Um estudo divulgado nesta segunda-feira na revista especializada The Lancet Infectious Diseases indica que a Praga de Justiniano, que matou milhões de pessoas no século VI, foi causado pela peste bubônica, mas por uma cepa diferente da bactéria que causou a Peste Negra cerca de 800 anos depois.
“A pesquisa é fascinante e assustadora, porque leva a novas questões que precisam ser exploradas, como, por exemplo: por que essa pandemia, que matou entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas, desapareceu?”, diz Hendrik Poinar, professor da Universidade McMaster, no Canadá.
Cientistas das universidades do Norte do Arizona, de Sydney e da McMaster isolaram fragmentos de DNA de um dente de 1,5 mil anos de uma vítima da doença na Bavária, Alemanha. Eles conseguiram extrair o mais antigo código genético de Yersinia pestis, a bactéria que causa a peste bubônica, e o comparou ao genoma de mais de 100 cepas.
O resultado indica que a Y. pestis Justiniana é de uma cepa diferente da Peste Negra e das bactérias que ainda hoje causam mortes pelo mundo. Uma terceira pandemia da doença ocorreu no século XIX e é possivelmente descendente da praga medieval.
“Sabemos que a bactéria Y. pestis tem pulado de roedores para humanos através da história e reservas da praga em roedores ainda existem hoje em dia em muitas partes do mundo. Se a Praga de Justiniano pôde surgir na população humana, causando uma pandemia de massa, e então desaparecer, isso sugere que pode ocorrer novamente. Felizmente, nós agora temos antibióticos que podem ser usados efetivamente, com menores chances de outra grande pandemia humana”, diz Dave Wagner, da Universidade do Norte do Arizona.
A pesquisa indica também que a cepa estudada teve origem na Ásia, e não na África, como outros estudos sugerem. Os cientistas acreditam que outros episódios podem ser também epidemias separadas, surgimentos independentes de cepas da bactéria.
“Nosso estudo levanta interessantes questões sobre por que um patógeno que teve tanto sucesso e era tão mortífero desapareceu. Uma possibilidade testável é a de que as populações humanas evoluíram para ficarem menos suscetíveis”, diz Holmes. “Outra possibilidade é a de que mudanças no clima ficaram menos convenientes para a bactéria da peste sobreviver no meio selvagem.”
(Foto: Cientista analizando dente de vitima da praga)