Uma dieta pobre pode aumentar o risco de uma pessoa ter diabetes tipo 2, independentemente da susceptibilidade genética a essa enfermidade, diz um estudo norte-americano. No artigo, os especialistas observaram que uma alimentação com baixo teor de nutrientes está associada a um aumento de 30% na chance de se desenvolver o distúrbio metabólico. A pesquisa foi publicada na edição de ontem da revista Plos One e reforça a importância de escolhas de vida saudáveis para prevenir o problema.
Os autores do estudo explicam que, nos últimos anos, uma série de fatores genéticos foi associada a um maior risco de um indivíduo desenvolver a diabetes tipo 2. “É possível agrupar milhares de variantes de DNA com impacto considerável na manifestação dessa doença. Temos visto diferentes formas de resistência à insulina, por exemplo, que estão relacionadas à genética, e que aumentam as chances de um paciente apresentar esse problema metabólico”, destacaram os pesquisadores, no artigo.
Os cientistas resolveram investigar a influência da genética associada a um fator ambiental também relacionado ao desenvolvimento da enfermidade: a alimentação. “Estudos anteriores mostraram que a adesão a um estilo de vida saudável está associada à redução do risco da diabetes tipo 2, mas não ficou claro se isso se mantém em relação a todos os perfis genéticos”, ressaltaram, no trabalho. Para decifrar a questão, os pesquisadores analisaram dados de três grandes estudos anteriores, feitos com informações médicas de 35.759 profissionais de saúde dos Estados Unidos, acompanhados por cerca de quatro anos. Os voluntários informaram constantemente o tipo de refeições que consumiam e passaram por exames periódicos, realizados durante a rotina de trabalho em hospitais.
Combate
Por meio das análises, a equipe constatou que, independentemente do risco genético dos participantes, uma dieta de baixa qualidade em comparação com refeições saudáveis, estava associada a um aumento de 30% no risco de sofrer com diabetes tipo 2. “Essa descoberta sugere que recomendações dietéticas saudáveis para a prevenção da doença podem ser implantadas na população em geral, pois as diferenciações genéticas não parecem modificar o resultado”, detalhou, em um comunicado à imprensa, Jordi Merino, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Os responsáveis pela análise também destacaram que o trabalho apresenta limitações, já que foram avaliados pacientes, em sua maioria, com ascendência europeia. Ainda assim, eles acreditam que os dados podem ser usados na área clínica e contribuir para o combate à doença. “Estudos recentes têm mostrado que, no futuro, provavelmente, vamos adotar a nutrição de precisão, uma dieta construída com base nas características de cada indivíduo, porém não temos dados muito claros em relação a esse tema. Nosso estudo mostra que, enquanto nos preparamos para esse cenário, é apropriado manter a recomendação padrão, de optar sempre por alimentos saudáveis para toda a população, pois os benefícios serão os mesmos”, ressaltou Merino.
A médica Érika Fernanda de Feria, endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, assinalou que as conclusões reforçam a importância de uma dieta equilibrada, já que ela também evita a obesidade, outro fator de risco para diabetes. “São diversos os elemento que levam uma pessoa a desenvolver esse problema de saúde. Temos a genética e também a condição socioeconômica. Com esses dados, observamos como uma dieta menos rica em nutrientes, algo que também já era conhecido como um fator de risco para a enfermidade, tem uma influência enorme para todos os indivíduos, independentemente do seu perfil genético”, detalhou a especialista. “A alimentação ruim é o que pode provocar problemas como a resistência à insulina, que vai desencadear a doença, além da obesidade, outro fator de risco. É por isso que também insistimos para que as pessoas adotem hábitos saudáveis, como os exercícios físicos, evitando, assim, o sedentarismo e esse acúmulo de peso”, acrescentou.
Para a endocrinologista, estudos semelhantes devem surgir no futuro. “Estamos evoluindo muito nessa área, principalmente com o uso de novos dados genéticos relacionados a enfermidades diversas, e todas essas informações vão ser usadas com o mesmo objetivo, que é evitar que esses problemas de saúde surjam, usando todas as ferramentas possíveis para isso”, frisou.
Fonte: Correio Braziliense