Empresa concordou em fazer manutenção emergencial gratuita ainda nesta quarta; sistema está fora do ar há, pelo menos, três dias. Manutenção contínua deve ser contratada até o fim do mês.
governo do Distrito Federal anunciou um acordo emergencial com a empresa Intersystems, nesta quarta-feira (10), para restabelecer o sistema eletrônico de prontuários da rede pública de saúde. Desde a última segunda (8), todos os hospitais, UPAs, laboratórios e postos de saúde do DF estão sem acesso a dados de pacientes, estoques e agendamentos de consultas.
Segundo a Secretaria de Saúde, o acordo prevê que a empresa criadora do sistema TrakCare comece a trabalhar ainda nesta quarta para restabelecer o sistema, sem custos. Até o fim do mês, o governo deve assinar um novo contrato para manutenção continuada do sistema, por um ano.
O governo diz que o acordo fechado prevê custo anual de R$ 4,98 milhões para esse contrato. O G1 procurou a empresa, e ainda aguardava confirmação do valor até o fechamento desta reportagem. Até esta terça (9), a proposta apresentada pela Intersystem tinha preço maior, de R$ 7,9 milhões.
O TrakCare reúne os dados dos 16 hospitais regionais e das 6 UPAs, além de 250 equipes do Saúde da Família, 57 laboratórios – incluindo o Laboratório Central –, 71 postos de saúde e 178 locais de estoque e farmácia. Ao todo, mais de 4 milhões de pacientes têm dados inseridos no sistema, segundo a fabricante – o governo fala em 2 milhões.
Sem manutenção
A falha dessa semana revelou a importância do sistema informatizado em toda a rede pública de saúde. O governo não tem um “plano B” para a inoperância do Trakcare e, mesmo assim, deixou o sistema sem manutenção por cinco meses.
Com o banco de dados fora do ar, os profissionais não conseguiram realizar nenhuma consulta eletiva (agendada previamente) nos últimos três dias, e tiveram que adiar todos os agendamentos. Mesmo os atendimentos emergenciais foram prejudicados – os dados foram anotados à mão e, em algum momento, terão de ser lançados individualmente no sistema virtual.
No Hospital Regional de Santa Maria, por exemplo, pacientes formaram uma longa fila em busca de atendimento nesta terça. Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que “não houve interrupção nos serviços de emergência” naquela unidade.
Também nesta terça, um aviso circulou entre os funcionários de hospitais informando que a Secretaria de Saúde estava “em processo de mudança” do sistema de prontuários. servidores que não quiseram se identificar. Questionada, a secretaria diz “não ter conhecimento” do assunto.
Segundo a Intersystems, o pagamento do serviço cessou em outubro do ano passado, e os técnicos pararam de trabalhar em dezembro. O último contrato de manutenção firmado pela Secretaria de Saúde com a fabricante previa o repasse de R$ 5,6 milhões anuais.
Em nota, o GDF disse que o contrato não tinha sido renovado porque a empresa pediu cifras muito altas, de R$ 30 milhões. A Intersystems contesta esse valor, e diz que revisou o contrato apenas pela inflação do período.
Problemas constantes
Na segunda, profissionais que atuam na rede pública de saúde disseram ao G1 que os contratempos com o sistema TrakCare não são um caso isolado. De acordo com os funcionários, que não quiseram ser identificados, eles estão enfrentando dificuldades com o programa há mais de uma semana.
“O paciente que recebe atendimento não tem garantia se seu prontuário será salvo”, apontou uma servidora. Ela diz ainda que algumas cirurgias foram canceladas, porque os anestesistas não conseguem acessar o registro com o histórico dos pacientes. No último fim de semana, as guias de atendimento foram feitas à mão.
Questionada, a Secretaria de Saúde não confirmou se o problema com o TrakCare é algo rotineiro. A pasta também não apresentou esclarecimentos sobre o cancelamento de cirurgias.