O Aedes transgênico controla a população do parente selvagem, transmissor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela
Sorocaba – A soltura de Aedes aegypti geneticamente modificado reduziu em até 80%, em média, a exposição de moradores às doenças transmitidas pela forma selvagem do mosquito em áreas tratadas de Piracicaba, no interior de São Paulo.
No bairro Cecap/Eldorado, a redução de larvas viáveis para transmissão manteve-se em 81% durante todo o ano de 2016. Já no bairro São Judas, na região central, em seis meses de soltura do mosquito transgênico, a supressão de larvas selvagens foi de 78%.
O Aedes transgênico controla a população do parente selvagem, transmissor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Os resultados foram divulgados nesta quinta-feira, 30, pela prefeitura e pela empresa Oxitec, detentora da tecnologia. Nos dois casos, a comparação foi feita com área não tratada, que tinha índices semelhantes de infestação pelo mosquito, quando a soltura foi iniciada nas outras áreas.
Os dados mostram que no bairro Alvorada, que funcionou como testemunha do projeto, a infestação continuou alta.
De acordo com o diretor geral da Oxitec do Brasil, Jorge Espanha, no Cecap/Eldorado, o nível de supressão de larvas potencialmente transmissoras foi mantido mesmo com a redução de 59% na soltura do Aedes transgênico, em 2016, na comparação com 2015, quando o projeto foi iniciado.
“O índice demonstra que o tratamento é eficiente no controle da população selvagem do mosquito”, disse Espanha.
O secretário de Saúde de Piracicaba, Pedro Mello, informou que os resultados validam o projeto até agora e que o cronograma de soltura em outros bairros do centro será mantido. “Estamos percebendo que o projeto está fazendo diferença na vida dos moradores desses bairros.”
O Aedes transgênico, que a Oxitec registrou como “Aedes do bem”, é produzido em laboratório e são selecionados apenas os machos, que não picam e não transmitem doenças. Ao serem liberados no ambiente, eles procuram as fêmeas selvagens e geram descendentes que herdam um gene autolimitante, que faz com que morram antes de atingir a idade reprodutiva.
Um marcador fluorescente permite que esses descendentes sejam identificados no laboratório, facilitando o monitoramento e a avaliação da eficácia do programa.
Ativistas
No início do ano passado, ativistas e pesquisadores entraram com representação no Ministério Público de Piracicaba contra a expansão da soltura de mosquitos transgênicos na região central, alegando falta de comprovação de eficiência e segurança no uso de insetos geneticamente modificados.
Na época, a promotora Renata dos Santos Bastos não acatou o pedido de suspensão da soltura, alegando que os dados questionados já haviam sido objeto de um termo de compromisso entre o MP, a prefeitura e a empresa, e ainda levando em conta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) havia recomendado o uso da tecnologia ante o agravamento da epidemia de zika.
A tecnologia do Aedes transgênico foi liberada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e a Oxitec negocia projetos com outros municípios.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está elaborando regras para o registro dessa classe de tecnologias de controle de vetores. Após o desenvolvimento dessas regras, a Oxitec poderá requerer a comercialização do “Aedes do Bem”.