
A OMS destacou que muitos fatores de risco das DCNTs estão fora do controle das pessoas. “Com muita frequência, o ambiente em que vivemos restringe nossas decisões e torna difícil, se não impossível, tomar decisões saudáveis”, afirma o relatório. Porém, o organismo da ONU insiste que é um problema com solução, já que os principais fatores de risco das DCNTs são conhecidos, assim como a forma de abordá-los.
O consumo de tabaco, uma dieta pouco saudável, o uso nocivo de álcool, o sedentarismo e a poluição do ar são considerados as principais causas das DCNTs. Sozinho, o tabagismo causa mais de 8 milhões de mortes por ano, e uma quantidade semelhante de óbitos deve-se a dietas pouco saudáveis, seja por comer muito pouco, em excesso e/ou consumir alimentos de má qualidade, afirma o relatório. O abuso de bebidas alcoólicas é responsável por quase 1,7 milhão de óbitos anuais, enquanto o sedentarismo responde por quase 830 mil mortes.
Por Correio Braziliense