Nesta terça-feira, 14, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas diretrizes a respeito de como reduzir os riscos de desenvolver declínio cognitivo– condição que pode levar à demência. O relatório, baseado em décadas de pesquisas, revelou que sedentarismo, consumo excessivo de álcool, tabagismo e dieta desequilibrada estão entre os hábitos que aumentam significativamente os riscos de Alzheimer – doença neurodegenerativa que pertence ao espectro da demência.
Condições médicas como diabetes, hipertensão, obesidade e colesterol alto também desempenham papel no desenvolvimento do declínio cognitivo na vida adulta. “Enquanto algumas pessoas são desafortunadas e herdam uma combinação de genes que torna altamente provável que desenvolvam demência, muitas pessoas têm a oportunidade de reduzir substancialmente seus riscos vivendo um estilo de vida saudável”, disse Tara Spiers-Jones, do Instituto de Pesquisas em Demência do Reino Unido, à CNN.
A nova diretriz recomenda a prática de pelo menos 150 minutos de exercício moderado por semana, além de atividades de fortalecimento muscular. A entidade ainda incluiu nas orientações uma alimentação balanceada, com ingestão de 400 gramas de frutas e vegetais diariamente e redução do consumo de açúcar em 10% e o de gordura em 30%. Outra orientação é participar de atividades que estimulem o cérebro, como aprender um novo idioma, e evitar o isolamento social.
O relatório ainda aconselha evitar suplementos alimentares, como vitaminas do complexo B, antioxidantes, ômega-3 e ginkgo biloba, já que não existem evidências suficientes de que elas trazem benefícios de longo prazo.
Uma vida saudável
Há anos, pesquisadores do mundo inteiro têm se dedicado a compreender as diversas formas de demência, mas até hoje ainda não existe maneira de reverter ou deter os efeitos dessa condição degenerativa. Apesar disso, ainda é possível investir em prevenção – e, caso a doença já tenha se instalado, retardar seu avanço. Esses resultados podem ser alcançados através de um estilo de vida saudável.
Com base neste conhecimento, a OMS desenvolveu as novas diretrizes, cujas princípios básicos são praticar atividade física, abandonar o tabagismo, reduzir a ingestão do álcool e manter uma dieta equilibrada – com a recomendação específica da dieta mediterrânea, uma vez que diversos estudos a associaram à redução do risco de comprometimento cognitivo e Alzheimer. Apesar disso, a OMS alerta que apenas a prática comprometida alcança estes resultados, ou seja, aderir somente a algumas partes não interfere nos riscos.
A dieta mediterrânea – que tem estado entre as queridinhas nos últimos anos – é baseada na alta ingestão de vegetais, frutas, legumes, cereais, peixes e gordura monoinsaturada, como azeite de oliva, óleo de canola, abacate, nozes e amendoim. Também inclui o baixo consumo de gordura saturada, encontrada em produtos industrializados e de origem animal, como carne vermelha e laticínios. Também é permitida a ingestão leve ou moderada de álcool.
Condições médicas
O relatório salientou a importância de controlar rigorosamente condições médicas como obesidade ou excesso de peso, hipertensão, diabetes e dislipidemia (níveis de colesterol insalubres ou desequilibrados), já que a atitude pode ser uma medida em potencial na diminuição do risco de declínio cognitivo e demência. Especialistas em saúde mencionaram ainda que depressão e perda auditiva podem ser fatores de risco para a doença. Porém, até o momento, o tratamento dessas doenças ainda não mostrou indícios de alteração do desenvolvimento da doença.
A interação social também foi item citado pela OMS como medida que poderia prevenir o surgimento das diversas formas de demência, mas pesquisadores esclarecem que não há evidências suficientes que confirmem os benefícios.
Demência
De acordo com Alzheimer’s Association, pelo menos 44 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de demência – mais de mais de um milhão delas estão no Brasil. Além disso, 10 milhões de novos casos surgem anualmente – número que deve triplicar até 2050, segundo a OMS. Essa condição, que devasta a vida de pacientes e familiares, também apresenta altos custos econômicos, com a previsão de gasto de 2 trilhões de dólares por ano até 2030.
“A predisposição genética desempenha um papel importante no risco de demência e, embora não possamos mudar os genes que herdamos, seguir os passos descritos neste relatório ainda pode ajudar a acumular as probabilidades a nosso favor”, concluiu Carol Routledge, da Alzheimer Research UK, no Reino Unido, ao The Telegraph.