Com inspiração em livro de Manoel de Barros e direção de José Regino, peça cria “quintal imaginário”, para crianças de 6 meses a 3 anos. Achadouros venceu o prêmio Sesc do Teatro Candango, na categoria de Melhor espetáculo Infantil.
Sacolas plásticas, gestos, brincadeiras, danças e canções à capela, o espetáculo Achadouros – Teatro para bebês está de volta para uma curta temporada na capital. Com entrada gratuita, de amanhã até domingo, às 11h e às 16h, na Caixa Cultural Brasília, o público de seis meses a 3 anos vai se aventurar em um “quintal imaginário”, num pequeno cercado de madeira com mais de 4 mil sacolas plásticas, ocupado pelas atrizes Caísa Tibúrcio e Nara Faria. Com direção de José Regino, a peça convida os espectadores mirins à reflexão sobre o início da primeira infância e a capacidade transformadora de cada um.
Inspirado no livro Memórias inventadas — para crianças, do poeta Manoel de Barros, Achadouros venceu o prêmio Sesc do Teatro Candango, em 2015, na categoria de Melhor espetáculo Infantil. Produção brasiliense, de Regino, Caísa e Nara, o espetáculo também participou da programação do Festival Internacional de Teatro para a Primeira Infância do Distrito Federal, integrou a Primavera do Teatro — Mostra para Infância e Juventude, em Brasília e o 5º Engatinhando Londrina (PR), da Mostra Espetacular – Mostra de Arte para Crianças em Curitiba (PR).
Com experiência em outros projetos teatrais para a primeira infância, como Panapanã e Alma de Peixe, José Regino explica que a peça tem um tipo de narrativa fora do convencional e faz com que o público mirim enxergue outras possibilidades de vivência. “Até os 3 anos, os bebês têm uma atenção diferente das crianças. Eles não buscam a autoafirmação, apenas contemplam as coisas, ou seja, estão mais abertos. Com esse tipo de narrativa, eles podem ampliar a capacidade de entender o mundo”, afirma.
Experiente com o público infantil, por ser a palhaça Macarroa há 18 anos, Nara conta que é um desafio participar de uma peça para bebês. “É um público especial, porque não sabemos qual será a reação deles, se vão fazer silêncio ou bater palma”, diz. Porém, a atriz revela ser uma experiência muito rica como intérprete. “Os bebês estão descobrindo o mundo, o olhar deles é curioso e criativo. Um objeto qualquer pode ser um universo para eles, são interpretações diferentes, de acordo com cada vivência”, ressalta.
Imersão
No processo de criação de Achadouros, as atrizes mergulharam no universo da primeira infância, visitando uma creche em Brasília para a montagem da peça. “Observamos, durante um mês, as descobertas, os desafios, as transformações e as relações dos bebês com outras pessoas. Por meio dessa experiência foi possível interagir e perceber o que fazíamos de certo ou errado para buscar referências ao espetáculo”, lembra Caísa.
Diferentemente de outras peças infantis, Achadouros aposta em cenário e figurinos de cores neutras. “Temos uma visão distorcida de que, para chamar atenção das crianças, é preciso exagero, com muita cor e muito barulho. Não há texto durante a apresentação, trabalhamos muito com o silêncio e a linguagem gestual”, conta Nara.
Percepções
Já com relação aos elementos cênicos usados no espetáculo, Nara explica que eles podem causar diferentes percepções. “A comunicação com o público, a partir dos gestos e de músicas originais à capela, faz com que cada bebê ou criança compreenda a narrativa, a partir de suas próprias referências e de sua criatividade. Isso acaba incitando o espectador a elaborar a própria história, fazendo com que ele não seja apenas um receptor de informações, mas também participe ativamente da peça”, diz.
No espetáculo também é trabalhado o conceito de “ressignificação” dos objetos do dia a dia, transformando as inúmeras sacolas plásticas em ar, água e até em bichos, como cachorros, gatos, borboletas, peixes. “Trazemos uma reflexão sobre a herança que vamos deixar para as gerações futuras, a questão sustentável está bem presente na peça”, comenta Caísa.
Acolhimento
Caísa e Nara ressaltam a importância da cultura voltada para a primeira infância. “Existem poucas produções voltadas para essa faixa etária, porque os bebês ou crianças muito pequenas são vistas como um incômodo. São raros os ambientes que os acolhem e isso acaba os afastando da vida cultural”, observa Nara. “Muita gente acha que os bebês não têm capacidade de entender esse tipo de atividade e isso é um erro. Desde cedo é preciso ter contato com a arte”, defende Caísa.
Mãe de Aline, 6 anos, Talitha Brinati, 32, levou a filha para assistir o espetáculo, pela primeira vez, em 2016, e gostou tanto que repetiu a dose no mesmo ano. “Já tinha levado ela a outras peças infantis, mas Aline nunca prestou atenção do começo ao fim, como essa (Achadouros)”, ressalta. A engenheira civil também ficou encantada com a peça e só não vai com a filha este ano por estarem viajando de férias. “Apesar de ser um espetáculo para bebês, é uma peça que todas as pessoas deveriam assistir, não importa a idade. As atrizes usam elementos tão simples, mas fazem coisas que não são óbvias, o que prende a atenção até o final”, conta a servidora pública.
Achadouros — Teatro para bebês
Quando: de 12 a 14 de janeiro, às 11h e às 16h
Onde: Caixa Cultural Brasília, Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3/4
Valor: gratuito (ingressos serão distribuídos na bilheteria 30 minutos antes da peça)
Capacidade: 50 pessoas
Duração: 30 minutos
Classificação indicativa: livre
Informações: 3206-9448 ou 3206-9449
Memórias Inventadas para crianças
Autor: Manual de Barros
Editora: Planeta
Páginas: 32
Preço: R$ 29,90
Por meio de poemas, Manuel de Barros convida crianças para embarcar nos ritos de passagem infantis, desde os momentos tristes aos alegres