As áreas de proteção ambiental (PAs, na sigla em inglês) não garantem a preservação de mais de três quartos da diversidade global de insetos, revela um estudo internacional publicado nesta quarta-feira (1º).
De acordo com a pesquisa, das 89.151 espécies de insetos das quais se tem informação sobre sua presença ou não em áreas protegidas, 76% (67.384) não apresentam um benefício claro de preservação da espécie por conta das áreas de proteção.
Os insetos que vivem em florestas da América do Norte, Leste Europeu, Sudeste Asiático e Australásia (região geográfica composta pela Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e algumas ilhas do Pacífico e Oceania) são os que possuem menor proteção nas PAs.
Isso ocorre porque os critérios necessários para a preservação da espécie -como ampla área de distribuição, presença de recursos como água e alimento para o desenvolvimento, local de crescimento das larvas- não são garantidos nas áreas de proteção analisadas.
Mais grave ainda, cerca de 1.900 espécies das 225 famílias do grupo não são sequer encontradas em áreas de preservação, indicando uma possível ameaça direta à sua preservação.
Em contrapartida, as áreas protegidas da Amazônia, África subsaariana, Oriente Médio, Europa Central, oeste da Austrália e em quase toda a região neotropical garantiram maior proteção dos insetos.
Os achados foram publicados na edição desta quarta-feira (1°) da revista científica One Earth, do grupo Cell. Assinam o estudo pesquisadores do Centro Alemão para Pesquisa em Biodiversidade Integrativa (iDiv), de Leipzig, na Alemanha, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Queensland e da Divisão de Ecologia e Evolução da Universidade Nacional da Austrália, em Camberra, ambas na Austrália.
Para avaliar o impacto das áreas protegidas na preservação de espécies de insetos, os cientistas calcularam a cobertura das áreas protegidas em quilômetros quadrados e consideraram quanto da área de distribuição geográfica das espécies mapeadas estavam sobrepostas às áreas protegidas.
Quanto mais dentro da área protegida, maior era a preservação da espécie. Quanto menos protegidas, mais fora da área era a distribuição geográfica das espécies.
Segundo a pesquisa, apenas 3 das cerca de 28 linhagens conhecidas de insetos tinham uma área de proteção maior que 25% (Strepsiptera, Grylloblattodea e Plecoptera), enquanto outros três grupos (Mantophasmatodea, Phthiraptera e Thysanoptera) tinham uma proteção menor do que 15%.
Aqui vale um adendo, notado pelos próprios autores, de que insetos que têm uma distribuição geográfica muito limitada podem ser influenciados (positivamente) se estiverem totalmente dentro de uma área protegida, enquanto aqueles com áreas de distribuição muito amplas podem ser prejudicados.
Considerando a média global dos insetos, porém, cerca de 19,24% estão dentro das áreas protegidas. Em todo o mundo, as áreas protegidas compreendem pouco mais de 15% do território.
Para o biólogo conservacionista e primeiro autor do estudo, Shawan Chowdhury, um dado surpreendente é a falta de informação sobre espécies de insetos em áreas protegidas.
“Muitos estudos de conservação usam os dados da Lista Vermelha da IUCN [União Internacional para Conservação da Natureza], mas apenas cerca de 8% de todas as espécies de insetos estão inseridas na lista. Isso leva a uma dificuldade até mesmo de definir políticas de conservação dos insetos”, afirma.
Há um alerta do declínio das populações globais de insetos feito por cientistas há anos. Segundo a pesquisa, existem 5,5 milhões de espécies de insetos, mas a informação sobre o estado de conservação em áreas protegidas existe para pouco menos de 90 mil (1,6%).
Essa baixa representatividade dos insetos nos estudos de conservação, segundo o autor, levou a um apelo produzido pelos cientistas para os coordenadores das listas de extinção.
“Os insetos também são muito diversificados, com diversos habitats. Algumas espécies preferem áreas de vegetação florestada, outras vão preferir vegetação de savana ou campos abertos. Isso deve ser considerado também na hora de definir as áreas protegidas, para conseguir incluir essa diversidade de animais”, explica.
De acordo com o biólogo, mesmo quando garantidos pela área de proteção ambiental, muitos insetos continuam a enfrentar declínios populacionais com o avanço do desmatamento e a perda de vegetação nas áreas adjacentes.
“Várias medidas podem ser tomadas, e a primeira delas é frear o desmatamento e o aquecimento global, pois estes trazem impactos diretos na conservação dos insetos. A COP15 [Convenção Mundial da Biodiversidade da ONU, que ocorreu em Montreal no fim do ano passado] definiu que as áreas protegidas passem de 15% para 30% até 2030. Esta medida com certeza vai ajudar na preservação de espécies de insetos endêmicas e aumentar a cobertura global de proteção dos insetos”, finaliza.