Com o “Snowfarming”, neve resiste ao verão e garante esqui e treinos no inverno, mesmo quando os primeiros flocos do ano insistem em não cair. Técnica gasta menos energia e água que canhões de neve artificial.
Não dá para passar batido pela montanha artificial que se forma na paisagem. São dez metros de altura e 25 metros de largura cobertos por uma grossa camada de isopor, que guarda por baixo um verdadeiro tesouro: 10 mil metros cúbicos de neve, protegidos com cuidado para o próximo inverno.
O método, chamado de Snowfarming, ou fazendas de neve, em uma tradução livre, permite a estocagem de grande quantidade de neve mesmo durante o verão. Aliás, armazenar o material tem sido um desafio também neste atual inverno alemão, marcado por temperaturas amenas e pela consequente escassa neve.
O princípio é simples. Basta amontoar muita neve, “embrulhá-la” bem e, no próximo inverno, espalhar a massa branquinha pela pista.
Neve atravessando o verão
A ideia de conservar neve mesmo durante o período de verão pode parecer absurda, mas isso é possível mesmo sem o uso de gigantescos refrigeradores, que consomem muita energia. O ingrediente mais importante dessa técnica é juntar muita neve artificial, que é produzida entre janeiro e fevereiro.
A neve produzida fica coberta por uma camada de material isolante – placas de isopor, serragem ou lascas de madeira. Sobre esta camada, por fim, é colocada uma cobertura que protege do vento e da luz. A embalagem térmica então está pronta para preservar a neve mesmo durante os meses mais quentes do ano.
Há anos a Finlândia estoca neve no início do ano para utilizá-la apenas em novembro – antes mesmo dos primeiros flocos de neve cairem – nas pistas de treinamento de esqui cross-country. Algumas áreas de esqui na Suíça e na Áustria fazem experimentos com o método.
Na Alemanha, as cidades de Ruhpolding, na Baviera, e Titisee-Neustadt, na Floresta Negra, em Baden Württenberg – ambas cenários importantes para competições esportivas de inverno – são conhecidas por seus depósitos de neve.
“Isso é interessante para todo lugar que sediar competições internacionais”, afirma Joachim Häfker, organizador dos eventos de saltos de esqui. Para garantir que as rampas de salto estarão branquinhas, ela é coberta de gelo artificial por meio do Snowfarming. Coletar o gelo natural daria muito mais trabalho.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Neve e Avalanches em Davos, na Suíça, descobriram que a serragem é o melhor material para conservar neve. A desvantagem, porém, é a dificuldade de separá-la totalmente na neve depois.
Por esse motivo, Häfker optou por não usar serragem. “Placas de isopor são muitos mais fáceis de manusear”, justifica. Segundo ele, é mais fácil distribuí-las pela gigantesca montanha e o método sai mais em conta, uma vez que as placas podem ser reutilizadas.
A ideia principal do Snowfarming é não aguardar apenas as temperaturas mais baixas para juntar neve, mas fazer esse trabalho com antecedência. “Neve realmente boa é produzida a partir de cinco graus negativos”, explica Häfker. Quanto mais frio, mais efetivo é o trabalho dos canhões de neve – eles consomem menos água e menos energia.
O Snowfarming é interessante também para o melhor desempenho de atletas de esportes de inverno. Antes, os biatletas alemães precisavam treinar na Escandinávia. Atualmente, as pistas de treino em Ruhpolding são cobertas de neve já em novembro. Assim, os profissionais podem treinar em casa.
Assim como os agricultores, os “produtores de neve” precisam cuidar do terreno o ano todo. E não é o calor o principal inimigo desta cultura, mas sim os ventos e as chuvas. Pequenas rajadas de água podem ser suficientes para destruir a cobertura. São formados então cones na neve. “A água devora a neve”, afirma Alois Reiter, da arena Chiemgau em Ruhpolding, um centro de treinamento de biatlo. No verão, ele controla diariamente se as superfícies ainda estão espessas.
As temperaturas mais altas, por outro lado, não fazem um efeito devastador. Quando o sol atinge as montanhas de neve, a água derretida evapora da superfície, que permanece fria. Assim, apenas em torno de 20% a 30% da neve vai embora.
Há anos, ativistas do meio ambiente criticam o excessivo uso de água e os altos gastos de energia na produção de neve artificial que, junto com a neve natural é a base do Snowfarming. O balanço ambiental, porém, pode ser melhor do que na clássica produção de neve por meio dos canhões de esqui. Com o Snowfarming as máquinas de neve só funcionam sob baixas e eficientes temperaturas, além de precisarem de menos água e energia.
O local dos depósitos de neve também deve ser considerado nesta equação. O ideal é que ela seja colocada sobre placas de cascalho, para que a vegetação não seja destruída. Importante para a proteção do meio ambiente é que não haja a abertura de grandes trilhas para o transporte. Em Titisee-Neustand und Ruhpolding, os caminhões percorrem apenas poucos metros para levar a neve para as pistas de treino ou de saltos.