O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recusou dois pedidos de telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas semanas para conversarem sobre um possível acordo de paz.
Conforme apurou o Correio com interlocutores do governo ucraniano, a recente declaração do chefe de Estado brasileiro sobre conversar com Zelensky foi recebida com surpresa e revolta, especialmente porque ocorreu às vésperas de uma viagem a Moscou, onde se reunirá com o presidente russo, Vladimir Putin.
Lula e Zelensky não conversam há um ano e sete meses, desde que encontraram-se pessoalmente em Nova York, às vésperas da Assembleia-Geral das Nações Unidas de 2023. Segundo uma fonte do governo ucraniano, desde então Zelensky fez 15 pedidos de ligação para Lula e enviou seis cartas oficiais, mas não recebeu resposta.
O presidente da Ucrânia ficou “furioso” com a declaração dada por Lula, em Hanói, no Vietnã, em 29 de março, quando o presidente anunciou a ligação e acusou o ucraniano de não querer tratar do fim da guerra.
O comentário pegou o governo ucraniano de surpresa, já que não havia, naquele momento, conversa entre Brasília e Kiev para combinar o contato — o que ocorreu depois. A primeira tentativa do Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi em 4 de abril e a segunda, em 11 de abril. Ambas foram rejeitadas.
A “gota d’água” para a recusa de Zelensky foi Lula ter aceitado o convite de Putin para participar em Moscou, em maio, da cerimônia dos 80 anos da vitória na Grande Guerra Patriótica — que é como os russos definem a II Guerra Mundial, a partir do momento que os alemães invadiram o antigo território soviético.
O evento vai incluir um desfile militar em frente à Praça Vermelha. “Lula vai saudar os mesmos soldados russos que estão matando civis na Ucrânia”, disse um interlocutor que faz a ponte entre as chancelarias ucraniana e brasileira. Para Kiev, o comentário do petista sobre conversar com Zelensky foi interpretado como uma tentativa de amenizar o impacto negativo na imagem do presidente brasileiro sobre a ida à Rússia.
A reportagem procurou o MRE para comentar a posição ucraniana. O ministério orientou contato com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência — que não retornou até o momento. O espaço segue aberto.
Fonte: Correio Braziliense