Brasília — Em encontro com presidentes dos principais partidos do chamado Centrão na manhã desta quinta-feira, 4, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a intenção de criar uma espécie de conselho político para aproximar o governo com partidos e o Congresso Nacional. Prestes a completar cem dias de mandato, o presidente se reúne com dirigentes de 11 legendas para convidá-los a integrar a base de sustentação do governo no Congresso.
A estratégia inicial de Bolsonaro de usar as frentes parlamentares para conseguir apoio no Congresso fracassou e o presidente foi aconselhado a aceitar a distribuição de cargos, na volta da viagem a Israel, para aprovar a reforma da Previdência.
Durante as conversas desta manhã, Bolsonaro não pediu apoio formal, de acordo com fontes consultados pela reportagem. O presidente afirmou que o país precisa da ajuda de todos e avisou aos presidentes dos partidos que, caso eles não queiram fazer parte da base do governo, que pelo menos apoiassem as propostas prioritárias como a Previdência.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, explicou aos dirigentes partidários como funcionaria o conselho político. Seriam dois grupos que se reuniriam a cada 15 dias. O primeiro, formado por presidentes de partidos, o segundo por líderes do Congresso. Eles seriam recebidos ora pelo próprio presidente, ora por Lorenzoni.
A medida é uma reação à força demonstrada pelo Centrão nas últimas semanas. No vácuo da articulação política, o grupo – formado por siglas como DEM, PP, PR, PRB, PSD e Solidariedade que em alguns casos tem como aliados o MDB e o PSDB – se organizou e impôs derrotas ao governo no Congresso.
“O presidente fez um gesto. Não queremos cargos, queremos solução. Queremos ser recebidos por ministros e atendidos em nossas demandas”, afirmou o presidente do PRB, Marcos Pereira, o primeiro a se encontrar com Bolsonaro.
Na quarta-feira, dia 3, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que, se as adesões ao Planalto forem aceitas, a coalizão terá como contrapartida cargos no governo. Nos bastidores, porém, Bolsonaro já avisou que, mesmo cedendo, não existirá “porteira fechada” na Esplanada ou em qualquer repartição federal para nenhum partido.
“A partir do momento em que os partidos concordem com o que o governo pretende fazer, é óbvio que eles vão ter algum tipo de participação, seja em cargos nos Estados, algum ministério ou algo do gênero”, argumentou Mourão na quarta.
No encontro, o ministro da Casa Civil afirmou aos presidentes dos partidos que era o primeiro de uma série. “O diálogo está apenas começando”, disse Lorenzoni segundo um interlocutor que participou das reuniões do início da manhã.
Bolsonaro tem encontros separados, nesta quinta-feira, com os presidentes do DEM, PSDB, MDB, PP, PSD e PRB. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que comanda o PSDB, confirmou presença. As rodadas de conversa ocorrerão em duas etapas: na terça e quarta-feira, dias 9 e 10, Bolsonaro receberá dirigentes do PSL, PR, PROS, Podemos e Solidariedade. Até agora, apenas o PSL, seu partido, integra a base do governo no Congresso.