Em uma sociedade de consumo, voltada para a competição exacerbada e o individualismo egoísta, as normas de comportamento seguem, quase que invariavelmente, uma lógica de indiferença, apatia, mediocridade e intolerância. Lamentavelmente, muitos indivíduos são incapazes de acolher a diversidade que nos cerca e que engrandece nossa existência. Porém, a lucidez e a consciência crítica nos convidam a entender que a igualdade está fundamentada na aceitação das diferenças.
A princípio, o termo neurotípico denomina indivíduos que não manifestam alterações neurológicas, ao passo que os termos neuroatípico e neurodivergente referem se a pessoas com desenvolvimento neurológico diferente do padrão. Em contrapartida, a neurodiversidade é um conceito que inclui neurotípicos e neurodivergentes, razão pela qual podemos afirmar que todos nós, sem nenhuma exceção, somos neurodiversos. Portanto, as diferenças na função cerebral são naturais e não indicam incapacidade ou doença, razão pela qual o entendimento desses termos nos ajuda a combater a abominável discriminação de pessoas que possuem um funcionamento neurológico distinto.
Isto posto, resta evidente que a neurodiversidade abrange as variações naturais da função cerebral humana e reconhece as diferentes maneiras de pensar, aprender, agir, interagir, viver, conviver e processar informações. Afinal, as diferenças são naturais. Isto posto, os neurodivergentes assumem comportamentos que não são típicos da maioria das pessoas, ou seja, podem ter dificuldades de aprendizagem, ansiedade e neurodiferenças específicas que incluem Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Dislexia, Dispraxia, Epilepsia, Síndrome de Down, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e Bipolaridade.
Ao longo de nossas vidas encontramos pessoas neurodivergentes que trazem consigo uma riqueza imensurável de experiências que desafiam as normas estabelecidas. Elas possuem maneiras próprias e peculiares de pensar, aprender e processar informações, mas também podem ter dificuldades de aprendizagem ou convivência na medida em que apresentam comportamentos únicos que precisam ser aceitos, respeitados, acompanhados e acolhidos.
Por oportuno, convidamos o leitor do jornal O MUNICÍPIO para que imagine um dia comum, onde a rotina se desenrola em meio a inúmeros barulhos e estímulos. Para muitos, isso apenas faz parte do cotidiano, mas para uma pessoa com autismo cada som pode ser amplificado a ponto de causar incômodo ou até mesmo provocar sofrimento.
Por conseguinte, os desafios relacionados à discriminação, preconceito, e dificuldades de acesso a recursos essenciais precisam ser urgentemente superados por meio da atuação conjunta do poder público, das famílias, das instituições de ensino, das comunidades e da sociedade civil organizada como um todo.
Dessa forma, o melhor que cada um de nós pode oferecer aos que vivem a neurodivergência é o amor altruísta que, antes de tudo, deve ser entendido como um formidável convite à empatia, ao diálogo, à solidariedade, ao respeito às diferenças, ao acolhimento e à descoberta do outro. Nesse cenário, o amor brilha como um farol e a empatia torna-se espaço de compreensão, bondade, equilíbrio, paciência e persistência. Para tanto, precisamos aprender a ver o mundo através dos olhos dos neurodivergentes. Devemos perceber que a comunicação pode incluir um sorriso tímido (repleto de grandes significados) e um silêncio distraído (tão eloquente quanto mil palavras).
Esse exercício de paciência e escuta ativa poderá valorizar cada gesto e cada palavra em prol da construção de laços genuínos. Lembremo-nos de que, assim como todos nós, as pessoas neurodivergentes também têm suas vulnerabilidades. Podem sentir ansiedade em situações sociais, ter dificuldades em expressar emoções ou se perder em pensamentos intensos. Nesses instantes, o papel do amor é absolutamente imprescindível e surge na forma de abraços apertados, palavras de encorajamento ou simplesmente por meio da presença silenciosa de quem verdadeiramente se importa com o outro.
Enfim, o plantio das sementes da amorosidade, aceitação e respeito permitirá a colheita benfazeja do crescimento mútuo: essência de vida que nos humaniza e nos permite amar as pessoas como exatamente são.
Fonte: Redação Brasil 060