Entre as obras anunciadas para o Mundial de 2014, só estádios da Copa das Confederações cumpriram o calendário. Ainda assim com ressalvas. Nenhuma intervenção de mobilidade foi concluída.
A contar de hoje, falta um ano para o início do Mundial de 2014. Mas, das obras prometidas país afora, só os seis estádios onde haverá jogos da Copa das Confederações estão prontos
A um ano exato do início do Mundial no Brasil (a abertura será em 12 de junho de 2014), entre as obras prometidas país afora para a competição, as únicas já concluídas são os seis estádios onde haverá jogos da Copa das Confederações, evento considerado um ensaio geral para o grande evento do ano que vem. Das intervenções anunciadas para melhorar a mobilidade urbana e os aeroportos das 12 cidades-sede da Copa, nenhuma está pronta. A maioria teve prazos estendidos.
O Aeroporto Galeão-Tom Jobim, por exemplo, pode ser considerado um símbolo do atraso. Há dois meses, passageiros que precisam sair do Terminal 2 para conexões no Terminal 1, ou vice-versa, têm sido obrigados a contornar o aeroporto por fora, pois a passagem está bloqueada por tapumes. Apesar disso, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, que inspecionou as obras do aeroporto na manhã de ontem, diz que o Galeão, embora longe do ideal sonhado para 2014, “está preparado para a demanda da Copa das Confederações”. Segundo ele, uma passagem alternativa será aberta pela Infraero para que os usuários não precisem mais sair do aeroporto ao passar de um terminal para o outro.
As obras do Setor A, o de acesso ao corredor entre os dois terminais, devem ser concluídas “até setembro”, segundo a Infraero. As do B, até abril de 2014. As do C, só depois da Copa, em novembro de 2014. A diretoria da Anac já inspecionou os aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas), Confins (MG), Recife e Salvador. Hoje, as inspeções seguirão nos aeroportos das cidades onde haverá jogos da Copa das Confederações. Somadas, as obras nos aeroportos das cidades-sede vão custar mais de R$ 6,7 bilhões.
Confins é um dos que mais preocupam. Dados disponíveis no portal de obras da Copa mostram que o aeroporto mineiro corre risco até de não ficar pronto para o Mundial. De janeiro a abril, o terminal recebeu apenas 5,5% da verba prevista. Com R$ 217,7 milhões em recursos totais para 2013, a adequação do aeroporto, o quinto mais movimentado do país, é a principal obra da Infraero em termos financeiros. Porém, no primeiro quadrimestre, só R$ 11,9 milhões foram investidos.
Os problemas vão além dos aeroportos. Nem se fala mais no trem-bala Rio-São Paulo, por exemplo. O projeto dorme nas gavetas da burocracia de Brasília. No Rio, o chamado BRT Transbrasil não ficará pronto para a Copa. A licitação será aberta amanhã, e o prazo para conclusão será de 30 meses. Ou seja: só no primeiro semestre de 2016, dois anos depois da Copa e a poucos meses das Olimpíadas, o corredor expresso que ligará Deodoro ao Aeroporto Santos Dumont deverá estar pronto.
Ainda no Rio, os corredores Transcarioca (Barra-Galeão) e Transolímpico (Barra-Deodoro) precisam ficar prontos em dezembro. Pelo cronograma, a Linha 4 do metrô só será concluída em 2016. A desculpa oficial é a de que, no Rio, as intervenções para a Copa e para os Jogos de 2016 se misturam, e os prazos, também.
Belo Horizonte também pena com o atraso nas intervenções viárias para viabilizar o Transporte Rápido por Ônibus, o BRT. São três corredores. O mais adiantado tem 51% das obras concluídas. Apesar de vários atrasos, a prefeitura promete entregar a obra no fim do ano. Os primeiros testes, no entanto, serão feitos só no início de 2014. Em maio, uma estação do BRT teve de ser demolida por causa de um erro de cálculo.
Ainda em Belo Horizonte, as obras na Avenida Pedro II, umas principais da cidade, aparecem no portal da transparência com percentual de conclusão de 2%. A Via 710, que corta sete bairros, foi até retirada das obras da Copa por causa de adequações no projeto. Problemas nas desapropriações já levaram muitos casos à Justiça. Outro corredor importante, a Via 210, está com previsão de término até o fim do ano, apesar de faltarem 60% da obra. O sistema de gerenciamento eletrônico do trânsito está com 42% de percentual de conclusão. Com orçamento de R$ 234 milhões, o chamado Boulevard Arrudas, na região nordeste de Belo Horizonte, até foi liberado mês passado para circulação de veículos. Mas a obra é considerada inacabada no balanço oficial.
Em Manaus, onde nem o estádio está pronto (faltam mais de 30% das obras), a previsão é de problemas de mobilidade urbana durante a Copa. Um monotrilho que ligaria boa parte da cidade foi cancelado após irregularidades no edital e falhas nos projetos básicos. Isso numa cidade onde o transporte público já é ruim. Há a promessa de que o Aeroporto Brigadeiro Eduardo Gomes fique pronto até dezembro. Mas, por enquanto, é só uma promessa. A obra é orçada em R$ 394 milhões.
No Sul, há problemas nos projetos de mobilidade urbana em Porto Alegre. Muitas obras começaram tarde demais. A duplicação da Avenida Moab Caldas, orçada em R$ 156 milhões, considerada fundamental, só deve estar pronta em maio de 2014, às vésperas da Copa. A ampliação das pistas do Aeroporto Salgado Filho está em execução, com previsão de conclusão em dezembro, ao custo de R$ 228,3 milhões. Assim como a reforma dos terminais de passageiros, que ficaria pronta este mês, mas foi adiada para dezembro. Até lá, terá consumido R$ 345,8 milhões.
Corta para o Nordeste. Em Salvador, a ampliação do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, que vai custar R$ 45 milhões, deveria estar pronta este mês. Mas o prazo foi estendido para dezembro. Em Natal, obras importantes como a da Avenida Engenheiro Roberto Freire só ficarão prontas em maio de 2014. A conclusão do Aeroporto São Gonçalo do Amarante é prometida para novembro, ao custo de R$ 557 milhões.
Em Recife, a situação é pior. Se a Copa começasse hoje, o torcedor iria comer o pão que o diabo amassou para chegar à Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, a 22km da capital. Os acessos deixam a desejar. O metrô não dá conta, e o trânsito ficou congestionado nos dias de jogos-teste. A Estação Joana Bezerra, a principal para quem vai de metrô do Centro ou da Zona Sul (onde se concentra a imensa maioria dos hotéis), é, na verdade, um espanta-visitas: suja, com lixo nas calçadas, poluição sonora, escadas rolantes quebradas e sem banheiros.
A preparação de Pernambuco para o Mundial está custando mais de R$1,5 bilhão só em obras para melhorar a mobilidade. Desse total, R$ 700 milhões foram investidos em preparativos para a Copa das Confederações. Se não está bom agora, imagina na Copa.